Papa recebe Graziano: encontro de "prestação de contas"


Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco recebeu na manhã desta quinta-feira, (23/06), no Vaticano, o Diretor-Geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), José Graziano da Silva. 

“Prestação de contas”, assim Graziano definiu o encontro aos microfones da Rádio Vaticano ao relatar os temas abordados durante as conversas.

"Fundamentalmente  eu fiz ao Papa uma 'prestação de contas' dos trabalhos conjuntos que a FAO tem feito com a Santa Sé. Basicamente dois grandes tópicos: a relação entre paz e migração, e a segurança alimentar.

A FAO tem trabalhado muito o tema da relação entre conflito e fome. Constatamos uma forte correlação nos países onde tem guerra civil, conflitos armados, um aumento da fome e da insegurança alimentar de modo geral.

Só começa a melhorar quando se consegue a paz. De modo que a paz é uma condição para a segurança alimentar mas também a segurança alimentar é uma condição para manter a paz"

Colômbia e República Centro-Africana

"Eu fui basicamente apresentar o que estamos fazendo em dois países que são muito caros ao Papa. Um é a Colômbia. A FAO está envolvida no processo da promoção do dialogo e da negociação cuidando das áreas rurais que são basicamente a origem do conflito.

Da mesma maneira, estamos trabalhando na República Centro-Africana. O presidente, após de estar com o Papa em abril, veio à FAO pedir ajuda para que a FAO implante um programa que nós chamamos desarme, mobilização e reabilitação.

Trata-se de encontrar oportunidades de trabalho para os jovens que deixam as milícias, para poderem voltar a produzir na agricultura. A República Centro-Africana é um país essencialmente agrícola; mais de dois terços da população é rural. De modo que as oportunidades, principalmente para os jovens, só são possíveis de encontrar numa agricultura desenvolvida e é isso que estamos fazendo".

Migração

"Apresentei também uma propostas que o Papa considerou uma ideia inovadora de tratar o tema da migração no Mediterrâneo. Eu fui propor ao Papa uma iniciativa junto com outras agências da ONU, de construir um tipo de borda no litoral do Mediterrâneo, de pontos de apoio para estes jovens que querem migrar.

Seria basicamente um conjunto de hospedarias que nos permitissem dar alguma assistência médica, obviamente distribuir comida, provisão mínima para eles, e também dar algum tipo de capacitação, treinamento, e tentar convencê-los que há oportunidades de trabalho nos seus países, uma vez cessado o conflito. Também vamos assistir os pescadores deste litoral do Mediterrâneo para prestarem os primeiros socorros, a primeira ajuda no caso de identificar esses botes, esses pequenas embarcações que tentam essa travessia pelo Mediterrâneo".

Mudanças Climáticas

"O segundo ponto que levei ao Papa foi o tema do impacto que está fazendo a mudança climática, em especial o El Niño, sobre a segurança alimentar. Resumidamente, o El Niño está destruindo ou destruiu grande parte do progresso que a gente havia feito nos países mais impactados, que inclui América Central, Etiópia, países do sudeste da África.

Agora, em sequência do El Niño, que está acabando no final de julho, a previsão é que em agosto ressurja La Niña que faz exatamente o inverso: onde teve seca, vai ter inundação.

Essa é a mensagem: de alerta aos países. E o que os países podem fazer para não estar sempre agindo como emergência. Para agir preventivamente e evitar situações de calamidade como a gente viu no caso do El Niño".

Retrocesso na América Latina

"O Papa manifestou uma preocupação especial com a crise que enfrenta a América Latina. Não é só o Brasil. O Brasil talvez seja a cara mais visível desta crise. Mas, em geral, um retrocesso na América Latina. O esgotamento do ciclo das commodities primarias da exportação levou a uma crise generalizada na região.

A região parou de crescer e para uma região como América Latina parar de crescer, significa não criar empregos, significa não absorver os jovens que entram todos os anos no mercado de trabalho e significa aumentar a pobreza, a marginalidade, a violência, tudo o que nós conhecemos durante décadas e que, nos últimos 15 anos, havíamos conseguido superar a muito custo, com duras penas.

Isso, em grande parte, também se deve a uma visão dos governos que vão ganhando as eleições na América Latina de que não é mais necessário manter estes programas.

O Papa enfatizou muito isso, que essa é uma visão equivocada: deixar ao mercado administrar o tema da miséria, da pobreza, é condenar os pobres a exclusão definitiva. A FAO partilha desta visão do Papa, nós achamos que a segurança alimentar é um tema de Estado e deve ser uma preocupação permanente dos governantes".

Encontros anteriores

O Pontífice e Graziano já se encontraram algumas vezes, seja em audiências no Vaticano, seja na sede da FAO, em Roma, quando Francisco discursou aos participantes da 2ª Conferência Internacional sobre Nutrição, em novembro de 2014.

Já em outubro passado, a Missão da Santa Sé junto à FAO promoveu um debate sobre a Encíclica Laudato si. Naquela ocasião, José Graziano da Silva falou sobre impacto do documento para as decisões sobre o desenvolvimento sustentável. E recordou a repercussão do discurso do Papa Francisco nas Nações Unidas em Nova Iorque.

(bf/rb)








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