Pe. Ronchi: Jesus não é moralista, somos nós que moralizamos o Evangelho


Ariccia (RV) - “Jesus não é um moralista. Somos nós que moralizamos o Evangelho.” Foi o que disse, na tarde desta terça-feira (08/03), o Pe. Ermes Ronchi na quinta meditação dos Exercícios espirituais para o Papa Francisco e a Cúria Romana, em andamento na Casa ‘Divino Mestre’, em Ariccia.
 
No Dia Internacional da Mulher o religioso recordou que no Evangelho muitas mulheres seguiam e serviam Jesus, lamentando a presença somente de homens no encontro.

“O Evangelho não é moralista”, sublinhou Pe. Ronchi partindo da passagem do Evangelho em que Jesus que tinha sido convidado à  casa de Simão, o fariseu, rompe toda convenção e deixa que uma mulher, por todos considerada pecadora, chore aos seus pés, os enxugue com os seus cabelos, beijando-os e ungindo-os com óleo perfumado. Diante desta surpresa de Simão, Jesus adverte: “Olha esta mulher”, de pecadora se torna “a perdoada que tanto amou”.

“No jantar na casa de Simão, o fariseu, começa um conflito surpreendente: o pio e a prostituta; o potente e a sem nome, a lei e o perfume, a regra e o amor em confronto. O erro de Simão foi o olhar que julga.”
“Jesus durante toda a vida ensinará o olhar que não julga, que inclui, o olhar misericordioso”.

“Simão coloca no centro da relação entre homem e Deus o pecado, o faz o eixo da religião”. 

“É o erro dos moralistas de todas as épocas, dos fariseus de sempre. Jesus não é moralista. Coloca no centro a pessoa com suas lágrimas e sorrisos, a sua carne dolorida ou exultante, e não a lei.”

“No Evangelho encontramos com mais frequência a palavra pobre do que a palavra pecador”, disse Pe. Ronchi.
“Adão é pobre antes que pecador; somos frágeis e custódios de lágrimas, prisioneiros de mil limites, antes que culpados. Somos nós que moralizamos o Evangelho”.

“No princípio não era assim: Pe. Vannucci diz isso muito bem. O Evangelho não é uma moral, mas uma libertação que abala e nos leva para fora do paradigma do pecado para nos conduzir para dentro do paradigma da plenitude, da vida em plenitude”.

Simão, o moralista, olha o passado da mulher, vê “uma história de transgressões”, “enquanto Jesus”, explicou Pe. Ronchi, “vê o muito amor de hoje e de amanhã”. 

“Jesus não ignora quem é, não faz de conta de não saber, mas a acolhe com as suas feridas e sobretudo com a sua centelha de luz, que Ele faz brotar”.

“No centro da cena deveria estar Simão pio e potente, e ao invés, o centro é ocupado pela mulher”.

“Somente Jesus é capaz de fazer esta mudança de perspectiva, de dar espaço aos últimos. Jesus muda o foco, o ponto de vista do pecado da mulher às faltas de Simão, o desestrutura, o coloca em dificuldade como fará com os acusadores da adúltera no templo”.

“Se Jesus perguntasse também a mim”, disse sorrindo Pe. Ronchi, “você vê esta mulher? Eu deveria responder: Não Senhor, aqui vejo somente homens”.

“Não é muito normal este reconhecer. Devemos tomar nota de um vazio que não corresponde à realidade da humanidade e da Igreja.”

“Não era assim no Evangelho” onde muitas mulheres seguiam e serviam Jesus, mas “no nosso séquito não as vejo”, disse Pe. Ronchi.

“O que nos faz tanto medo que temos de tomar distâncias desta mulher e das outras? Jesus era soberanamente indiferente ao passado de uma pessoa, ao gênero de uma pessoa, não raciocina nunca por categorias ou estereótipos. Penso que também o Espírito Santo distribua os seus dons sem olhar para o gênero das pessoas.”

Jesus, marcado por aquela mulher que o comoveu, não a esquece: Na última ceia repetirá o gesto da pecadora desconhecida e apaixonada, lavará os pés de seus discípulos e os enxugará”.
“O homem quando ama realiza gestos divinos, Deus quando ama realiza gestos humanos, e o faz com coração de carne”.

“É muito fácil para nós quando somos confessores não ver as pessoas, com as suas necessidades e suas lágrimas, mas ver a norma aplicada ou infringida. Generalizar, colocar as pessoas dentro de uma categoria, classificar. Assim, alimentamos a dureza do coração, a esclerocardia, doença que Jesus mais temia. Tornamo-nos burocratas das regras e analfabetos do coração. Não encontramos a vida, mas somente o nosso preconceito.” (MJ)

 

 








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