Concílio Vaticano II: Os quatro documentos pilares de um edifício


Cidade do Vaticano (RV) - No nosso espaço Memória História - 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos começar a tratar na edição de hoje, dos quatro grandes documentos do Concílio.

O Concílio Vaticano II produziu 16 documentos, sendo quatro Constituições, nove Decretos e três Declarações. Padre Gerson Schmidt, jornalista, incardinado na Arquidiocese de Porto Alegre, nos faz uma introdução dos quatro "documentos pilares de um edifício":

"Passados mais de 50 anos do encerramento do Concilio Vaticano II, a Igreja percebe, cada vez mais, que de fato o Concílio foi um acontecimento fundamental, um divisor de águas, sem o qual hoje não se compreenderia muito bem a missão da Igreja, como o próprio documento conciliar Lumen Gentium aponta, a Igreja ser a Luz para os povos, um sacramento universal de Salvação. A constituição dogmática Lumen Gentium é o documento central do Concílio. Quem mesmo disse isso, que a Lumen Gentium é o documento mais importante, foi o Papa Paulo VI, o Papa do Concílio que deu sequência ao concílio, depois da morte de João XIII . E disse mais que, dos oito capítulos de Lumen Gentium, o capítulo quinto era o mais importante, que trata da “vocação universal a santidade” – todos somos chamados a santidade – ou seja, cada um no sua vocação específica, onde se sente chamado.

A Lumen Gentium faz também uma grande afirmação da Igreja ser “sacramento da salvação”. Que se entende por isso? E veremos aqui o que significa realmente ser Sacramento de Salvação para o mundo de hoje. Porque muitos especialistas afirmam que a Igreja ainda não conseguiu colocar em prática as conclusões do Concílio e talvez esteja aqui uma das perguntas principais que deveríamos fazer: a Igreja é para o mundo um sinal, uma luz para os povos, um sacramento de Salvação? E veremos que talvez estejamos ainda muito aquém daquela luz que nos deu o Concílio.

Vamos por passos. Dos 16 documentos conciliares, 4 se destacam como os mais importantes, relevantes, os pilares para entendermos também os outros: Lumen Gentium, Sacrosanctum Concilium, Gaudium et Spes e Dei Verbum. Essas quatro são Constituições, os outros apenas Decretos ou Declarações. Comparemos esses quatro documentos como os quatro pilares que sustentam uma casa ou um edifício. Sobre esses quatro pilares a Igreja hoje edifica sua missão, para salvaguardar o depósito, o tesouro da sua doutrina, a riqueza do Evangelho, para apresentá-lo ao mundo, ao homem de nosso tempo. Entendamos bem esses 4 documentos, situando cada qual.

1. Precisava-se urgentemente na Igreja uma Renovação Teológica. Houveram grandes teólogos na época: Para isso, respondeu o documento conciliar Dei Verbum, que fala de toda a Revelação Divina e de sua transmissão, que é uma constituição dogmática;

2. Precisava-se renovar a Liturgia, não podendo mais somente se rezar em Latim, o padre virado de costas e ninguém entendendo nada da Liturgia. A Constituição Sacrosanctum Concilium responde a essa verdadeira renovação do modo de celebrar e entender a própria liturgia;

3. Urgia, na Igreja, um verdadeiro e profundo diálogo com o mundo, com o homem moderno, da técnica, das correntes sociais. A Constituição pastoral Gaudium et Spes vinha de encontro a essas tantas perguntas que se fazem da vida, da sociedade em constante mudança e a missão da Igreja no mundo. Note-se que é uma constituição pastoral porque tem a intenção de exprimir as relações da Igreja com o mundo e o homem moderno – diria hoje já pós-moderno. Diga-se que o concílio teve esse caráter pastoral e ecumênico, não tanto dogmático como foi o de Trento e outros.

4. Finalmente, também se precisava uma verdadeira mudança de mentalidade em relação à própria identidade da Igreja, refletindo sobre si mesma, sua missão, sua atuação como fermento de transformação. Para isso a Constituição dogmática Lumen Gentium, vinha de encontro a essas respostas. Diga-se que esse foi o mais polêmico documento, que necessitou de inúmeras reformulações até ser aprovado quase por unanimidade, havendo apenas 5 votos contrários em novembro de 1964. Falar para os outros é fácil. Falar de si mesmo é tarefa mais complicada. E por isso esse documento, amplamente discutido e revisado, é hoje uma grande pérola em nossas mãos que temos que aprofundar, nesse espaço Memória histórica, 50 anos do Concilio Vaticano II.

Para finalizar, gostaria aqui de fazer uma comparação desses quatro documentos com a conclusão do sínodo dos bispos sobre a Palavra que aconteceu em 2008. Os bispos, nesse sínodo, faziam uma bela comparação e diziam que a PALAVRA DE DEUS TEM UMA CASA, UM ROSTO, UMA BOCA E UM CAMINHO. A CASA da palavra é a Igreja; o rosto da Palavra é Jesus Cristo; a Voz da Palavra é a revelação e o caminho da Palavra é a evangelização.

Vejamos agora a comparação com esses quatro importantes documentos do Concílio Vaticano II:

1. A CASA da palavra é a Igreja – LUMEN GENTIUM – QUE FALA SOBRE A IGREJA EM SI MESMA – Temos que conhecer a nossa casa

2. O ROSTO da Palavra é Jesus Cristo – liturgia, onde O ROSTO DE Deus se revela – SACROSSACTUM CONCILIUM – Revelar o rosto de Cristo naquilo que ele mesmo instituiu – os sacramentos.

3. A VOZ da Palavra é a revelação – DOCUMENTO CONCILIAR – DEI VERBUM – Depositos fidei – depósito da fé;

4. FINALMENTE - o CAMINHO da Palavra é a evangelização – GAUDIUM ET SPES, A Igreja no mundo – Os grandes desafios de levar a Palavra ao HOMEM MODERNO". 








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