Lumen Gentium: A universalidade da salvação em Cristo


Cidade do Vaticano (RV) - No nosso espaço Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a tratar da Constituição Dogmática Lumen Gentium, ressaltando no programa de hoje, a universalidade da salvação de Cristo.

No programa passado, tratamos da relação inequívoca existente entre Igreja e Salvação. De fato, mesmo que alguém esteja fora da Igreja, se salva pelos méritos de Cristo que hoje concretamente se operam e se realizam na sua Igreja e por sua Igreja. Todos serão, de algum modo e de alguma maneira, atraídos por Cristo. Até mesmo aqueles que não o conheceram, antes de sua vinda, como aqueles que não tiveram oportunidade de conhecê-lo depois. Sem dúvida que a graça de Cristo pode operar fora dos limites vivíveis da Igreja, mas nunca absolutamente sem relação real à Igreja. No programa de hoje, Padre Gerson Schmidt traz sua reflexão sobre a universalidade da salvação de Cristo:

"São Cipriano disse: “fora da Igreja não há salvação”. Como entender essa frase, nos tempos modernos, onde há tantos descrentes, pessoas de outras religiões, tanta multiplicidade de manifestações religiosas? Como entender essa máxima de São Cipriano se até Jesus na cruz salvou o bom ladrão arrependido, mesmo sem ele estar integrado a Igreja e muito menos ter recebido o batismo? Na Igreja primitiva muitos morreram mártires, deram sua vida pela fé, sem ter conseguido receber o batismo, que os tornaria membros da Igreja.

Dissemos outro dia que Cristo morreu por todos. A salvação é universal. Jesus disse: “Quando for levantado da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12,32). O verbo, diz o prólogo do Evangelho de São João, “ilumina todo o homem que vem a esse mundo” (Jo 1,9). Se Cristo morreu de fato por todos, podemos dizer três grandes verdades, a partir dessa afirmativa:

Os efeitos da Redenção devem estender-se, retroativamente, a todos aqueles que existiram antes de Cristo: Adão, Eva, Abraão, Moisés, os profetas, etc. A obra do Filho de Deus transcende o tempo; por seu sacrifício salva os homens e as mulheres antes de Cristo ter nascido.

Também se devem irradiar sobre todos os que, vivendo embora após a morte de Cristo, não o conhecem sem culpa própria. Aparece assim o sacrifício do calvário como o fato central da história da humanidade. Ninguém, absolutamente ninguém, em qualquer época – antes, durante e depois de Cristo – salva-se senão pela graça de Cristo; Deus deve dar a todos os meios suficientes para salvar-se, pois pelo próprio esforço jamais conseguiriam, estando a salvação fora do alcance da criatura por si mesma. A salvação é graça e não merecimento humano.

Se somente Cristo pode salvar o homem, a pergunta que fazemos é a seguinte: onde se opera atualmente os méritos da cruz de Cristo, senão na sua Igreja? Portanto, mesmo alguém não estando na Igreja, não pertencendo a ela, não sendo batizado, não participando ativamente como Igreja, se salva por meio da Igreja, que atualiza, renova e concretiza a salvação trazida por Cristo na cruz. Desta forma podemos e devemos entender esse axioma de São Cipriano: “fora da Igreja não há salvação” - “Salus extra Ecclesiam non est”.  A Igreja, portanto, é sacramento de salvação, mesmo que muitos permaneçam fora dela, muitas vezes sem culpa, outras vezes, por culpa, até mesmo de nós que não damos testemunho verdadeiro e não somos luz capaz de iluminar, sal para dar sabor e tempero, fermento capaz de levedar a grande massa dos afastados ou que nunca foram arrebanhados.

Portanto, ser Igreja não é um privilégio (...) que seria um proselitismo, uma escolha para acomodação, nos sentindo eleitos e já salvos pelo batismo que nos conferiu pertença e filiação. Ser Igreja é um compromisso de iluminar os que jazem nas sombras da morte, como cantou Zacarias no Benedictus. Então, as perguntas, sempre quero aqui fazer ecoar para nossa reflexão e avaliação constante: somos Luz? Somos, como pediram os padres conciliares, Lumem Gentium, luz das nações?

 

 








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