Com o Hino à alegria, Beethoven intui a grandeza de Deus, diz Mons. Frisina


Cidade do Vaticano (RV) - "O Hino à alegria" ou "Ode à Alegria" (em alemão Ode an die Freude) foi o tema do terceiro e último encontro do Ciclo de Leituras Teológicas promovido pela Diocese de Roma e concluído na noite de quinta-feira, 28, no Palácio Lateranense. O fio condutor das três noites foi "A misericórdia na arte".

Um hino que falasse de alegria, mas que na realidade falasse sobre a liberdade, através de músicas novas nunca ouvidas anteriormente, transmitindo emoção ao coração de quem as ouve. Com este objetivo, Beethoven compôs a Nona Sinfonia, entre 1822 e 1824, que na parte coral inclui o "Hino à alegria", escrita alguns anos antes pelo poeta e filósofo Schiller. A este respeito falou aos microfones da Rádio Vaticano Monsenhor Marco Frisina, Presidente da Comissão Diocesana de Arte Sacra:

"Para Beethoven, o "Hino à alegria" era um desejo da vida, algo que queria expressar desde quando ainda era jovem, mas já doente, já no sofrimento e nos tormentos, quer espirituais como físicos. Era um texto de Schiller que ele amava e que sentia, de qualquer modo, como a expressão da sua fé, quer pela humanidade como por Deus. Para nós cristãos, a alegria é algo que nasce da ressurreição e é bonito ver esta intuição de um grande artista e de um gênio como Beethoven. Normalmente os artistas são um pouco profetas e vivem a sua vida de maneira misteriosa, mas colhendo na fé aquilo que é central, ou seja, que é fundamental, com todos os tormentos e as dificuldades de compreender o seu sentido. Assim, eu acredito que o "Hino à alegria" de Beethoven é para nós - precisamente neste Ano Jubilar - uma mensagem extraordinária: um homem que, com a sua pesquisa atormentada, intui a grandeza de Deus".

RV: Santo Agostinho dizia que cantar é como rezar duas vezes. Assim, quanto são importantes também o canto, a música que acompanham a oração...

"A música nos foi dada por Deus para expressar aquilo que as palavras não podem dizer ou não conseguem dizer suficientemente. Eu acredito que a música seja uma espécie de espessura e as palavras com a música adquirem um espessura diferente. Sempre a música - qualquer música - é como uma janela que se abre no coração profundo dos homens, pela qual é uma maneira com que Deus pode entrar facilmente".

O Hino torna-se rapidamente uma moda entre os jovens da Viena daquele tempo, mas o seu sucesso chega aos nossos dias, tanto que em 1972 foi adotado como o "Hino da Europa" e em 2001 declarado pela UNESCO "Memória do Mundo". Eis o que nos disse a este propósito o Maestro Michele Dall'Ongaro, da Academia Nacional de Santa Cecília:

"É necessário recordar que, originalmente, Schiller queria escrever um hino à liberdade e o jogo de palavras em alemão é fácil: "Freiheit" ao invés de "Freude". Mas a palavra liberdade era censurada e não se podia, portanto, escrever liberdade, mas a intenção é esta, porque não existe alegria sem liberdade e a liberdade dá alegria: neste sentido são sinônimos. É necessário também recordar que aquele texto estava na moda entre os jovens. Beethoven queria dirigir-se aos jovens com esta mensagem, porque não queria mudar o mundo, mas queria construí-lo. Tinha precisamente esta ideia! Toda a peça de Beethoven é dedicada à construção de um mundo ideal, onde efetivamente a fé em Deus, que ele sempre teve, se casasse com a confiança em uma sociedade melhor. E ele devia intervir... Portanto, no momento em que escreve este hino, consegue através de uma série de processos, elaborar um tema que nós, num certo sentido, sempre ouvimos durante a sinfonia sem nos darmos conta disto. Quando chega - como a revelação - nos parece já conhecê-lo, mesmo se nunca o havíamos ouvido antes. Por isto cria alegria, porque é uma revelação". (JE)








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