O papel do Núncio na diplomacia vaticana: acima de tudo um pastor


Cidade do Vaticano (RV) – “Inteligência, arte e sobretudo caridade. Os Núncios com os quais colaborei viviam assim o seu serviço e quando coube a mim ser chefe de missão, eles representavam o ideal a ser seguido. A beleza do papel do Núncio Apostólico é precisamente poder ser parte de uma Igreja a caminho”. Dom Giovanni Tonucci, Arcebispo-Prelado de Loreto, ex-Núncio Apostólico na Bolívia, Quênia, Noruega, Suécia, Finlândia, Dinamarca e Islândia, comenta as palavras que Francisco dirigiu, em 12 de maio, aos sacerdotes da comunidade da Pontifícia Academia Eclesiástica. O Papa, falando aos futuros diplomatas da Santa Sé, recordou que o ministério nas representações pontifícias deve ser realizado com uma diplomacia inteligente feita de arte e caridade, que construa pontes com as culturas, as sociedades e os Governos, tornando presente a Igreja e dando voz ao Evangelho”.

Um embaixador “sui generis”

“A contribuição que um Núncio pode levar a uma comunidade eclesial – explica o prelado – baseia-se muitíssimo no conhecimento das pessoas do lugar, do povo que vive em um determinado país. O representante pontifício pode, de fato, ter um tipo de conhecimento e de informações que falta completamente a outras embaixadas: todas as notícias de primeira mão sobre a vida cotidiana que chegam de cada paróquia e de cada diocese. Notícias diretas, que não dizem respeito somente à vida eclesial, mas também à vida social, o nível de pobreza ou o respeito dos direitos humanos”.

O Núncio, este “desconhecido”

Sobre as características peculiares da diplomacia pontifícia, que fazem do Núncio um embaixador “sui generis”, escreve Matteo Cantori no livro “A diplomacia pontifícia, aspectos eclesiásticos-canônicos”, publicado recentemente pela Tau Editora. “Frequentemente – explica o autor – os Núncios são descritos como figuras abstratas, distantes do povo de Deus, de quem se ignora as reais atribuições. Trata-se, pelo contrário, de diplomatas mais do que nunca próximos e incardinados na realidade do país em que são chamados a viver e atuar. Na evolução do Direito Canônico e do Magistério da Igreja, o seu papel se consolidou como eminentemente pastoral”.

“A função dos Núncios – explica Dom Tonucci, autor do Prefácio do livro -  se baseia na realidade da Igreja. Eles não têm, como os embaixadores dos Estados, interesses específicos a serem mantidos, nada para vender ou comprar. A Igreja fala do Evangelho e o Núncio não é nada mais nada menos do que um instrumento para levar e dar a conhecer a palavra do Papa e portanto os valores que defendem a paz, os direitos e as classes mais vulneráveis”.

Inteligência, arte e caridade

“A arte do diálogo e a caridade evangélica, da qual falou o Papa – explica ainda Cantori – são duas características que se complementam. A arte do diálogo significa sobretudo saber ouvir, porque o diplomata do Papa é uma pessoa que se coloca à escuta e age como um intermediário com o seu mandatário. O espírito caritativo deve permear o empenho pela justiça e a paz do Núncio”. (JE/FC)








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