Educação é a chave do diálogo, diz Card. Tauran sobre encontro entre o Papa e o Grão-Imame


Cidade do Vaticano (RV) – O compromisso comum das autoridades e dos fiéis das grandes religiões pela paz no mundo, a rejeição da violência e do terrorismo, a situação dos cristãos no contexto dos conflitos e das tensões no Oriente Médio e a sua proteção. Estes foram alguns dos temas tratados na audiência do Papa Francisco com o Grão-Imame de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayeb, recebido na manhã desta quarta-feira, (23/05), no Vaticano.

Al-Tayeb e sua delegação foram acolhidos e apresentados ao Pontífice pelo Presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, Cardeal Jean Louis-Tauran, e pelo Secretário do mesmo dicastério, Dom Miguel Ángel Ayuso Guixot. No encontro de meia-hora – definido em uma nota da Santa Sé como “muito cordial” – os dois interlocutores ressaltaram “o grande significado deste novo encontro no quadro do diálogo entre Igreja Católica  e Islã”. O Pontífice doou ao Grão-Imame uma medalha da oliveira da paz e uma cópia da Carta Encíclica “Laudato Si”. Depois da audiência, Al-Tayeb conversou com o Cardeal Tauran, acompanhado pela delegação.

O purpurado foi entrevistado pela Rádio Vaticano sobre o histórico encontro:

“O encontro realizou-se num clima de grande amizade. Não se falou do passado, mas do presente e do futuro. Existe um grande desejo, por parte dos nossos parceiros, de retomar o diálogo. E será 'ressuscitada' a Comissão de 1998, penso que haverá uma intensificação dos contatos. Assim, foi um bonito encontro, em um clima de grande amizade. Devo dizer que, pessoalmente, não esperava tanto”.

RV: Falou-se do compromisso comum das autoridades e dos fiéis das grandes religiões pela paz no mundo e da rejeição da violência e do terrorismo...

“Certo, das coisas que temos em comum. Temos consciência de que o nosso encontro é um sinal para os muçulmanos e os cristãos, especialmente os do Oriente Médio”.

RV: Al-Azhar, no Cairo, é a Universidade que forma o maior número de Imames sunitas, fala-se até mesmo de milhares a cada ano. Que mensagem transmite, segundo o mundo cristão?

“A necessidade de unir a boa vontade de todos os fiéis, de tal modo que não exista mais uma sociedade onde a violência atinge todos os setores da vida, mas que todos estejam conscientes de que não podemos ser felizes uns sem os outros, e jamais uns contra os outros”.

RV: Corre-se o risco de uma deterioração das relações inter-religiosas, devido à brutalidade cometida pelo Estado Islâmico e pelo extremismo islâmico?

“A primeira coisa que devemos tratar é a ignorância; porque muitos cristãos temem os muçulmanos, mas nunca os encontraram e nunca abriram o Alcorão. E a mesma coisa em relação aos muçulmanos, que nunca se inteiraram o suficiente do conteúdo do Evangelho. Esta situação assim, oposta, é também um apelo aos fiéis a serem sempre mais coerentes com a própria religião”.

RV: O que mudou entre as duas religiões em relação aos últimos anos?

“O terrorismo enfraqueceu muito os nossos esforços. Isto não pode ser negado. Porém, existe também a consciência da importância da cultura e da educação: talvez esta seja a chave para o futuro”.

RV: Falou-se sobre Regensburg?

“Não, absolutamente. Não se falou do passado. Esta é a vontade comum: recomeçar e abrir um novo capítulo”.

RV: Que caminho existe à frente?

“A possibilidade de fazer reviver a Comissão de 1998, de modo ter sempre um canal aberto, onde possam convergir informações, iniciativas, etc. Portanto, algo muito concreto”.

RV: Qual é a sua esperança?

“Que a boa vontade e o bom senso prevaleçam sobre a brutalidade e o terror”. (JE/GA)








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