Mosteiro de Mar Elian semi-destruído na reconquista de Qaryatayn


Damasco (RV) – No deserto da Síria, os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI) escreveram em um muro ainda em pé do Mosteiro de Mar Elian, "os leões do califado vieram para devorá-los". Mas este fim de semana, eles foram obrigados a fugir diante da ofensiva do Exército sírio, apoiado por russos e membros do Hezbollah libanês.

Símbolo da convivência pacífica entre cristãos e muçulmanos

O mosteiro de Mar Elian está localizado na cidade de Al-Qaryatayn, e era um símbolo da convivência pacífica entre cristãos e muçulmanos na Síria. Erecta no século V, uma das duas igrejas do mosteiro, construída com pedras secas e tijolos de barro, nada mais é hoje do que um amontoado de escombros, constatou uma equipe da AFP, que visitou o local esta segunda-feira, 4. A igreja foi destruída pelo Estado Islâmico em agosto de 2005, com o uso de explosivos e de escavadeiras, “sob o pretexto de que as pessoas adoravam ali um outro deus que não o Deus verdadeiro".

Sarcófago danificado

O crânio e os ossos do Mar Elian, um santo cristão de Homs (centro da Síria, martirizado pelos romanos por ter se recusado a abjurar da sua fé, continuam em um sarcófago de pedra. Mas sua tampa decorada com duas cruzes, foi quebrada.

"Trata-se precisamente de seu sarcófago e de seus ossos", confirmou o Padre Jacques Mourad, responsável pelo mosteiro sírio-católico, entrevistado por telefone na Itália depois de ver as fotos que foram enviadas a ele por AFP via WhatsApp.

O sacerdote havia conseguido escapar das garras de EI em outubro de 2015, depois de passar 84 dias nas mãos desta organização que prometeu matá-lo caso se recusasse a se converter ao Islã.

Silêncio, melhor resposta diante dos fatos

"Estou cheio de dor e minha posição é de estar em silêncio, porque diante de tudo isto que acontece, o silêncio é a palavra mais adequada”, afirmou.

A entrada e interior do novo igreja do mosteiro, inaugurada em 9 de setembro de 2006, na presença de líderes religiosos cristãos e muçulmanos, estão totalmente carbonizados. As vigas que sustentam o teto e a pedra que servia de altar estão quebrados.

O mosteiro, com seus 16 quartos, está parcialmente destruído por bombardeios e no refeitório estão amontoadas panelas e pratos utilizados pelos jihadistas para a sua cozinha.

Em uma pequena sala, estão guardados ossos em sacos, encontrados anteriormente por arqueólogos em dois cemitérios mamelucos e otomanos, ligados ao mosteiro, declarou à AFP May Mamarbachi, que participou há dez anos da restauração do local.

De acordo com Padre Mourad, outras duas igrejas no centro da cidade de Al-Qaryatayn, uma sírio-ortodoxa e outra católica, foram queimadas na primeira semana da chegada dos jihadistas.

Localização estratégica

Al-Qaryatayn foi reconquistada pelo exército no último domingo, 3, e era um dos últimos redutos do EI em Homs, a maior província da Síria

Um general no local disse à AFP que a cidade de 30.000 habitantes antes da guerra (incluindo 900 cristãos) era importante por encontrar-se no cruzamento das Províncias de Damasco, Homs e as Montanhas de Qalamoun, que abrangem a Síria e Líbano. "Com a captura desta cidade, o exército cortou todas as estradas que o Daesh (acrônimo em árabe para EI) usava para se locomover", explicou. "A batalha foi facilitada após a tomada, há uma semana, de Palmyra", a 90 km ao leste.

Dos 900 cristãos, 277 permaneceram na cidade apesar da chegada do EI. Entre eles, um foi executado, 10 foram mortos no bombardeio e cinco ainda estão presos. O resto conseguiu escapar ao final de 2015, segundo Padre  Mourad.

Al-Qaryatayn ( "as duas aldeias em árabe) era o símbolo da coexistência entre cristãos e muçulmanos.

Diz a lenda que, com a chegada dos árabes no século 6, uma das duas principais famílias da cidade cristão convertido ao islamismo, o outro Christian restante, para proteger uns aos outros. (JE/AFP)








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