2016-03-27 11:17:00

Semana Santa do Papa em 2016


Na rubrica de hoje a “Semana do Papa” transmitimos uma edição especial na qual destacamos alguns dos momentos mais significativos das celebrações presididas pelo Papa Francisco nesta Semana Santa de 2016. Em particular damos especial atenção à Missa da Ceia do Senhor, celebrada com refugiados e a tradicional Via Sacra no Coliseu de Roma.

Cruéis abominações

Entretanto, a Semana Santa do Papa foi marcada pelos atentados terroristas em Bruxelas na Bélgica na terça-feira dia 22. A eles se referiu o Santo Padre na audiência geral de Quarta-Feira Santa dia 23 de março:

“Com o coração dorido segui as tristes notícias dos atentados terroristas acontecidos ontem em Bruxelas, que causaram numerosas vítimas e feridos. Asseguro a minha oração e a minha proximidade à cara população belga, a todos os familiares das vítimas e a todos os feridos.”

Dirijo novamente um apelo a todas as pessoas de boa vontade para unirem-se na unânime condenação destas cruéis abominações que estão a causar apenas morte, terror e horror. A todos peço de perseverar na oração e em pedir ao Senhor, nesta Semana Santa, de confortar os corações aflitos e de converter os corações destas pessoas cegas pelo fundamentalismo cruel, pela intercessão da Virgem Maria.”

Francisco propôs a todos os fiéis uma Avé Maria e um momento de oração em silêncio.

Misericórdia é encontro e perdão

Na manhã de Quinta-Feira Santa o Papa Francisco celebrou na Basílica de S. Pedro a Missa Crismal. Nesta celebração foram abençoados os óleos dos catecúmenos e dos enfermos.

Na sua homilia o Santo Padre sublinhou “dois âmbitos nos quais o Senhor se excede na sua misericórdia”: o encontro e o perdão. O encontro que podemos contemplar “estupefactos” na parábola do Pai Misericordioso. Um encontro que se faz festa numa misericórdia que “restaura tudo” e restitui dignidade. E nós, fazemos festa depois de nos termos confessado? – perguntou o Papa.

O outro âmbito onde vemos que Deus se excede “numa Misericórdia cada vez maior, é o próprio perdão” – afirmou o Santo Padre. “O Senhor deixa que a pecadora perdoada Lhe lave, familiarmente, os pés com as suas lágrimas. Logo que Simão Pedro se confessa pecador pedindo-Lhe para Se afastar dele, Jesus eleva-o à dignidade de pescador de homens” – disse Francisco que revelou qual deve ser a nossa resposta a tanto perdão do Senhor:

A nossa resposta ao perdão superabundante do Senhor deveria consistir em manter-nos sempre naquela saudável tensão entre uma vergonha dignificante e uma dignidade que sabe envergonhar-se: atitude de quem procura, por si mesmo, humilhar-se e abaixar-se, mas é capaz de aceitar que o Senhor o eleve para benefício da missão, sem se comprazer.”

As palavras e os gestos de Jesus fazem “com que se revele aquilo que cada homem e mulher traz no coração” – afirmou o Santo Padre recordando a recusa dos conterrâneos de Jesus de o aceitarem e as palavras do velho Simeão a Maria que profetizava o “sinal de contradição” que é Jesus.

“E precisamente onde o Senhor anuncia o evangelho da Misericórdia incondicional do Pai para com os mais pobres, os mais marginalizados e oprimidos, aí somos chamados a escolher, a combater o bom combate da fé” – afirmou o Papa Francisco exortando os sacerdotes a viverem a dinâmica do bom Samaritano que “usou de misericórdia”: “comoveu-se, aproximou-se do ferido, faixou as suas feridas, levou-o para a pousada, pernoitou e prometeu voltar para pagar o que tivessem gasto a mais. Esta é a dinâmica da Misericórdia, que encadeia um pequeno gesto noutro e, sem ofender nenhuma fragilidade, vai-se alargando aos poucos na ajuda e no amor” – disse o Papa.

Filhos do mesmo Pai

24 de março, Quinta-Feira Santa, o Papa Francisco celebrou a Missa da Ceia do Senhor fora do Vaticano, na periferia norte de Roma: Francisco celebrou o lava-pés com refugiados católicos, ortodoxos, muçulmanos e hindus.

Foi no “Cara” – Centro de Acolhimento de Requerentes de Asilo, em Castelnuovo di Porto que o Santo Padre celebrou a Eucaristia para cerca de 800 pessoas, na sua maioria jovens refugiados.

Na sua homilia, o Papa Francisco, falando de improviso, referiu dois gestos: Jesus que lava os pés aos seus discípulos e Judas que, por 30 moedas, entrega Jesus aos inimigos. “Também hoje aqui existem dois gestos” – disse o Papa:

Este: todos nós juntos, muçulmanos, hindus, católicos, coptas, evangélicos, mas irmãos, filhos do mesmo Deus, que queremos viver em paz, integrados” – afirmou o Santo Padre – e um outro gesto: o dos atentados terroristas em Bruxelas: “um gesto de guerra, de destruição”.

Para o Papa Francisco por trás dos bombistas suicidas há outros interesses: “Atrás daquele gesto estão os traficantes de armas que querem o sangue, não a paz, que não querem a paz, não querem a fraternidade” – afirmou o Santo Padre.

Para contrariar o terrorismo, Francisco citou a reunião de todos: “diversas religiões, diversas culturas, filhos do mesmo Pai”.

Na homilia da Missa da Ceia do Senhor, o Papa Francisco recordou as dificuldades enfrentadas pelos refugiados e dirigiu-se a cada um deles explicando o simbolismo do gesto do lava-pés:

Este é o gesto que eu faço, convosco, cada um de nós tem uma história, cada um de vós tem uma história, tantas cruzes e dores, mas também um coração aberto à fraternidade”.

Antes de passar ao Rito do Lava-pés, o Santo Padre pediu que cada um, na sua língua, “rezasse ao Senhor para que esta fraternidade se espalhe pelo mundo” - disse.

Para a cerimónia do lava-pés foram escolhidos 8 homens e 4 mulheres, incluindo quatro nigerianos católicos, três ortodoxas da Eritreia, um hindu e três muçulmanos da Síria, Paquistão e Malí.

O centro de acolhimento tem neste momento 892 pessoas, incluindo 554 muçulmanos e 239 cristãos, entre eles muitos coptas, num total de 26 nacionalidades.

A misericórdia salva o mundo

25 de março, Sexta-Feira Santa: o Papa Francisco presidiu na Basílica de S. Pedro à Celebração da Paixão do Senhor, na qual se recorda a morte do Filho de Deus. A homilia foi proferida pelo padre Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia.

Na sua meditação o padre Raniero Cantalamessa abordou um tema da atualidade, os atentados desta semana em Bruxelas:

O ódio e a ferocidade dos atentados terroristas desta semana em Bruxelas ajudam-nos a perceber a força divina incluída nas últimas palavras de Cristo: “Pai perdoa-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23, 34). Por muito que o ódio dos homens nos possam empurrar, o amor de Deus foi e será sempre mais forte. É-nos dirigida a exortação do Apóstolo Paulo: ‘Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem.”

O oposto da misericórdia não é a justiça, mas a vingança – declarou o padre Cantalamessa – que afirmou que só uma coisa pode salvar o mundo: a misericórdia.

Os males do mundo e o amor de Deus

Via Sacra no Coliseu de Roma presidida pelo Papa Francisco na Sexta-Feira Santa. As meditações foram propostas por um texto da autoria do Cardeal Gualtiero Bassetti, arcebispo de Perugia em Itália. Foram meditações que quiseram demonstrar o imenso amor que chega até ao “escândalo da cruz” participando das feridas do mundo.

Nas 14 estações levaram a cruz várias pessoas: de referir uma família, membros da Unitalsi, a União Nacional Italiana de Transporte de Doentes a Lourdes e Santuários Internacionais e também pessoas de várias nacionalidades, tais como, a China, a Rússia, a Bósnia, os EUA, o Equador, o Quénia e a República Centro Africana.

No final da celebração o Santo Padre propôs uma oração na qual lembrou os fundamentalismos, o terrorismo, as guerras e os corruptos. Denunciou a destruição do meio ambiente e os mares que se tornaram “cemitérios insaciáveis”. O Santo Padre referiu-se também aos “ministros infiéis” que retiram a dignidade aos inocentes. Preces de Francisco também pelos idosos abandonados, pelas pessoas com deficiência e pelas crianças desnutridas.

Mas há sinais de esperança que o Papa Francisco referiu nas pessoas que cumprem os mandamentos, nos arrependidos, nos misericordiosos, nos Beatos e nos Santos, nas famílias que vivem com fidelidade e fecundidade a sua vocação matrimonial, nos voluntários e nos perseguidos. Especial referência do Santo Padre para os consagrados aos quais chamou de “bons samaritanos”.

A vitória do mal dissipa-se perante a certeza da ressurreição e do amor de Deus – disse o Papa no final da sua oração.

E terminamos assim esta síntese dos principais momentos da Semana Santa do Papa neste ano de 2016. Esta rubrica regressa na próxima semana sempre aqui na RV em língua portuguesa.

(RS)








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