Concílio Vaticano II e Ano da Misericórdia. Qual a relação?


Cidade do Vaticano (RV) - Ano da Misericórdia e Concílio Vaticano II. Este é o tema da edição de hoje do nosso Espaço Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II.

O amor e unidade, dois sinais concretos presentes nas comunidades cristãs que dão ao mundo um testemunho forte da Igreja como sacramento de salvação, foi o tema do nosso programa passado. Na edição do programa de hoje, Padre Gerson Schmidt contextualiza o Ano da Misericórdia convocado pelo Papa Francisco no âmbito das comemorações dos cinquenta anos de conclusão do Concílio Vaticano II:

"Nesse espaço da memória dos 50 anos do Concílio Vaticano II, queremos contextualizar esse Ano da Misericórdia, que estamos celebrando. É justamente dentro das comemorações do cinquentenário do Concílio, que motivou o papa Francisco a decretar o Ano Santo Jubilar, a abrir as portas da graça, pois, há 50 anos atrás, igualmente os padres conciliares abriram também uma porta de diálogo com o mundo, como foi a intenção de São João XXIII, quando da convocação do concilio, querendo que na Igreja se abrisse uma janela para que entrasse uma brisa, um ar fresco, um sopro novo do Espírito Santo. E não temos dúvida que, por meio do Concílio, isso de fato aconteceu. O então novo papa, que era visto inicialmente como uma figura de transição, surpreendeu o mundo ao anunciar em 25 de janeiro de 1959 a celebração do Concílio Vaticano II. Na assembleia que ele inaugurou em 11 de outubro de 1962, com os cardeais, bispos e assessores de todo o mundo, o Papa João XXIII disse nessa ocasião que marcou época, como um marco histórico: "Vou abrir a janela da Igreja para que possamos ver o que acontece do lado de fora e para que o mundo possa ver o que acontece na nossa casa". Houve expressões suas peculiares que davam o tom de seu pontificado, muito semelhante agora ao Papa Francisco: "aggiornamento”, "sacudir o pó imperial que cobre a Igreja”, "abrir as janelas para que entre ar fresco na Igreja”. Sobre essa nova brisa a entrar pelas portas e janelas da Igreja, em busca de renovação, o Padre Joseph Komonchak, um dos principais historiadores do Concílio Vaticano II, que lembra a visão de João XXIII, diz de que "a Igreja não é um museu de antiguidades, mas sim um vívido jardim cheio de vida". Bem verdade que João XXIII convidou os católicos a discernir os "sinais dos tempos" e censurou as "almas desconfiadas" que viam na era moderna "somente escuridão oprimindo a face da terra". Sem dúvida que João XXIII, há 50 anos atrás, abriu para o mundo, uma grande porta de diálogo, de abertura, de comunhão. Hoje, o Papa Francisco insiste na abertura dessa porta. Ele fala que devemos abrir as portas da Igreja, não para que o mundo entre simplesmente, para que as pessoas se acheguem, mas para que a Igreja seja uma “igreja de saída”, ou seja, que nós cristãos possamos sair e testemunhar a fé.

O Papa Francisco disse assim, na homilia de abertura do Ano da Misericórdia:

“Hoje, e em todas as dioceses do mundo, ao cruzar a Porta Santa, queremos também recordar outra porta que, há cinquenta anos, os Padres do Concílio Vaticano II escancararam ao mundo. Esta efeméride não pode lembrar apenas a riqueza dos documentos emanados, que permitem verificar até aos nossos dias o grande progresso que se realizou na fé. Mas o Concílio foi também, e primariamente, um encontro; um verdadeiro encontro entre a Igreja e os homens do nosso tempo. Um encontro marcado pela força do Espírito que impelia a sua Igreja a sair dos baixos que por muitos anos a mantiveram fechada em si mesma, para retomar com entusiasmo o caminho missionário. Era a retomada de um percurso para ir ao encontro de cada homem no lugar onde vive: na sua cidade, na sua casa, no local de trabalho… em qualquer lugar onde houver uma pessoa, a Igreja é chamada a ir lá ter com ela, para lhe levar a alegria do Evangelho. Trata-se, pois, de um impulso missionário que, depois destas décadas, retomamos com a mesma força e o mesmo entusiasmo. O Jubileu exorta-nos a esta abertura e obriga-nos a não esquecer o espírito que surgiu do Vaticano II, o do Samaritano, como recordou o Beato Paulo VI na conclusão do Concílio. Atravessar hoje a Porta Santa compromete-nos a adotar a misericórdia do bom samaritano”(Palavras textuais tiradas da Homilia do Papa Francisco na abertura do Ano da Misericórdia, Basílica de São Pedro – Vaticano, terça-feira, 8 de dezembro de 2015).

Está aí um grande desafio: Igreja missionária, de saída, não se manter fechada sobre si mesma. Igreja que vai ao encontro cada homem lá onde ele está. Ir ao encontro, com o espírito do bom Samaritano. Tarefa nada fácil".








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