Use o cérebro e não drogas


Roma (RV) – Celebra-se este 26 de junho o Dia Internacional contra o consumo e o tráfico ilícito de drogas, instituído em 1987 pela Assembleia Geral da ONU com o objetivo de sensibilizar os jovens para o perigo do consumo destas substâncias, oferece-lhes  instrumentos adequados para evitar o consumo e superar as consequências.

De fato, cerca de 5% da população adulta - 250 milhões de pessoas entre os 15 e os 64 anos – fez uso de pelo menos uma droga em 2014, segundo revela o último relatório sobre drogas publicado pelo Escritório das Nações Unidas contra a Droga e o Crime (UNDOC).

A Rádio Vaticano entrevistou o médico e responsável terapêutico pela Comunidade italiana de ‘San Patrignano’, que acolhe atualmente cerca de 1.260 pessoas em processo de recuperação:

“O que é mais importante é reafirmar princípios fundamentais: que a droga faz mal e que droga leve não existe. Nós gostaríamos que o raciocínio fosse voltado para a prevenção do uso das substâncias em geral e à evidência científica que demonstra de que estas substâncias são todas muito prejudiciais. No momento em que uma substância é liberada, legalizada, é claro que um jovem  diz: “Se é normal, se é legal, se é possível adquiri-la, então não faz tão mal assim”. O que nós tentamos explicar aos nossos jovens que vêm para a comunidade, mas também nas campanhas de prevenção que fazemos nas escolas, é que além do fato de que a droga faz mal, é equivocado o conceito de querer mudar a própria cabeça para gostar mais de si, para ser menos tímido, ser mais desenvolto na sociedade. Porque está claro, de fato, que se alguém aceita usar alguma coisa, para vencer as normais dificuldades que qualquer adolescente encontra, se alguém aceita este compromisso com a própria consciência, assim como entra a cannabis, depois de seis meses entra a “smart drug” ou a droga sintética, e depois de dois anos talvez a cocaína, a heroína. A coisa revolucionária para um jovem é usar o próprio cérebro, sem poluí-lo com substâncias. O que deve gratificar a pessoa é conseguir vencer o próprio medo, as dificuldades, conseguir superar tudo aquilo que  existe na vida de uma pessoa, especialmente de um adolescente, com as próprias forças, com as suas capacidades, com o seu esforço e não com a fuga da droga”.

RV: Qual a importância da prevenção e da informação?

“A informação, infelizmente, não é muito importante. Sabemos já há anos que fazer um discurso em que é simplesmente explicado o efeito das drogas, os danos das drogas, não é suficiente, mesmo porque chateia: o jovem vê o médico que vai falar a ele, ou o ex-drogado...Há diversos anos nós estamos fazendo uma campanha em um formato muito diferente. Criamos espetáculos teatrais com diretores profissionais, nos quais não se fala da experiência da droga, mas se fala daquilo que veio antes da droga. Conta-se a história “normal” da pessoa – não de quando se drogava, mas dos problemas que encontrava antes de começar a se drogar – de modo que, a nível emotivo, os estudantes se identifiquem de maneira emocional forte com a pessoa e não com o drogado, mas com aquele que depois se tornará o drogado, e portanto, consigam perceber as causas que levaram este jovem inicialmente a experimentar e depois a tornar-se dependente da substância. É uma informação que joga com a antecipação. O importante é que exista um envolvimento emotivo”.

RV: Qual é a recuperação efetiva de uma pessoa? Como se deixa de usar a droga?

“É a própria pessoa que deve deixar de usar a droga, a partir do momento em que saboreia formas de gratificação mais elevadas. A droga te dá uma gratificação química imediata, que não está ligada a nenhum esforço da tua parte, é gratuita. Motivo pelo qual não existem mais prazeres, efeitos, interesses, nada. O nosso itinerário, e acredito que das comunidades em geral, é o de ensinar, educar uma pessoa a experimentar, saborear e usufruir níveis de gratificação, pouco a pouco, sempre mais profundos. Depois existem as gratificações que dizem respeito àquelas em que se começa a sentir prazer por algo que se faz não para si mesmo, mas por outra pessoa: é o nível de amadurecimento mais elevado. Quando alguém descobre o quanto isto é bonito, na nossa opinião, o seu percurso atingiu realmente a fase mais elevada”.

RV: Qual é a sua gratificação trabalhando  na Comunidade de ‘San Patrignano’?

“Quando vou à Missa, me dou conta que o que me agrada é olhar os rostos dos outros jovens que estão na missa na nossa Igreja e estão muito concentrados. Eu imagino que naquele momento estejam pensando em algo de realmente muito profundo. Aquilo que, portanto, me dá satisfação, é ver as pessoas que a cada dia buscam ser pessoas melhores. O nosso sacerdote faz homilias que, na minha opinião, são realmente muito terapêuticas também para um percurso de recuperação da droga. As duas coisas se fundem, não são distintas”. (JE/VO)








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