Dal Toso: Cor Unum e o encontro para coordenar ajuda à Síria


Cidade do Vaticano (RV) - Não somente organizar melhor os projetos concretizados pelos organismos de caridade e das dioceses empenhados na ajuda humanitária na Síria, no Iraque e nas crises médio-orientais em geral, mas também uma ocasião de encontro e de diálogo aberto.

Este é o objetivo da sessão de formação para o pessoal diocesano na Síria - que se ocupa da atividade caritativa - organizada pelo Pontifício Conselho Cor Unum, com a colaboração do Catholic Relief Service, da Ajuda à Igreja que Sofre e da Missio. O encontro - realizado nos dias passados em Beirute, no Líbano - contou com a presença de 11 Bispos e do Núncio Apostólico em Damasco, Dom Mario Zenari, além de representantes diocesanos e de numerosos institutos religiosos.

Uma ocasião também para tratar do empenho da Igreja Católica na região, visto que somente em 2015 seus organismos para lá destinaram mais de 150 milhões de dólares. O Secretário do Pontifício Conselho Cor Unum, Dom Giampetro Dal Toso, participante do encontro, falou aos microfones da Rádio Vaticano:

"Esta sessão de formação nasce de uma proposta surgida durante nossas reuniões de coordenação: o Cor Unum, há alguns anos, realiza anualmente uma reunião de coordenação entre os grandes protagonistas católicos que estão realizando ações humanitárias na Síria, no Iraque e nos países fronteiriços. No contexto destes encontros, foi solicitado pelas agências e organismos locais, a possibilidade de serem formados mais detalhadamente sobre a preparação, sobre a implementação e sobre a prestação de contas dos projetos. Portanto, uma ação muito técnica, mas que é necessária ser tratada, precisamente porque melhorar, é a qualidade das nossas intervenções e maior também é a possibilidade de se ter acesso aos fundos de financiamento. Gostaria de destacar que o primeiro grande sucesso desta iniciativa foi o fato, de que pela primeira vez, foram reunidas estas pessoas, as quais puderam conhecer-se e ter a possibilidade de, juntos, compartilhar as suas preocupações e os seus objetivos. Neste sentido, para nós, foi muito importante a adesão tão alta dos bispos, haviam tantos, 11. Esta ocasião de encontro e de partilha é realmente crucial, porque somente se enfrentados juntos, estes desafios podem ser resolvidos".

RV: Ouvindo os agentes envolvidos a campo, mas também os bispos, o Núncio Dom Mario Zenari, a que conclusões se chegou a respeito da Síria? 

"Evidentemente é uma situação desastrosa que nos surpreende a todos, e surpreende claramente também os bispos, o pessoal religioso e os leigos que estão trabalhando. A coisa mais importante seria encontrar o mais breve possível uma paz, uma reconciliação para este país que realmente foi devastado pela guerra. É óbvio que - enquanto não existir uma mesa redonda para se buscar uma solução para o conflito - a Igreja está empenhada como pode para aliviar a situação das pessoas. Os campos de trabalho são diversos. O primeiro é o de dar de comer: dos dados que temos, o primeiro grande esforço ainda é o de assegurar a sobrevivência, dando de comer e beber. E é um grande esforço que se está levando em frente com gêneros de primeira necessidade. Depois surgiram outros três setores que me parecem importantes. O primeiro: a educação, portanto, garantir a educação às crianças, porque está claro que com esta forte mobilidade interna e também externa, para as famílias é difícil mandar os filhos à escola. O segundo: é muito importante - e os bispos sublinharam isto - garantir os alugueis das casas nas áreas onde ainda se pode viver tranquilamente. Esta crise, esta guerra, provocou um forte empobrecimento e é importante - se quisermos que os cristãos permaneçam - ajudá-los muito, simplesmente para pagar o aluguel da casa. Terceiro: garantir um trabalho, porque evidentemente nesta situação muito volúvel é difícil encontrar ocupação. Portanto, seria oportuno individuar pequenas formas de trabalho - e já se está começando - que tornem-se uma fonte de renda".

RV: Existe algum projeto ou história que o tenha tocado mais fortemente?

"Fiquei muito tocado - além dos colóquios que tive com os bispos e com o pessoal religioso e das dioceses que trabalham no setor humanitário -  pelos encontros que tive em alguns Centros da Caritas Líbano: a Caritas Líbano está realizando um grande trabalho e não somente com os refugiados sírios, mas também com outras faixas da sociedade. Encontrei mulheres que, em trinta, quarenta, estão seguindo um curso de formação junto à Caritas Líbano: mulheres que fugiram do Iraque e da Síria. Quando perguntei a elas - "Vocês voltariam ao seu país quando a paz for restabelecida?” - para a minha surpresa a maior parte disse que não. Mas não por razões econômicas ou de segurança, mas pelo clima de liberdade que agora elas podem usufruir. E isto me faz pensar que o homem, no final da contas, busca isto: a liberdade de poder ser ele mesmo, de poder se expressar, de poder se locomover... Penso que temos um grande trabalho pela frente: o de criar um tecido social, de criar também instituições que garantam às pessoas a possibilidade de serem elas mesmas".

RV: Este curso de formação mostra a solicitude do Papa e da Santa Sé com Oriente Médio, pelos cristãos da região, pela população local. Como foi acolhido?

"Mais além daquilo que se faz com a ajuda em dinheiro, com a ajuda por outros meios, o que realmente é apreciado é o encontro pessoal, o fato de que exista um interesse pessoal e que exista também um interesse concreto em ir de encontro às necessidades desta Igreja. Devo também dizer que um aspecto que não deve ser negligenciado é o do testemunho: não se trata somente de fazer o bem, mas em muitos casos esta ação está se tornando um grande testemunho de Cristo, do fato de que a Igreja Católica ajuda a todos, sem distinção, e pretende construir pontes, ir de encontro ao outro, para além de sua pertença religiosa, cultural ou social. E isto, no final das contas, é o que está no coração do Papa Francisco".

RV: Que balanço se poderia fazer ao final desta sessão de formação?

"Foi uma iniciativa extraordinária,  também pela unicidade do momento. Hoje, temos os dados da ONU que nos revelam que nestes cinco anos de guerra morreram mais de 400 mil pessoas e que na Síria e no Iraque existem 21 milhões de pessoas em risco. Portanto, é realmente uma situação trágica, à qual quisemos dar uma resposta - no nosso pouco - com este seminário. É a primeira vez que, junto a outros três organismo - o Catholic Relief Services, a Ajuda à Igreja que Sofre e a Missio - o Pontifício Conselho Cor Unum organiza uma sessão de formação deste tipo. Isto tem a ver com as iniciativas que estamos levando em frente na área. A próxima será em 29 de setembro próximo, quando teremos uma nova reunião de coordenação para todos os protagonistas que estão trabalhando nestes países em nome da Igreja Católica".

(JE/GA)








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