A eclesiologia no Brasil na época do Concílio


Cidade do Vaticano (RV) - No nosso espaço Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a tratar da Constituição Dogmática Lumen gentium, abordando no programa de hoje a Eclesiologia no Brasil na época do Concílio.

No programa passado, sempre no contexto da Lumen gentium, trouxemos a reflexão sobre a Igreja como corpo e esposa de Cristo. Na edição de hoje deste nosso espaço dedicado ao Concílio Vaticano II, Padre Gerson Schmidt nos fala sobre a Eclesiologia no Brasil na época do Concílio:

"O primeiro documento conciliar aprovado foi sobre a Igreja, o documento Dogmático Lumen gentium, que fala da natureza e missão da Igreja. Nessa memória que fazemos dos 50 anos de concílio, convém lembrar aqui um momento histórico vivido no Brasil, nos anos 60, onde se fomentava já na época uma eclesiologia de comunhão e participação, que depois fica bem mais claro, sobretudo com o Documento de Puebla, Conferência Latino-americana, que tinha o objetivo, junto com as outras conferências, de aplicar o Concílio para a América Latina.

O concílio aconteceu de 1962 a 1965. E já em 1961, atentos, aqui no Brasil, três padres responsáveis pela Caritas Brasileira idealizaram uma campanha para arrecadar fundos para as atividades sociais. A história da Campanha da Fraternidade teve origem alguns anos antes do início do Concílio Ecumênico Vaticano II, quando esse pequeno grupo de padres recém-ordenados, sob a coordenação de Dom Eugenio Sales, reunia-se em Natal, cada mês, para rezar e refletir sobre a Igreja e a Pastoral. Vemos que o Concilio Vaticano II não caiu pronto, mas era fomentado já por essas iniciativas locais. Esse atividade em Natal-RN foi chamada de “Campanha da Fraternidade”, pela primeira vez, e realizada na quaresma de 1962, ou seja, no ano que se iniciava, em Roma, o Concílio Vaticano II. No ano seguinte, em 1963, 16 Dioceses do Nordeste se uniram e realizaram a campanha. Uma iniciativa regional do Nordeste. Portanto, a Campanha da Fraternidade no Brasil surgiu durante o desenvolvimento do Concílio Vaticano II.

A Campanha da Fraternidade, posteriormente assumida em nível nacional pela CNBB, foi no ano de 1964. Os temas da Campanha da Fraternidade, inicialmente, contemplaram mais a vida interna da Igreja – pululavam as ideias do Concilio e vice-versa. Ao longo de sua história, a Campanhas da Fraternidade teve três fases. A primeira delas, de 1964 a 1972, foi centrada nas questões da própria Igreja. A segunda fase, de 1973 a 1984, abordou de forma ampla as questões sociais do Brasil. A partir de 1985 começou a terceira fase, quando passaram a ser abordadas as questões sociais de forma mais específica. É ao menos curioso lembrar que enquanto no Vaticano se elaborava e se cozinhava a Lumen gentium, a Igreja no Brasil fazia sua primeira Campanha da Fraternidade com o seguinte tema: “Igreja em Renovação” e lema: “Lembre-se: você também é Igreja”. Foi igualmente curioso tema e lema da Campanha da Fraternidade de 1965, ainda atualíssimo: Tema: “Paróquia em Renovação” e lema: “Faça de sua paróquia uma comunidade de fé, culto e amor”. Em 65, ano do termino do concílio, aqui no Brasil se falava já em Paróquia em Renovação. Hoje o termo que é usado: Reprogramação da Paróquia, decididamente missionária. Já era então em 65 escutado o eco do Concílio Vaticano II, em pleno andamento em Roma, que invertia a pirâmide, definindo a Igreja como todo o Povo de Deus e não somente a hierarquia eclesiástica.

Feito esse resgato histórico, quero ainda atualizar aqui uma importante carta dirigida pela Papa Francisco ao Cardeal Marc Ouellet, Presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina (CAL), onde recorda alguns trechos da Lumen gentium e diz que “a Igreja não é uma elite de sacerdotes, consagrados, bispos, mas que todos formamos o Santo Povo fiel de Deus”. Nessa carta, datada de 19 de março deste ano, o Papa recorda o valor do Laicato e combate o clericalismo na América Latina.

Lembra a imagem da Igreja como Povo de Deus, do documento conciliar. E diz o Papa Francisco: “É precisamente desta imagem que gostaria de começar a nossa reflexão sobre a atividade pública dos leigos no nosso contexto latino-americano. Evocar o Santo Povo fiel de Deus é evocar o horizonte para o qual somos convidados a olhar e sobre o qual refletir. É para o Santo Povo fiel de Deus que como pastores somos continuamente convidados a olhar, proteger, acompanhar, apoiar e servir. Um pai não se compreende a si mesmo sem os seus filhos. Pode ser um ótimo trabalhador, profissional, marido, amigo, mas o que o torna pai tem um rosto: são os seus filhos. O mesmo acontece a nós, somos pastores. Um pastor não se compreende sem um rebanho, que está chamado a servir. O pastor é pastor de um povo, e o povo deve ser servido a partir de dentro. Muitas vezes vamos à frente abrindo caminho, outras voltamos para que ninguém permaneça atrás, e não poucas vezes estamos no meio para ouvir bem o palpitar do povo”. Deixo esse eco precioso da Palavra do Papa".








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