2016-03-14 14:00:00

Semana do Papa: Exercícios Espirituais


Destaque especial nesta “Semana do Papa” para os Exercícios Espirituais para o Papa e Curia Romana na Casa do Divino Mestre na cidade de Ariccia nesta Quaresma de 2016. A guiar as meditações, o padre Ermes Ronchi, sacerdote italiano da Ordem dos Servos de Maria.

Deus pode morrer de tédio nas nossas Igrejas

Tema central dos Exercícios Espirituais “As perguntas abertas do Evangelho”. Uma primeira pergunta foi extraída do Evangelho de S. João: “Jesus vol­tou-se para trás e, vendo que eles o seguiam, perguntou-lhes: “Que procurais?”  (Jo, 1, 38).

Deixarmo-nos interrogar pelo Senhor – esta a ideia principal proposta pelo padre Ronchi no início do retiro da Quaresma para o Papa e os membros da Curia Romana. Educar a fé através de questões mais do que através de afirmações. São as perguntas abertas do Evangelho.

O padre Ronchi recordou ainda que Jesus não nos pede renúncias ou sacrifícios, mas pede em primeiro lugar para entrar no nosso coração.

A fé é buscar um Deus cujo nome é alegria, liberdade e plenitude que deve ser anunciado como belo, desejável e interessante. O padre Ronchi afirmou, entretanto, que Deus pode morrer de tédio nas nossas igrejas. É preciso restituir a sua face solar – observou – um Deus que deve ser saboreado. Um Deus desejável que faz feliz o coração.

Igreja viva para os outros

Na tarde do segundo dia dos Exercícios Espirituais para o Papa e a Curia Romana o padre Ermes Ronchi partiu para a sua meditação tomando o texto de Mateus: “Vós sois o sal da terra. Mas se o sal perder o seu sabor com o que se há de salgar?” (Mt. 5, 13)

O sal, desde o mundo antigo, é um elemento precioso e denso de significados. Um símbolo da conservação daquilo que merece durar – afirmou o padre Ronchi sublinhando que os discípulos como o sal preservam aquilo que alimenta a vida na terra, ou seja, o Evangelho. A humildade do sal e da luz é modelo para a Igreja e os discípulos:

“Eis a humildade do sal e da luz. Que não atraem a atenção sobre si, não se colocam no centro, mas valorizam aquilo que encontram.” – afirmou o padre Ronchi.

Como a luz, também nós devemos ter olhares luminosos – explicou ainda o padre Ronchi – olhares luminosos que quando se voltam para as pessoas evidenciam tudo aquilo que há de mais bonito no homem. E como o sal, também nós não devemos ter valor senão no encontro – afirmou o padre Ronchi:

“Observemos o sal. Enquanto permanece na sua caixa, fechado numa gaveta da cozinha não serve para nada. A sua finalidade é sair e perder-se para melhorar as coisas. Doa-se e desaparece. Igreja que se doa, se dissolve, que acende, que vive para os outros…”

Jesus não é moralista. Coloca no centro a pessoa

Na tarde do terceiro dia dos Exercícios Espirituais, o padre Ermes Ronchi meditou sobre a seguinte ‘pergunta aberta no Evangelho’: “E voltando-se para a mulher disse a Simão: Vês esta mulher?” (Lc 7, 44)

No Dia Internacional da Mulher o padre Ermes Ronchi assinalou, antes de mais, que no Evangelho muitas mulheres seguiam e serviam Jesus.

Nesta passagem do texto de S. Lucas Jesus rompe com as convenções e permite que uma mulher, considerada por todos como pecadora, chore aos seus pés e os enxugue com os seus cabelos, beijando-os e ungindo-os com óleo perfumado.

Simão, o fariseu, anfitrião daquele jantar, fica surpreendido e Jesus diz-lhe: “Vês esta mulher?” O olhar de Simão é um “olhar que julga” – referiu o padre Ronchi que afirmou que aquela mulher de pecadora torna-se na “perdoada que tanto amou”:

“Jesus durante toda a vida ensinará o olhar que não julga, que inclui, o olhar misericordioso” – afirmou – “Jesus não é moralista. Coloca no centro a pessoa com as suas lágrimas e sorrisos, a sua carne dorida ou exultante, e não a lei.”

Igreja seja transparente sobre os bens

9 de março, quarto dia dos Exercícios Espirituais para o Papa e a Curia Romana. O padre Ermes Ronchi propôs uma meditação partindo da pergunta do texto de S. Marcos: “Jesus perguntou aos seus discípulos: Quantos pães tendes?” (Mc 6, 38)

O padre Ronchi iniciou a sua meditação afirmando que “aquilo que mais fere o povo cristão é o apego do clero ao dinheiro” enquanto que “o que faz o povo cristão feliz é o pão compartilhado” – referiu.

A transparência dos bens da Igreja, a luta contra à fome e contra o desperdício de alimentos foram os principais temas que conduziram a meditação. Em particular o padre Ronchi sublinhou na interrogação de Jesus: “Quantos pães tendes?”, um sentido prático e concreto. Jesus pede para fazermos contas:

“Isso é pedido a todos os discípulos também hoje, e a mim: quanto tens? Quanto dinheiro, quantas casas? Que padrão de vida? Vejam, verifiquem. Quantos carros ou quantas joias em forma de cruz e de anéis? A Igreja não deve ter medo da transparência, não deve ter nenhum medo da clareza sobre os seus pães e peixes, os seus bens. Cinco pães e dois peixes”.

Perdão é recolocar em caminho uma vida

A passagem da mulher adúltera foi ignorada durante séculos pelas comunidades cristãs porque “escandalizava a misericórdia de Deus” – disse o padre Ronchi. O nome da mulher não é conhecido, mas ela “representa todos” e é esmagada pelos poderes da morte que expressam a opressão dos homens sobre as mulheres.

Mas o cristianismo é abraço entre Deus e o homem. É a proximidade com a fragilidade:

“É a cura dos frágeis, é a cura dos últimos, dos portadores de deficiências e a atenção às pedras descartadas que indicam o grau de civilização de um povo, não as proezas dos fortes e dos poderosos” – disse o padre Ronchi.

O contrário do amor é a indiferença

Na tarde do quinto dia dos Exercícios Espirituais o padre Ermes Ronchi propôs uma meditação partindo da pergunta do texto de S. João: “Simão, filho de João, tu amas-me?” (Jo 21, 16)

A pergunta de Jesus a Simão Pedro é dirigida a cada homem e é uma questão que “abre percursos, inicia processos” – referiu o padre Ronchi que sublinhou que o amor de Deus reacende “os corações”, “a paixão”. E a fé em Deus tem três passos: preciso, confio e entrego-me.

“Crer é ter uma relação com Deus” – afirmou o padre Ronchi e “a crise da fé no mundo ocidental” – explicou o pregador dos exercícios espirituais – “começa” propriamente “com a crise do ato humano de crer”. “Porque não se crê no amor.” O amor é dar e o contrário do amor não é o ódio, mas a indiferença:

“O contrário do amor não é o ódio, mas a indiferença que é a seiva que alimenta todo o mal, a seiva secreta do pecado. A indiferença na qual o outro para ti não existe, não conta, não vale, não é nada.”

Maria recorda que a fé é alegria ou não é fé

11 de março: na manhã do sexto e último dia dos Exercícios Espirituais para o Papa e para a Curia Romana, teve lugar em Ariccia na Casa do Divino Mestre, a última meditação do padre Ermes Ronchi que refletiu partindo da pergunta do texto de S. Lucas: “Maria disse ao Anjo: como será isso se eu não conheço homem?” (Lc 1, 34)

“O primeiro anúncio de graça do Evangelho foi entregue à normalidade de uma casa”, ou seja, ao lugar onde cada um é si próprio. É ali que Deus nos encontra e nos toca” – afirmou o padre Ronchi que recordou as palavras de Santa Teresa de Ávila às suas monjas: “Deus está entre as panelas, na cozinha”. Deus no território da proximidade. Se não sentimos Deus nas coisas simples não encontramos Deus na vida.

“A mulher de Nazaré como dona de casa lança-nos um desafio enorme: passar de uma espiritualidade que se fundamenta na lógica do extraordinário para a mística do quotidiano” – afirmou o padre Ronchi – uma fé que é alegria:

“A nós que estamos cobertos de gravidade e de peso, e de responsabilidades também, Maria recorda que a fé ou é alegria, confiança ou não é.”

Maria é uma mulher que crê no amor e o anjo foi mandado a uma virgem, prometida esposa de um homem chamado José. Segundo o Evangelista Lucas, a anunciação é feita a Maria e segundo Mateus, a José.

“Se sobrepomos os dois Evangelhos vemos com alegria que o anúncio é feito ao casal, ao esposo e à esposa juntos, ao justo e à virgem apaixonados” – observou o padre Ronchi.

No Angelus deste domingo dia 13 de março, V Domingo da Quaresma e terceiro aniversário do início do pontificado do Papa Francisco, o Santo Padre renovou o gesto de oferecer aos fiéis presentes na Praça de S. Pedro uma edição de bolso do Evangelho. Neste caso o Evangelho de S. Lucas.

E com o Angelus deste domingo terminamos esta síntese das principais atividades do Santo Padre que foram notícia de 7 a 13 de março. Esta rubrica regressa na próxima semana sempre aqui na RV em língua portuguesa.

(RS)








All the contents on this site are copyrighted ©.