Papa na Vila Nazaré: A gratuidade é a linguagem de Deus


Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco refletiu sobre vários temas com a Comunidade da Vila Nazaré que o pontífice visitou no último sábado (18/06), por ocasião do 70º aniversário de fundação dessa estrutura.
 
A Vila Nazaré foi criada em 1946 para acolher órfãos e filhos de famílias numerosoas e hoje hospeda estudantes com situação econômica precária. Depois de rezar com os presentes na capela da estrutura, o Santo Padre respondeu espontaneamente a sete perguntas.
  
Antes, porém, os sorrisos e os abraços das crianças. Depois, um aplauso longo e o diálogo com a comunidade de Vila Nazaré caracterizaram a tarde de sábado do Papa.
 
Sacolejar

Francisco falou sobre o valor de uma sacolejada que muitos jovens procuram: “A sacolejada é um testemunho cotidiano bonito. Somos homens e mulheres parados na vida. Como podemos despertar a grandeza e a coragem de escolhas grandes, de impulso do coração para enfrentar desafios educacionais e afetivos? Quem não arrisca, não caminha. Mas, se eu erro? Bendito seja Deus! Você vai errar mais se ficar parado ou parada. Este é o erro, o erro feio, o fechamento. Arriscar! É muito triste ver vidas paradas. É muito triste ver pessoas que parecem mais múmias de museu que seres vivos.”

Martírio, mistério da fé

A coragem da fé autêntica e do testemunho crível do Cristo Ressuscitado mostrados pelos cristãos egípcios coptas, degolados na Líbia, foram indicados como exemplo pelo Papa:
 
“Eu não gosto e quero dizer claramente, quando se fala de genocídio de cristãos, por exemplo no Oriente Médio. Isso é um reducionismo. A verdade é uma perseguição que leva os cristãos à fidelidade, à coerência na própria fé. Não façamos um reducionismo sociológico daquilo que é um mistério da fé: o martírio.”
 
“O martírio de sangue não é a única maneira de testemunhar Cristo”, disse o Santo Padre. Existe o martírio silencioso de todos os dias, como o martírio da honestidade num mundo que se tornou um “paraíso de subornos”, ou o “martírio do silêncio diante da tentação das fofocas”:
 
“Existe o martírio de todos os dias, o martírio da honestidade, o martírio da paciência. O martírio da paciência na educação dos filhos; o martírio da fidelidade ao amor.”

Crise de fé
 
“A coerência cristã é reconhecer-se pecador, curado por Cristo ou em processo de cura: é o contrário do querer se aparecer e pensar que é perfeito”, disse Francisco. Nesse sentido, o Papa admitiu ter sentido quando era jovem e de sentir ainda hoje, dúvida e desânimo na fé:
 
“Um cristão que não tenha sentido isso, algumas vezes, que a fé não tenha entrado em crise, lhe falta alguma coisa. É um cristão que se contenta com um pouco de mundanidade e prossegue assim na vida.”

Gratuidade, linguagem de Deus

"A gratuidade é a linguagem de Deus. Somos chamados a aprender essa linguagem num mundo dominado pela lógica utilitarista do olho por olho.” O individualismo e o hedonismo causam injustiças humanas graves: 

“Hoje, devemos fazer tanto esforço para distinguir os santos daqueles que se maquilam para aparecer como santos! Tantos cristãos maquilados que não são cristãos, porque não mostram gratuidade. Vivem de outra forma.”

Cultura do ódio

O Papa denunciou o trabalho escravo produzido por uma economia que hoje mata, colocando no centro o deus dinheiro. A injustiça social é imoral:
 
“Causa-me indignação, me faz mal, quando, por exemplo, como acontece atualmente, vão batizar uma criança e dizem ao padrinho: Não é casado na Igreja? Não pode ser padrinho. Não, porque o matrimõnio, casar na Igreja é importante”. Porém, apresentam como padrinho um trapaceiro, um traficante de crianças. Mas é um bom católico, hein? Ajuda a Igreja! Esse pode ser padrinho! Nós invertemos os valores”!

Acolhimento

Seremos chamados a prestar conta de como usamos os talentos, dons recebidos por Deus. Um dos talentos maiores é o acolhimento numa civilização de portas fechadas. “O acolhimento é a porta da estrada cristã”, disse o Papa.
“Uma Igreja de portas fechadas significa que aquela comunidade cristã tem o coração fechado, é fechada em si mesma. Devemos retomar o sentido do acolhimento.”

Melhor não se casar, se não se reconhece o mistério sacramental do matrimônio

Sobre o valor do compromisso “para sempre” dos casais cristãos, Francisco observou como na cultura atual do provisório, muitas vezes se ignora a importância da indissolubilidade do matrimônio. A Igreja deve trabalhar muito na preparação dos noivos para que não seja vivida somente como um fato social:

“É melhor não se casar, não receber o sacramento se você não tem certeza do fato de que ali existe um mistério sacramental, existe o abraço de Cristo com a Igreja, e se não está bem preparado.”

Carinho, linguagem sagrada dos casais cristãos

O Papa deu um conselho aos casais: não encerrem o dia com uma briga: “Nunca se esqueçam de se fazerem um carinho. A carícia é uma das linguagesns mais sagradas no matrimônio. O carinho: te amo, te quero bem! Casais capazes de se acariciar, de se desejarem. Acredito que com isso será possível manter a força do sacramento, porque o Senhor também acaricia com ternura a sua esposa, a Igreja.” (MJ)


 

 

 

 

 

 








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