Lumen Gentium: É possível a salvação fora da Igreja?


Cidade do Vaticano (RV) - No nosso espaço Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a tratar da Constituição Dogmática Lumen Gentium, ressaltando no programa de hoje a relação entre Igreja e salvação.

No programa passado, vimos como "a luz não se pode esconder, diz Cristo, embaixo do alqueire, das coisas que impedem essa luz de se expandir e de clarear o ambiente onde está", e que neste sentido, a Igreja deve ser luz, iluminar a quem quer que seja. No programa de hoje, Padre Gerson Schmidt nos traz a reflexão sobre "Igreja e salvação", ressaltando, que "mesmo que alguém esteja fora da Igreja, se salva pelos méritos de Cristo que hoje concretamente se operam e se realizam na sua Igreja e por sua Igreja":

"Noutro dia aqui utilizei uma frase de São Cipriano, que gostaria de me deter hoje: “fora da Igreja não há salvação”. Essa máxima tem que ser bem entendida. Esse axioma, em latim, se diz assim: “Salus extra Ecclesiam non est”. Ecclesiam, do Latim, significa literalmente “convocação”, “assembleia popular”. A Palavra latina Ecclesiam, que se traduz por Igreja, se traduz então por “assembleia dos convocados”, dos chamados a dedo, pelo nome, pela Palavra, convocados por Deus mesmo. A salvação é obra da graça. Portanto, Igreja não é um ajuntamento de pessoas por conta própria. Mas uma convocatória divina para uma missão. Portanto, não necessariamente um privilégio de sermos os melhores, porque santos e imaculados. Absolutamente. Mas uma escolha para uma missão de iluminar, um serviço, como uma lâmpada num ambiente escuro.

Origines, também no século terceiro fez igualmente, uma afirmação semelhante a de São Cipriano: ”Fora desta casa, a saber, a Igreja, ninguém é salvo”.  E o quarto concílio de Latrão, em 1215, definiu como dogma a seguinte declaração: “Uma é a Igreja universal dos fiéis, fora da qual absolutamente ninguém se salva”. Pio XII, na Encíclica Humani Generis (HG,26) sensurava aqueles que “reduzem a uma forma vã a necessidade de pertença a Igreja para obter a salvação eterna”.  Ou seja, quem negligencia facilmente ser membro efetivo da Igreja.

Essas afirmações deram lugar a tantas distorções e acusações de intolerância e proselitismo. Por isso, temos que aqui entender bem esses axiomas, essas afirmações pilares dos Padres da Igreja.  Jesus Cristo mesmo falou que quando fosse levantado da terra, atrairia todos a Ele (Jo 12,32). Vejam, Jesus disse todos, não uma só parte, não uma seleção privilegiada. Todos serão, de algum modo e de alguma maneira, atraídos por Cristo. Até mesmo aqueles que não o conheceram, antes de sua vinda, como aqueles que não tiveram oportunidade de conhecê-lo depois. Temos aí, clara, a universidade da salvação de Cristo. São Paulo a Timóteo afirma que Deus quer a salvação de todos os homens e que tenham o conhecimento da verdade (1 Tim 2,1-6). Houve, na história da Igreja, uma heresia jansenista de que Deus não quereria salvar a todos. O jansenismo foi condenado pelos Papas Urbano VIII, Inocêncio X e Alexandre VII.

Sem dúvida que a graça de Cristo pode operar fora dos limites vivíveis da Igreja, mas nunca absolutamente sem relação real à Igreja. A redenção pessoal de cada homem só se pode operar pela Igreja: só por ela Cristo continua presente entre nós. Assim, renovando sem cessar o sacrifício da cruz, a Igreja esparge, difunde sobre a humanidade inteira a graça do calvário.  Então: “Fora da Igreja, não há salvação”, como afirmou São Cipriano, é endossado pelos Papas posteriores. Ou seja: Mesmo que alguém esteja fora da Igreja, se salva pelos méritos de Cristo que hoje concretamente se operam e se realizam na sua Igreja e por sua Igreja".

 








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