2016-03-26 14:01:00

"Vem, vem ver o dom de Deus" -Teresa recorda a fé do povo sidamo


O Senhor por vezes dá e por vezes tira… saber aceitar isto é acto de fé… Teresa Mónaco, italiana, teve ocasião de viver isto, anos atrás, junto da população de Sidamo, no Sul da Etiópia. Foi para ela, uma lição de vida e de fé que ainda hoje se recorda com alegria. Diferente, mas igualmente rica, doutros pontos de vista, foi a experiencia que viveu mais recentemente na República Democrática do Congo, onde trabalhou no economato da Província dos Missionários combonianos. Oiça na rubrica sobre as mulheres, estas duas experiências, assim como os seus sonhos neste ano Jubilar da Misericórdia…

Ou então leia: 

Teresa Mónaco é italiana. Ex-professora da escola secundária, agora na casa dos 60, reformada, ela é uma católica praticante. E viveu com muita profundidade e respeito o conceito da misericórdia. Então, no Natal passado, já em pleno Ano Jubilar da Misericórdia, decidiu enfeitar a sua árvore com extractos de salmos sobre a Misericórdia. Nessa altura falamos desses salmos na nossa emissão semanal “Misericórdia de Lés a Lés”. Nessa altura ela disse-nos também que ao atravessar a Porta Santa na Basílica de São Paulo, perto da sua casa, pensou nas tantas pessoas desiludidas, amedrontadas, cheias de cólera, rezando para que possam sentir a presença de nas suas vidas mesmo em pequenas coisas, por forma a estarem seguros de Deus nos ama e está sempre de asa aberta para nos proteger…

Teresa que é uma amante da África e já teve a oportunidade de viver por algum tempo em dois países, RDC e Etiópia, onde viu muita pobreza, mas também muita riqueza interior, falou-nos também desta sua experiencia…

Não é talvez objectivo o que digo, mas o que senti quando estive no seio do povo sidamo, no Sul da Etiópia, uma população inicialmente pagã – os combonianos comemoram este ano 50 anos de presença com eles – eu estava lá a trabalhar com mulheres e meninas, na suas aldeias, e tanto pela sua expressão, modo de cumprimentar… como também pela sua vida quotidiana, deram um testemunho de fé incrível (riso). Na minha opinião, os catequistas não fomos nós. Viver essa simplicidade de reconhecer a presença de Deus em todos os factos da vida, belos e tristes… aceitar aquilo que o Senhor nos manda como sendo parte de um seu projecto… que no imediato eles não pretendem compreender, facto que nós, pelo contrário pretendemos compreender e mesmo rectificar se não nos agrada… isto para mim foi uma lição de vida incrível. Recordo sempre a história duma senhora – Márito, chamava-se assim – que vinha sempre aos encontros que fazíamos regularmente. A um dado momento deixou de vir e eu perguntei porquê e me disseram que estava para dar à luz… Poucos dias depois essas mesmas pessoas disseram-me que tinha dado à luz mas que a criança tinha nascido morta. Fui visitá-la, choravam, porque eles choram, as pessoas reúnem-se e choram juntas… Na cama estava, envolta em panos, essa criatura inerme. Abraçamo-nos, choramos juntas e ela me disse: “O Senhor tomou-mo”. Eu não sabia o que dizer, um pouco porque com a língua não é que me desenrascasse muito bem, mas também porque em casos como esses o que se pode dizer.... E fui-me embora. Passado mais de um ano, eu estava a despedir-me das pessoas porque regressava para a Itália e já no carro via-a, e ela gritou para mim: “vem, vem, vem ver o dom de Deus”. Entrei na sua cabana e estava lá um pequenito belíssimo com duas bochechas gorduchas assim… E ela disse-me: “Este é o dom de Deus” – Deus é um pai que, por vezes tira e não de diz porquê, mas depois te dá de novo. Para uma mulher que talvez nem era baptizada… para mim foi a síntese do que significa crer…. E guardo deles esta e tantas outras recordações muito belas”.

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 “Na República Democrática do Congo estive dois anos, mas não tive a sorte e a possibilidade de trabalhar com as pessoas. Estava na cidade a trabalhar no economato da Província dos Missionários Combonianos… Por isso foi uma experiência completamente diferente, um pouco devido à minha dificuldade em aprender uma nova língua e depois, sobretudo pela falta de contacto directo com as pessoas locais. Por isso, foi para mim como que um período de deserto, digamos assim… Um período em que continuava a dizer a mim própria que não podia fazer comparação, que não é justo fazer comparações… mas era completamente diferente da experiencia que tive na Etiópia, porque ali tinha estado quando tinha 25 anos de idade, na RDC já ia pelos 60 anos, a capacidade de adaptação, de compreensão, de suportação das fadigas… eram diferentes… tantas coisas que me puseram em crise profunda (riso). Mas, desta experiência compreendi que para estar com essas pessoas é preciso muito tempo, não se pode pretender compreender imediatamente ou poder partilhar… enquanto não houver a possibilidade de entrar em empatia e, para isso, obviamente, a língua, o contacto interpessoal… é muito importante.”

E neste mundo marcado por violência, sofrimentos, êxodos de populações, obrigadas a deixar os próprios países devido à pobreza e a guerras, eis o sonho que Teresa Mónaco acalenta neste Ano da Misericórdia, de modo particular:

 “Gostaria, por exemplo, no plano do acolhimento destas pessoas que sei donde vêm e porque vêm – se não se esteve nesses lugares pode-se dizer muito… mas quem esteve pode dar testemunho de situações que, por vezes, obrigar a fugir, a sair do país, a deixar os entes queridos, casa… tudo, para procurar uma esperança de vida algures… Então eu sonho para mim, para a Itália, para o mundo, para essas pessoas obrigadas a abandonar os seus países, uma maior capacidade de compreensão, de conhecimento porque, na minha opinião, temos medo sobretudo porque não conhecemos. Quando uma pessoa estrangeira, imigrada… começas a chamá-la pelo seu nome, a saber quem é ela, donde vem e porquê, quem deixou para trás, o nome do seu pai, da sua mãe, dos seus filhos, da sua esposa ou esposo… enfim, quando começas a chamá-la pelo seu nome próprio… eu penso que o Senhor nos chama pelo nosso nome, assim como chama por nome as estrelas, não é?... Nós, pelo contrário, temos a tendência a massificar todos, a fazer de toda a erva um feixe… Não poderemos nunca dar acolhimento enquanto não identificarmos na relação interpessoal com as pessoas. Não é que temos de o fazer com um número elevado de pessoas. Bastaria saber encontrar duas, três quatro pessoas, saber chamá-las pelo próprio nome, fazê-las sentir-se à vontade, amigas, acolhidas, partilhar a sua dor, ânsia, sede de vida… este é o augúrio que faço a mim própria e a quanto estão à minha volta”.

(DA)

 








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