2016-02-15 17:03:00

Novo bispo de Macau, D. Stephen Lee Bun-sang, fala da Diocese


Foi uma mudança inesperada na dicocese de Macau. D. José Lai resignou por questões de saúde e para o seu lugar foi chamdo o bispo auxiliar de Hong Kong D. Stephen Lee. Uma novidade na histórica diocese de Macau que sempre teve à sua frente um prelado português ou fluente na língua, mesmo depois da transição de poderes em 1999.

D. Stephen Lee  Bun-sang  60 anos, da prelatura da Opus Dei, entrou oficialmente em funcões no passado dia 24 de janeiro, exactamente no aniversário da diocese que foi sede do Padroado Português no Extremo Oriente  –  faz 440 anos de vida. Uma festa celebrada com um novo pastor, o terceiro bispo em cerca de decada e meia de Macau região administrativa da China.

Que expectativas parte para este seu trabalho?

Não tenho ainda grandes expectativas, é ainda muito cedo. Foi tudo muito rápido. Preciso de algum tempo. Aconteceu tudo nos últimos meses. Já falei com vários sacerdotes da cúria e estou a pensar começar, em breve, a visitar as paróquias. Com a graça de Deus espero vir a fazer um trabalho melhor, um bom trabalho.

Que conhecimento tem da comunidade local?

Antes de ser nomeado, costumava vir a Macau, organizava alguns retiros com algumas pessoas daqui. Eu era vigário geral para o Sudeste Asiático e, por isso, viajava muito. Taiwan, Coreia, Macau... Por isso, as pessoas e a cultura portuguesa são-me familiares. Isto mesmo antes da transição.

Conhecia D. Domingos Lam (primeiro bispo chinês em funções depois da transição), portanto...

Sim, sim, visitava-o várias vezes tal como ao bispo Lai. Todos os anos eu vinha convidado para a missa, etc.

Quais são os principais problemas, as principais questões que se colocam à diocese e à comunidade de crentes neste momento particular?

Eu coloquei-me como missão principal o reforço da fé. Quero empenhar-me nas questões da caridade, da assistência caritativa e colocar-me ao serviço da comunidade. Tal como o papa Francisco nos lembra sempre neste Jubileu da Misericórdia. Espero, nesse sentido, vir a aumentar a temperatura no que toca ao amor ao próximo e ao amor a Deus.

Esta é uma cidade de jogo em que o materialismo é um valor arreigado. Considera que este é um desafio pastoral?

Bem, os casinos e o jogo são um facto. Como Igreja temos sempre de enfrentar inúmeros desafios. E isso inclui a questão social. Em Macau, é um facto da vida e não podemos alterar essas coisas. Dito isto, penso que com ajuda de outros creio que importa sensibilizar a comunidade e dizer que o materialismo não é o valor essencial da vida. Com a ajuda de todos, vou tentar, em especial, junto dos jovens e em especial através da educação e formação, ir mais além.

Apostar na educação católica?

Repare que temos mais de 20 escolas católicas em Macau. Temos de através das escolas disponibilizar cada vez mais uma melhor educação. Em particular, numa cidade materialista como é Macau, reforçar os valores. Os valores da vida, do casamento, da família. São estes os valores em que eu gostaria de colocar especial ênfase.

Sei que não domina a língua portuguesa. Foi um dos factos mais comentados nestes dias, o facto do bispo não falar português. É qualquer coisa que o incomoda, que lhe cria algum embaraço?

Sim, não falo português é verdade. Mas não me incomoda porque faz parte do meu trabalho. Vou aonde o Santo Padre me diz para ir. Sigo as suas orientações, com a ajuda de Deus. E, como disse, amo os portugueses, como amo os outros e aprecio a cultura, a língua. Farei o meu melhor para aprender e, como falo castelhano bastante bem, aprenderei depressa.

Sente que, de alguma maneira, tem de conquistar essa comunidade?

Não se trata de conquistar. Faz parte do meu trabalho, tenho de alcançar o meu rebanho, como o farei com os filipinos ou quaisquer outros. Na Igreja, todos são iguais e não privilegiamos ninguém. Penso que os chineses, macaenses, portugueses, filipinos, todos são irmãs e irmãos. Por isso, a todos tenho de atender.

Que Igreja é que encontra em Macau?

É uma Igreja de gente boa, com os seus ritmos próprios, não tão acelerados como em Hong Kong, como uma particular cultura que ainda não sei bem descrever, mas com características muito próprias. É gente talentosa e rezo para que possamos dar o máximo de proveito ao talento das pessoas. Trabalhar para as pessoas e para a Igreja.

Que desafios principais é que acha vai encontrar em Macau?

Bem, não gostaria de falar em desafios. Serão os mesmos que tinha já em Hong Kong – o materialismo, o individualismo, e também os problemas da família, do casamento e da vida em geral. É aqui que importa apostar. Mesmo os valores tradicionais chineses e, em especial, junto dos jovens.

Diálogo inter-religioso. É sensível a esta questão?

Claro que sim. Todas as religiões, não as seitas, trabalham a pensar no bem das pessoas. E a maior parte trabalha com as pessoas, em especial no que toca aos problemas sociais. Penso que seria bom trabalharmos em conjunto.

Chega a uma diocese que tem um peso simbólico muito forte na sua missão de ponte com os católicos da chamada Igreja subterrânea da China. Como imagina o seu papel no diálogo com esses católicos?

Não imagino um papel especial. Penso que o Santo Padre espera que eu me empenhe, antes de mais, junto dos católicos locais de Macau. Mas, como disse Bento XVI, em Hong Kong e Macau seremos uma ponte na ajuda aos nossos irmãos e irmãs da China, mas desde que possamos ajudar. Se nos pedirem ajuda ajudaremos.

E como pode essa ajuda ser materializada?

Alguns instituições pedem-nos apoio na formação, em intercâmbios...

Que experiência tem no contacto com a China?

Nos últimos dez anos tenho-me deslocado, frequentemente, à China mas sempre por convite de alguém... na orientação de retiros, em cursos. Não acho que as coisas sejam sensíveis como se diz. A nossa actuação tem sido a adequada, não fazemos nada de ilegal, nenhuma actuação política mas tão só amparamos a nossa Igreja irmã, na China. Quando nos pedem, de modo próprio, eu estou presente e vou.

Está optimista com esta reaproximação entre Pequim e a Santa Sé?

Estou optimista no sentido em que tenho seguido de perto a abordagem do Papa Francisco à China e estou confiante de que ele está a fazer o melhor para alcançar as pessoas na China. Neste sentido, sim. E também tenho notado que o lado chinês também tem sido sensível a esta abordagem.

Tem, com certeza, conhecimento da controvérsia que envolveu a Universidade de São José e da turbulência que afectou a imagem da universidade. Que leitura faz da actual situação daquela instituição católica?

Eu estou aqui há umas semanas e ainda não visitei a Universidade e, na verdade, não estou a par do que se passa da Universidade.

Biografia de D. Stephen Lee...

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Completa este ano 60 anos e poderia ter sido arquitecto. O novo bispo de Macau foi um jovem estudante de arquitcetura em Inglaterra. Foi nessa altura que Stephan Lee aderiu à prelatura da Opus Dei, em Londres, como membro numerário, corria o ano de 1978. No regresso a Hong Kong, em 1982, ainda exerceu arquitectura durante dois anos, antes de entrar em 1984, no Seminário Internacional da prelatura do Opus Dei em Roma, onde estudou Filosofia e Teologia. Prosseguiu depois estudos na Universidade de Navarra, em Pamplona, e ali conseguiu o doutoramento em Direito Canónico. Foi tambem em Espanha que a 20 de Agosto de 1988 foi ordenado sacerdote.

Regressa a Hong Kong em 1989, e ali inicia trabalho pastoral como capelão em escolas e centros do Opus Dei. É nomeado nesse ano Defensor do Vínculo no Tribunal Diocesano de Hong Kong, e em 2002, torna-se vigário regional da Opus Dei para a Ásia Oriental.

O Papa Francisco nomeia-o bispo auxiliar de Hong Kong a 11 de Julho de 2014. Chega agora a bispo de Macau.

(Carlos Picassinos, em Macau)

 








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