2016-06-04 12:19:00

Semana do Papa Especial Jubileu dos Sacerdotes


Esta “Semana do Papa Especial” é inteiramente dedicada ao Jubileu dos Sacerdotes neste Ano Santo da Misericórdia. Destacamos nesta edição uma reflexão do Padre José Maria Pacheco Gonçalves sobre a especial atenção do Papa Francisco para com a vida sacerdotal na renovação pastoral que tem vindo a impulsionar.

Francisco: coração firme no Senhor e aberto aos irmãos

Para já começamos por recordar as palavras do Papa Francisco nesta sexta-feira dia 3 de junho durante a homilia da Missa na Praça de S. Pedro na Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Os sacerdotes ouviram o Santo Padre propor três ações para a caridade: procurar, incluir e alegrar-se. E Francisco sublinhou que os sacerdotes devem ter “um coração firme no Senhor, conquistado pelo Espírito Santo, aberto e disponível aos irmãos.”

Para ajudar o coração dos sacerdotes a inflamar-se na caridade de Jesus Bom Pastor, Francisco propôs três ações sugeridas pelas leituras do dia: procurar, incluir e alegrar-se.

Procurar: segundo o Santo Padre “o coração que procura: é um coração que não privatiza os tempos e os espaços, não é cioso da sua legítima tranquilidade, e nunca pretende que não o perturbem. É um coração que “arrisca” e vai à procura saindo de si mesmo.

Para a ação de incluir, o Papa afirmou que “Cristo ama e conhece as suas ovelhas” e assim deve ser o sacerdote de Cristo, que está “perto do povo concreto que Deus, através da Igreja, lhe confiou. Ninguém fica excluído do seu coração, da sua oração e do seu sorriso”. Escuta os problemas e acompanha as pessoas e “não ralha a quem deixa ou perde a estrada, mas está sempre pronto a reintegrar e a recompor”.

Alegrar-se é a terceira ação que Francisco propõe aos sacerdotes: uma alegria que “nasce do perdão, da vida que ressurge, do filho que respira novamente o ar de casa.” Uma alegria que é para os outros” e que descobre que “a alegria de Jesus Bom Pastor não é uma alegria para si, mas uma alegria para os outros e com os outros, a alegria verdadeira do amor”.

No final da sua homilia o Papa Francisco agradeceu o “sim” dos sacerdotes e sublinhou que na celebração eucarística reencontram a sua identidade de pastores:

“Queridos sacerdotes, na Celebração Eucarística, reencontramos todos os dias esta nossa identidade de pastores. Em cada vez podemos fazer verdadeiramente nossas as suas palavras: «Este é o meu corpo que será entregue por vós». É o sentido da nossa vida, são as palavras com que, de certa forma, podemos renovar diariamente as promessas da nossa Ordenação. Agradeço-vos pelo vosso «sim» a doar a vida unidos a Jesus: aqui está a fonte pura da nossa alegria.”

Renovação da vida sacerdotal – a reflexão do P. José Maria Pacheco Gonçalves

Sobre o esforço do Papa Francisco para uma renovação da vida sacerdotal, continuamente expresso durante o seu pontificado, pedimos uma reflexão ao padre José Maria Pacheco Gonçalves, que foi nosso colega durante muitos anos na redação de língua portuguesa da RV e que se encontra agora em Portugal desenvolvendo uma intensa atividade pastoral na diocese do Porto junto de uma comunidade paroquial.

Nesta sua ida para as periferias, o padre Pacheco Gonçalves começa por sublinhar, neste seu depoimento, a renovação pastoral da Igreja de que tem vindo a falar o Papa Francisco e para a qual o Santo Padre rejeita a mundanidade espiritual e a corrupção interior:

Padre Pacheco Gonçalves: “Penso que é aí que se joga uma grande parte da verdadeira renovação e da missão da Igreja e também da Cúria Romana. O Papa muitas vezes fala da questão da mundanidade espiritual e na corrupção interior, mesmo ao nível espiritual, que traz o bem-estar económico e o apego ao dinheiro. E como isso é uma questão grave…”

“Mas, no fundo o grande problema e a grande corrupção ao nível do clero, se calhar, tem sido a maior dificuldade a combater a contrastar e a melhorar ao nível de uma dedicação que seja verdadeiramente tipo Jesus Cristo, tipo Bom Pastor.”

“A tendência é organizar tudo de uma maneira eficientista e em que tudo é pago e tudo é organizado em função da rentabilidade mesmo económica. E isso é qualquer coisa que vicia tudo e que deita tudo a perder! Se a certa altura o padre na organização da vida das comunidades, das paróquias, dos grupos se deixa, ainda que às vezes inconscientemente, dominar por este tipo de critérios, está tudo perdido!”

“O apelo que vem deste Papa mas que, no fundo, vem sempre do Evangelho, é um apelo à santidade de vida. Porque vemos que os fundadores de institutos religiosos, de congregações, homens e mulheres, foram gente que a certa altura não tiveram nenhuma preocupação deste tipo, foi exatamente o contrário: apostaram na força da Palavra de Deus e na força da intervenção de Deus e fizeram coisas impossíveis, absolutamente impossíveis de um ponto de vista humano.”

“Então há aqui qualquer coisa que é, se calhar, o grande apelo deste momento: avançar, simplesmente, passo a passo, mas partindo deste amor pastoral, deste amor irradiante de quem acredita que o Evangelho é mais atual do que nunca, que a fé tem o seu lugar e a esperança e a caridade e que é com esses pequenos passos que se pode ir transformando por dentro e que não somos nós que transformamos e que é o Espírito de Deus e a força do Evangelho em si.”

“O que o Papa Francisco tem feito, desde, por exemplo, ter optado por ficar na Casa de Santa Marta, de ir a pé para a Sala das Audiências, de nos retiros, a certa altura, estar sentado no meio das pessoas, continua a encontrar resistências por parte do clero. E no fundo, do clero e dos bispos, em muitos deles, há, assim, uma espécie de desconforto ao verem estas coisas como se o Papa não estivesse bem no seu lugar. Mas, o maior problema é que, no fundo, é a imagem que eles próprios têm da sua própria missão de pastores como, muito mais, de uma pessoa com uma função, em certa medida, burocrática e de gestão, de diretor, de coordenador, e não tanto de pastor.”

“Eu penso que nunca se usou tanto a palavra pastor na Igreja Católica como agora, mas é um fenómeno que já vinha de antes e que nos pode fazer pensar, mas é um sinal dos tempos. Quer dizer, o projeto, a proposta, e penso que é isso que há de dar uma oportuna renovação necessária aos seminários, à formação vocacional, a todos os níveis, é esta ideia e esta missão de ser pastor e de ser pastor no meio das ovelhas, no meio do rebanho. E como também diz o Papa, uma expressão que utilizou várias vezes, de um pastor que sabe ir à frente quando é preciso, mas que sabe ir atrás, porque ir atrás significa aceitar também as lentidões, a lentidão com que se processa uma mudança, e não perder de vista as ovelhas (sorriso) …que podemos dizer “ranhosas” a ovelha negra, um bocado estropiada, ou cansada, que são tudo expressões bíblicas, mas que nós, muitas vezes, não vivemos suficientemente.”

Era o padre José Maria Pacheco Gonçalves refletindo sobre a renovação pastoral da Igreja e da vocação sacerdotal que o Papa Francisco tem vindo a impulsionar.

E é assim que terminamos esta Semana do Papa Especial inteiramente dedicada ao Jubileu dos Sacerdotes neste Ano Santo da Misericórdia. Esta rubrica regressa na próxima semana sempre aqui na RV em língua portuguesa.

(RS)








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