Um ano após Charlie Hebdo: privilegiar a fraternidade antes que o medo, pedem bispos


Paris (RV) – A França recorda as vítimas do “Charlie Hebdo” um ano após o ataque ao jornal satírico francês. Um aniversário vivido em clima de tensão, após os atentados em 13 de novembro que ensanguentaram Paris. A Rádio Vaticano pediu para o Arcebispo de Marselha e Presidente da Conferência Episcopal francesa para falar do compromisso da comunidade cristã em não deixar-se vencer pelo medo e ajudar a construir pontes:

“Certamente é uma questão delicada a recordação dos acontecimentos de 7 de janeiro, porque rapidamente na época perguntava-se quanto tempo duraria este luto nacional, esta unidade nacional que revelou-se de sobremaneira em 11 de janeiro, e percebeu-se que rompeu-se muito rapidamente. Já na ocasião do minuto  de silêncio nas escolas ocorreu um conjunto de acontecimentos negativos, e em seguida, muito rapidamente foi despertado o front das rivalidades políticas, “politicantes”... Pelo contrário, o que é o mais importante é olhar em que ponto se está hoje, um ano após, também depois dos atentados de 13 de novembro passado; ver quais são as medidas, os progressos, ou, pelo contrário, as interrogações, visto que ocorreram divisões provocadas por questões ideológicas. Imediatamente, o fator religioso foi indicado como fator perigoso por algumas correntes de nossa sociedade. E em todo este ano existe também esta tendência que se manifesta, que quer atribuir ao fator religioso as causas destes atentados e dos dramas no mundo. E isto é algo coisa que contestamos profundamente: o fato da fé não é um fator do qual devemos ter medo. Pelo contrário, devemos perceber como seja uma fonte de socialização e do viver juntos”.

RV: Qual é a posição dos fieis hoje?

“Estamos um pouco estupefatos pelo fato de que continuamente nascem debates sobre a laicidade, a laicidade, a laicidade,.... Ninguém coloca em discussão, entre os fieis, a laicidade do Estado, assim como se expressa há mais de um século e na qual de fato nos encontramos bem; por outro lado, no entanto, se aproveita desta situação para se solicitar uma laicização da sociedade, e portanto, uma remoção de todas as formas de expressão pública da fé. E é nisto que está em jogo um dos aspectos da involução da nossa sociedade”.

RV: O que mudou na França após os atentados de 2015?

“O que progrediu, essencialmente - e é um bem, mas também é perigoso – é o fator da segurança. Hoje, aquilo ao qual se atribui um valor essencial, é que em nome da segurança ou da defesa da segurança tudo poderia ser justificado. Certamente, é dever do Estado garantir a segurança de seus cidadãos. Mas ter isto como conceito principal, leva ao risco de ser, a longo prazo, decepcionante e perigoso, e podem nascer rupturas graves”.

RV: Há um ano, o seu apelo, e dos Bispos franceses, era o de resistir ao medo. Qual é a sua mensagem hoje?

“Um ano depois existe a constatação de que nossa sociedade permanece frágil, que a nossa sociedade pode “incendiar-se” muito facilmente caso não formos vigilantes e que, portanto, o medo é sempre um fator negativo, porque nos coloca uns contra os outros e nos faz tomar decisões que às vezes são irracionais e não razoáveis, e isto é perigoso. É necessário, portanto, trabalhar sempre na linha do encontro, na linha da fraternidade...Temos a necessidade de todos para conseguir fazer viver bem este país e é privilegiando a fraternidade antes que o medo que nós conseguiremos a superar os momentos difíceis que encontraremos aqui na França”. (JE)








All the contents on this site are copyrighted ©.