Museu Etnológico no Vaticano reabre após dois anos de reformas


Cidade do Vaticano (RV) – Uma viagem entre séculos de cultura e costumes religiosos, que fala também da amizade de povos longínquos com a Sé de Pedro. Esta é a proposta do Museu Etnológico dos Museus Vaticanos, reaberto ao público após dois anos de trabalhos de restauração. Na última terça-feira foi apresentado o catálogo “As Américas”, que teve por curador o Padre Nicola Mapelli, responsável pelo Museu, e por Katherine Aigner. O religioso falou aos microfones da Rádio Vaticano:

“O Museu Etnológico é substancialmente “a alma do mundo” ou ao menos gostamos de considerá-lo assim: é o lugar no qual estão preservados os objetos que há séculos, ao menos desde 1691, foram enviados aos Pontífices. E todos estes objetos que foram doados narram uma história de amizade, de diálogo. E nós queremos levar em frente esta história, porque é uma história que fala das culturas e das religiões. Temos visitantes de todo o mundo e quando veem que dentro dos próprios Museus em que são custodiadas obras de Rafael ou de Michelangelo, se encontra também a pintura de um aborígene australiano ou a estátua esculpida da Ilha de Páscoa, os visitantes se emocionam, porque sentem realmente que os Museus do Papa apreciam não somente a arte renascentista de Michelangelo e Rafael, mas a de todo o mundo”.

RV: Falemos um pouco deste Catálogo que foi apresentado no dia 24 de maio e que é dedicado às obras americanas que são conservadas no Museu...

“As obras custodiadas no Museu são mais de dez mil. Nós as estudamos por mais de cinquenta anos e entre elas selecionamos 200. Portanto, neste catálogo de 400 páginas, foram apresentadas 200 obras dos Museus Vaticanos que têm relação com o continente americano, do Alasca à Terra do Fogo, incluída também a nossa coleção pré-colombiana”.

RV: Para a realização do catálogo, sabemos que vocês tiveram que viajar pelo continente americano, uma ocasião portanto, também para encontrar muitas pessoas....

“Exato. O importante para nós é aquilo que queremos resumir na palavra “reconexão”: os objetos para nós não são simplesmente obras de arte, mas são sobretudo “embaixadores culturais”, por meio dos quais nós nos colocamos em contato com os povos e descendentes daqueles que os doaram aos Pontífices. E – pessoalmente – quis histórias muito tocantes: por exemplo, temos aqui no Museu uma máscara proveniente da Terra do Fogo e que foi enviada ao Papa há quase 100 anos. Temos também a foto e o nome de quem a enviou por meio de um missionário. Conseguimos descobrir o povoado e encontrar a filha do homem que doou o objeto. Eu fui encontrá-la e ela fez uma pequena cesta de vime entrelaçado e nós, no Museu, expusemos tanto a máscara doada pelo pai como o cesto de vime feito pela filha. Com isto, procuramos mostrar que para nós, o Museu é um museu vivo, que conta a história das pessoas até os sentimentos mais profundos”.

RV: O título do catálogo é “As Américas”. Me parece que este plural do título queira também, de alguma forma, sublinhar a pluralidade das várias etnias presentes no continente americano...

“Este catálogo busca mostrar a beleza e a variedade de centenas e centenas de povos e culturas que se sucederam no tempo e no espaço neste vastíssimo continente. E cada um expressou a própria cultura, espiritualidade, e em muitos casos o próprio encontro com o cristianismo e a própria interpretação do cristianismo. Por exemplo, os Inuit do Canadá doaram a São João Paulo II um crucifixo, que temos aqui exposto, onde está simbolizado um urso, porque para eles o urso é o animal onipotente. Portanto, por meio desta representação, querem assinalar a onipotência e a força salvífica. Temos o porta-missal de Cristóvão Colombo e tantas outras coisas”.

RV: Existe sempre, e é um tema que retorna de maneira quase constante, a relação do homem com a natureza....

“Exato. As obras do continente americano são feitas, em grande parte de material orgânico, portanto, realidades derivadas de vegetais e animais. Mas sobretudo estes povos, por meio de suas expressões artísticas, procuram expressar também o equilíbrio que tentam manter entre eles próprios e o mundo natural. Infelizmente, o que testemunhamos tantas vezes em nossas viagens, é o fato que este equilíbrio está sendo destruído. Encontramos grupos de indígenas que haviam sido expulsos de suas terras porque, no lugar de suas casas, queriam fazer grandes plantações. Nós procuramos também representar toda esta história, em tal modo de darmos voz também aos últimos”.  (JE/RT)

 

 








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