Decisões do Concílio serão "vinculantes", diz porta-voz do Patriarcado Ecumênico


Atenas (RV) - O Concílio Pan-Ortodoxo foi aberto em Chania, na Ilha de Creta, com uma Divina Liturgia no último domingo, Festa de Pentecostes segundo o Calendário Juliano. O encontro é histórico, pois há séculos as Igrejas Ortodoxas não se reuniam para tratar dos problemas e preocupações comuns.

‘Conciliaridade’ faz parte do DNA das Igrejas Ortodoxas

De fato, um Concílio reunindo dez Igrejas Ortodoxas é único na história, com a preparação tendo sido iniciada há mais de sessenta anos. "Foi uma preparação muito longa justamente pela importância da ‘conciliaridade’ nas Igrejas ortodoxas - ", afirmou o porta-voz do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, Pe. John Chryssavgis - porque nós acreditamos que a ‘conciliaridade’ não é somente um luxo ou uma forma de encontro como outros, mas faz parte da identidade das Igrejas Ortodoxas, de seu DNA".

Ausência de quatro Igrejas

Perguntado pela Revista "Il Regno" sobre o porquê da ausência de quatro Igrejas no evento, o religioso disse respeitar a decisão e que somente poderia responder às motivações oficiais apresentadas, afirmando "não serem suficientes para não participar", "pois todas as razões apresentadas poderiam ter sido enfrentadas nesta sede".

"A Geórgia - acrescentou ele - não quer os matrimônios mistos e por esta razão não veio. Antioquia os quer e por esta razão não veio. Ou a questão do calendário: Moscou e a Bulgária disseram que não queriam discutir o calendário, Antioquia disse que queria discuti-lo. As Igrejas que estão presentes aqui expressaram a vontade de enfrentar os problemas aqui e não em outro lugar".

Ecumenismo

Ao tratar do ecumenismo, observou ser este um "fenômeno recente". "Durante este 60 anos, o Patriarcado Ecumênico assumiu um papel de liderança no movimento ecumênico - explicou. E sabemos que o Patriarca Bartolomeu tem uma amizade muito estreita com o Papa Francisco, e antes dele com o Papa Bento e João Paulo II. Esta relação existe a nível de diálogo, a nível prático e a nível de amizade".

"Mas nem todas as Igrejas estão no mesmo ponto", ponderou, citando as Igrejas da Geórgia e Bulgária que não têm o mesmo tipo de relação com a Igreja Católica romana ou com a Comunhão anglicana. "A Igreja russa - observou - recentemente viveu um esplêndido encontro entre o Patriarca Kirill e o Papa Francisco, mas a nível dos fieis encontra mais resistências, mais dificuldades".

Concílio pode criar linhas-guias

O porta-voz do Patriarcado Ecumênico cita a criação da Assembleia do Conselho Ecumênico das Igrejas em 1948 e o encontro entre Paulo VI e o Patriarca Atenágoras para explicar o diferente compasso existente no campo ecumênico entre as diferentes Igrejas Ortodoxas. "Portanto - reconhece - o problema é que não nos encontramos entre nós para falarmos sobre isto". Neste sentido, "o Concílio poderia levar a uma forma de proximidade", "criar linhas guias entre as Igrejas", visto que Igrejas como da Albânia, Romênia, Alexandria, Grécia "são abertas ao diálogo e às relações, poderiam falar, tranquilizar e contribuir para estabelecer uma direção comum".

Maior frequência dos Concílios

Nos debates surgidos durante as sessões do Concílio, os presentes defenderam a necessidade de se realizar encontros mais frequentes entre as Igrejas que compõe a ortodoxia. "O objetivo deste encontro - afirma Padre John Chryssavgis - é fazer com que o Concílio seja um evento "mais normal" para a vida das Igrejas Ortodoxas", para tratar, por exemplo "de nossos problemas internos, a bioética, a missão". Acredito - reiterou "que as pessoas considerem este como o início de um processo que se tornará pouco a pouco natural para as Igrejas Ortodoxas. Este foi um primeiro passo, incerto e prudente como o de uma criança que inicia a caminhar, mas depois que consegue, sorri, pensando que foi belíssimo".

A decisão para a realização de um Concílio Pan-Ortodoxo foi tomada conjuntamente entre as 14 Igrejas em janeiro passado. A não participação de quatro delas, levantou a dúvida se as decisões tomadas seriam vinculantes também às Igrejas não-participantes.

Decisões serão vinculantes

A este respeito, Padre John Chryssavgis falou unicamente em nome do Patriarcado Ecumênico, afirmando que "as decisões serão vinculantes, mesmo que uma Igreja não esteja presente, por sua escolha". Para ilustrar, citou o Concílio de 1872, que condenou o nacionalismo religioso, o "filetismo", como uma heresia. "A Igreja russa não estava, e todavia, foi sem dúvida vinculante e acolhido como tal". (JE)








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