2016-05-09 12:55:00

Conhecer e valorizar o papel da mulher na Igreja - Card. Parolin


No domingo,8 de Maio, Dia das Mães, a rubrica "África.Vozes Femininas" exaltou através de música e palavras a figura da mãe, uma tema a que o Papa se referiu no final da oração do Regina Coeli, na Praça de São Pedro. E neste mês de Maio, dedicado a Maria, o Papa centrou a sua intenção geral de oração às mulheres, exortando a honrá-las e a respeitá-las, pois que reconhecer o seu contributo na sociedade não é suficiente. Em destque também a nova versão gráfica de “Mulher, Igreja, Mundo”, que passa a ser magazine e a dar particular atenção à arte e à espiritualidade. Versão apresentada no dia 3 de Maio, na Filmoteca Vaticana, com a participação do Cardeal Secretário de Estado, Pietro Parolin, que enalteceu o contributo deste mensário (do jornal quotididano do Vaticano, L’Osservatore Romano), na reflexão teológica e exegética. Da redação da revista faz parte também a religiosa congolesa, Rita Mboshi Kongo que ilustra as razões da sua adesão. 

Oiça e/ou leia tudo aqui: 

Maio mês de Maria, Mãe de Deus. Maio, mês da festa das mães. Neste domingo, 8, é Dia das Mães em várias partes do mundo, como recordava o próprio Papa Francisco, antes da oração do Regina Coeli. Um dia para exprimirmos, de modo particular o apreço por esta figura especial na vida de cada um e de cada uma de nós. Ser mãe é uma tarefa para toda a vida. E algumas mulheres até perdem a vida já ao procurar ser mãe. Ainda neste sábado, 7 de Maio, na audiência aos “Médicos com a África”, do CUAM, o Papa Francisco recordava que demasiadas mulheres no continente perdem a vida durante o parto e muitas crianças morrem em tenra idade devido à não garantia do direito à saúde.  

 “Africa.Vozes Femininas” quer aqui hoje recordar as mães e o seu sacrifício por esta nobre missão com a canção “Amor de Mãe” do cantor caboverdiano, Morgadinho, que sublinha o amor sem fim e sem preço das mães pelos filhos e filhas...

E neste mês de Maio, mês de Maria, o Papa Francisco dedica a sua intenção geral de oração às mulheres. Na sua mensagem vídeo sublinha que reconhecer o contributo da mulher em todos os sectores da sociedade não é suficiente. Há que honrar e respeitar as mulheres, valorizando ao mesmo tempo o seu contributo à sociedade. A colega brasileira, Bianca Fraccalvieri fala-nos disso:

Para que, em todos os países, as mulheres sejam honradas e respeitadas, e seja valorizada a sua imprescindível contribuição social”, é o texto sugerido ao Apostolado da Oração.

No vídeo que mensalmente apresenta esta intenção, o Papa questiona: “É inegável a contribuição da mulher em todas as áreas do agir humano, a começar pela família.

Mas reconhecê-la... É suficiente? Temos feito muito pouco pelas mulheres que se encontram em situações muito duras, desprezadas, marginalizadas e até reduzidas à escravidão. Devemos condenar a violência sexual que as mulheres sofrem e eliminar os obstáculos que impedem a sua inserção plena na vida social, política e económica. Se considera que isto é justo, faça este pedido comigo. É uma oração: para que, em todos os países do mundo, as mulheres sejam honradas e respeitadas, e seja valorizada a sua imprescindível contribuição social”.

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Depois de quatro anos de vida, o mensário “Mulheres, Igreja Mundo” do jornal do Vaticano L’Osservatore Romano, sai agora num novo formato gráfico e com diversas rubricas. De quatro grandíssimas páginas (formato standard) que era, passa a ser formato magazine com 40 páginas ilustradas. Passa também a contar com a colaboração das religiosas da Comunidade Monástica de Bosé (norte da Itália) com particular atenção para a arte e a meditação.

A nova versão da revista foi apresentada no passado dia 3 deste mês na Filmoteca do Vaticano com especial participação do Cardeal Secretário de Estado Pietro Parolin. No seu discurso traçou uma panorâmica geral do percurso feito até hoje por este mensário, que agora, para além do italiano passa a ser impresso em espanhol e está presente no site de L’Osservatore Romano em sete línguas. Um mensário – disse – em que escrevem homens e mulheres, mas cuja intenção de fundo é “dar conta do impacto cultural que o pensamento feminino está a ter no seio da reflexão teológica e exegética”.

O Cardeal Parolin frisou ainda que nestes quatro anos “Mulher, Igreja, Mundo” participou no “debate eclesial” publicando todos os meses uma longa reflexão sobre temas postos em relevo pelo Papa Francisco, como por exemplo, a teologia da mulher, o sínodo sobre a família e este ano a revista deu início a um aprofundamento sobre figuras femininas do Antigo Testamento a que se seguirá, no próximo ano, as do Novo Testamento. O Cardeal assinalou ainda o colóquio internacional organizado pelo mensário o ano passado sobre o tema “O que tem a Igreja a oferecer hoje às Mulheres?” e continuou:

O mensário, portanto, não só dá a conhecer e valoriza a presença feminina na Igreja, mas abre também caminho para um novo e positivo hábito: o de ouvir as mulheres, de olhar para o muito que têm a dizer e para as numerosas iniciativas que sabem realizar, para pôr em acto aquela sinergia do masculino e do feminino que é muitas vezes invocada nos documentos oficiais da Igreja, mas que nem sempre é posta em prática”.

Para o Cardeal Secretário de Estado, a presença feminina na cultura católica tem vindo a fazer-se sentir com cada vez mais força e incisividade, na sequência do Concilio Vaticano II, quando puderam, finalmente, frequentar cursos de Teologia e de Exegese nas Universidades Pontifícias.

Um novo olhar exegético permitiu descobrir o importante e inovador papel da mulher na pregação de Jesus, pôs em evidência a forma nova, respeitadora e positiva com a qual o Messias se dirigia às mulheres, atribuindo-lhes tarefas delicadas e de grande importância: uma autêntica mudança na cultura daquele tempo que, embora estando sob os olhos de todos, ficou quase invisível, ao longo de séculos, aos olhos de quase todos os exegetas (…). Hoje é necessário aprofundar juntos – homens e mulheres, leigos e consagrados – a interpretação dos textos sagrados, e tirar daí ideias para remodelar e ampliar o papel e o serviço – não a servidão! – das mulheres na Igreja

Recordando depois também as acções sociais práticas das mulheres e de modo particular das missionárias, o Cardeal Pietro Parolin rematou:

Se não ouvíssemos com atenção a voz das mulheres nos grandes momentos de decisão na vida da Igreja, perderíamos o contributo decisivo e, diria mesmo, indispensável à elaboração de novos projectos e horizontes, que podem alimentar o futuro de uma realidade bimilenária como a Igreja, oferecendo-lhe a originalidade do contributo do génio feminino. O mensário “Mulher, Igreja, Mundo” recorda a todos esta realidade esquecida, este tesouro escondido e sugere que as mulheres têm muito a dizer. E que é indispensável ouvi-las”.

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Da Redacção de “Mulheres, Igreja, Mundo” fazem parte, para além da historiadora leiga, Lucetta Scarafia, que é a coordenadora, duas outras leigas e duas religiosas, uma das quais africana: a Irmã Rita Mboshu Kongo. Natural da RDC, Missionária das Filhas Co-Redentoras e docente de Teologia Espiritual na Universidade Pontifícia Urbaniana, a Irmã Rita explicou-nos as razões da sua adesão ao grupo de redacção do mensário:

Aceitei fazer parte porque, embora pertencendo a um povo matriarcal, notei que a mulher não tem voz em público. É só conselheira nocturna. Portanto, a mulher dá conselhos ao irmão que vai falar em público. Mas ela que é a princesa não pode falar em público. Mesmo fazendo a formação iniciática tradicional, quando se termina a formação, ao rapaz é reconhecido o poder de falar em público, à menina não. Então, vendo isto disse: há algo que não está certo. É necessário descodificar o que os homens codificaram ao longos dos tempos.”

- Então não há diferença entre uma cultura matriarcal e uma cultura patriarcal no que toca à situação da mulher?

Não há, porque é sempre o homem que toma a palavra em público. O discurso é preparado por uma mulher, mas é apresentado por um homem. A ideia vem da mãe e o filho vai falar em público.”

- Isto na sociedade. E na Igreja, a que pertence também como religiosa, como é que se passam as coisas?

É quase a mesma mentalidade, porque as religiosas trabalham, mas o seu trabalho não é muito reconhecido. Limita-se à Sacristia. Não é que seja inferior a consagração, mas se uma religiosa estudou porque não deve ensinar?! Não falo só da relação entre o homem e a mulher. Há também violência entre mulheres. Uma religiosa que estudou deve ser valorizada na sua capacidade intelectual, dar o lugar justo à pessoa justa, mas isto não se verifica. Isto acontece entre nós porque esta mentalidade enraizou-se de tal modo que é difícil desenraizá-la, mas acho que com o tempo, havemos de conseguir”.

- Por onde se pode começar para melhorar a situação tanto na Igreja, como na sociedade?

É preciso começar precisamente como estamos a fazer: falar com os superiores gerais, com os que governam a Igreja porque é uma questão de mentalidade. A emancipação é uma questão de mentalidade. Não é que as mulheres não têm capacidade”.

(DA)








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