Cristãos paquistaneses: conforto e consolo das palavras do Papa


Cidade do Vaticano (RV) - “Jesus nos mostra que o poder de Deus não significa destruição, mas amor; a justiça de Deus não significa vingança, mas misericórdia”, afirma o Papa Francisco no tuíte publicado, nesta terça-feira (29/03), na conta @Pontifex. Estas palavras fazem pensar no atentado ocorrido no Domingo de Páscoa (27/03), em Lahore, no Paquistão, perpetrado pelos talibãs, que causou 72 mortos, dos quais 30 crianças e seis mulheres, e 315 feridos.

No Regina Coeli desta segunda-feira (28/03), o Santo Padre fez um forte apelo em defesa da minoria cristã no Paquistão e condenou o ódio que leva somente à destruição. Nas últimas horas, desafiando o medo, centenas de cristãos e muçulmanos se reuniram, em oração, na entrada do parque de diversão onde ocorreu o atentado. 

A nossa emissora conversou com o presidente da Associação dos Paquistaneses Cristãos na Itália, Prof. Mobeen Shahid. 

Shahid: “As palavras do Santo Padre foram acolhidas com grande conforto e consolo. O Papa soube imediatamente dos fatos terríveis ocorridos em Lahore, e se expressou recordando as vítimas do ataque. Não obstante a maioria das vítimas seja cristã, não devemos nos esquecer que havia também famílias muçulmanas e que também alguns muçulmanos morreram. Tratou-se essencialmente de um ataque contra os cristãos, mas existem também vítimas muçulmanas. Não é um fenômeno contra os cristãos, mas diz respeito a toda nação! Infelizmente, neste momento o país está pagando as consequências daquela educação que foi dada, inspirada no fanatismo, contra o comunismo internacional na guerra contra a Rússia no Afeganistão.” 

Quando o Papa pede “não vingança, mas misericórdia” traça um percurso longo, talvez difícil, mas o único possível, de educação ao diálogo, à convivência a fim de tirar aquela água envenenada onde depois nadam os peixes do integralismo que matam todos aqueles que são contra eles: cristãos, muçulmanos, sem distinção, como aconteceu em Lahore...

Shahid: “Nós como cristãos e especialmente no Ano da Misericórdia devemos assumir um comportamento de fé profunda, segundo o exemplo de Cristo que perdoa. Infelizmente, existe a dor das famílias que perderam suas crianças. Agora mesmo eu soube que morreu mais um menino que estava internado no hospital. Por isso, as crianças mortas são 31, e 8 as mulheres mortas. Tem quem perdeu a mãe, a irmã, o filho ou a filha. Eles também devem ser considerados. O presidente da República e o primeiro-ministro reconheceram o compromisso das minorias religiosas no fundamento do Paquistão. Agora, penso que chegou a hora de o presidente e o primeiro-ministro restabelecerem o Ministério das Minorias, porque sem um ministério federal não é possível proteger as minorias e nem permitir que se desenvolvam e contribuam para o desenvolvimento da nação.”

O Papa Francisco pediu um esforço das autoridades. Este é outro ponto: a dificuldade do Governo de enfrentar o extremismo. Por outro lado, há também o fato de que está ainda de pé uma lei como a da blasfêmia...

Shahid: “Ontem, o primeiro-ministro, Nawaz Sharif, em seu apelo feito à noite a toda nação, se expressou a propósito do abuso da lei sobre a blasfêmia. Foi um passo positivo para os cristãos e para as minorias do Paquistão. De fato, em seu discurso, o primeiro-ministro disse: ‘Não aceitaremos ilegalidade em nome de Deus e do Profeta’. É a primeira vez que isso acontece depois dos três governos. É um passo importante o fato de que o primeiro-ministro tenha ressaltado que não se pode aceitar a ilegalidade. Esperamos que além de restabelecer o Ministério das Minorias no Paquistão se possa também instituir um comitê que possa tomar medidas concretas, reais e efetivas para diminuir o abuso do recurso a essa lei ou até mesmo aboli-la.”

Essa tragédia ocorreu no Domingo de Páscoa, dia em que os cristãos do mundo inteiro celebram o Cristo Ressuscitado. O que os cristãos, inclusive os que vivem na Itália, podem fazer para a comunidade cristã do Paquistão?

Shahid: “Como cristãos, convido todos a rezar pelas vítimas dessa tragédia que eu chamo também de ‘mártires da fé’, visto que morreram pelo fato de ser cristãos, e isso foi declarado pelos talibãs. Hoje, junto com a Comunidade de Santo Egídio, nos reuniremos às 20h locais na Basílica Romana de Santa Maria in Trastevere para rezar pelas vítimas. Todos aqueles que desejam participar estão convidados a rezar conosco.” (MJ)

 

 








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