Papel positivo da Igreja nas relações EUA-Cuba tem valor continental


Havana (RV) – Em seu terceiro dia em Havana, Barack Obama fez um discurso à nação, com transmissão ao vivo pela televisão e rádio em Cuba. A visita histórica à ilha é a primeira de um presidente estadunidense depois de quase 90 anos.

Na segunda-feira (21), no Palácio da Revolução em Havana, aconteceu o histórico aperto de mãos entre o presidente dos EUA e Raul Castro. Esse último solicitou a anulação do embargo da parte americana, enquanto o chefe da Casa Branca exortou o respeito aos direitos humanos.

Em entrevista à Rádio Vaticano, o historiador Agostino Giovagnoli, docente da Universidade Católica Sacro Cuore de Milão, comentou o significado da visita e o papel da Igreja no desgelo EUA-Cuba.

Prof. Agostino – Não há dúvidas que se trata de uma notícia importante e muito positiva, porque marca o final daquela hostilidade que dividiu os Estados Unidos e Cuba por mais de 50 anos, e que representou um fator de tensão fortíssima, também em relação à toda realidade norte-americana. Estamos, então, a caminho, numa estrada que é extremamente positiva, uma estrada de paz e de colaboração; inclusive se, como sublinhou tanto o presidente Barack Obama como Raul Castro, trata-se de um percurso do qual ainda não se veem claramente as saídas.

RV – Esta visita de Obama a Cuba também tem um forte significado simbólico: existe uma imagem que lhe marcou de maneira especial?

Prof. Agostino – Certamente, do ponto de vista protocolar, é interessante que tenha ocorrido o encontro com o Card. Ortega bem ao início da visita. Sublinhando, mais uma vez, que atrás dessa mudança, atualmente em curso, um papel importante teve a Igreja católica em Cuba, e ainda mais o Papa Francisco e a Santa Sé.

RV – Obama bem lembrou o papel de Francisco nessa construção de pontes entre Cuba e Estados Unidos: segundo o senhor, qual papel poderá ter agora a Igreja católica e os católicos cubanos no futuro das relações entre os cubanos e os americanos?

Prof. Agostino – Esse é um papel muito importante, porque a Igreja sempre desenvolveu uma ação positiva, reconhecida pela realidade cubana e pelas mesmas autoridades do país. Então, esse papel positivo pode prosseguir. Inclusive porque é um papel, de uma parte de apoio à vida do povo cubano, de desenvolvimento no sentido do crescimento econômico e assim por diante, mas é também um papel que tende a desatar os nós da conflitualidade, da hostilidade, que foram tão difíceis por tanto tempo e que continuam a ser. Em outras palavras, é um papel específico, mas que tem um valor continental: tem reflexos sobre toda a realidade latino-americana.

RV – Muitos observadores têm notado que com a chegada de Obama em Cuba também chegou a Google. Em qualquer maneira Cuba se abre ao mundo também através da Internet, um pouco como desejava  São João Paulo II na sua histórica visita em 1998...

Prof. Agostino – Sim, efetivamente, é uma confirmação do fato que as visitas dos papas tenham sido um “precursor” desse lento, mas feliz percurso, como vemos hoje. As aberturas no plano econômico são certamente muito importantes. O acordo com a Google acrescenta inclusive alguma coisa a mais, porque obviamente a Internet quer dizer comunicação, então, também ligações internacionais. Certo, Cuba hoje se encontra em meio a uma questão de direitos humanos não ainda resolvida em relação à democracia e à liberdade, e ao risco de que melhorar as relações com os EUA se transforme num tipo de novo protetorado, não mais político, mas econômico. Essa não seria certamente a coisa mais desejada por essa ilha que, ao contrário, deve se transformar num laboratório importante num mundo que, ao contrário, é abalado por tantos conflitos e por tantos contrastes.

(AC)








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