Crianças-soldado, "mártires inocentes" dos novos Herodes


Roma (RV) - Instruções sobre como destruir uma posição inimiga em vez de um livro de escola. Uma metralhadora e doses de drogas em vez de um caderno e um lanche. Dezenas de milhares de menores -, meninos mas também cada vez mais meninas - são recrutados apesar de sua rejeição ao círculo infernal das crianças-soldado em muitas partes do mundo. Também o Papa Francisco rezou por elas na última mensagem Urbi et Orbi de Natal. Essas crianças podem ser incluídas entre aqueles Mártires Inocentes que a Igreja recordou na liturgia desta segunda-feira. A Rádio Vaticano conversou com Marco Rotelli, secretário-geral de INTERSOS, uma organização humanitária italiana, que funciona em todo o mundo para ajudar as pessoas em dificuldades, vítimas de catástrofes naturais, conflitos armados ou condições de exclusão extrema.

R. - O problema é que o fenômeno efetivamente está até mesmo aumentando: estima-se que pelo menos 250 mil crianças tenham sido recrutadas nos conflitos. É um fenômeno global: africano, médio-oriental, asiático, mas também centro-americano... E não são somente os meninos armados com AK-47, mas também as meninas - suas irmãs - frequentemente recrutadas para fins de exploração sexual, por razões logísticas, comida, cozinha etc.

P. - Entre aqueles que não deixam de lutar contra o fenômeno das crianças-soldado está a INTERSOS. Como vocês agem?

R. - Em dois níveis: o da prevenção e o da reintegração, reabilitação. A prevenção prevê por exemplo atividades que evitem o recrutamento espontâneo das crianças, a aproximação das crianças a pessoas ou grupos que poderiam levá-las às áreas de combate. Formação profissional, por exemplo: na Somália, centros de formação responderam e deteram um pouco a tendência de algumas famílias e alguns filhos de entrar nestes grupos, porque uma pequena renda e um meio de sobrevivência chega das novas capacidades. Quando se consegue a entrar em contato com essas crianças - ou porque expulsos do grupos ou porque feitos prisioneiros do exércitos que luta contra os grupos da oposição - a fase de reintegração na sociedade é extremamente difícil. Essas são pessoas que sofreram traumas, quase uma "lavagem" cerebral, e as próprias famílias têm enormes problemas para receber essas pessoas que fizeram objetivamente as piores coisas que um homem pode fazer. Imagine uma criança que efeito traumático sobre a psique pode ter...

P. – Há uma história também positiva, mesmo no drama?

R. - Sim, felizmente, há também algumas histórias positivas. Eu neste momento estou falando do Senegal, de Dacar, portanto muito perto do Mali. Algum tempo atrás, crianças, digamos, "libertadas" pelas milícias radicais islâmicos no norte do país, que lutavam contra o governo de Bamaco, na capital, foram mantidas em uma espécie de isolamento da sociedade, a fim de evitar o risco de retaliação por parte da sociedade contra as crianças, que haviam cometido violências e atos de guerra. Elas foram mantidas quase em segredo dentro de centros de recuperação em Mali e, aos poucos, com calma, recuperaram certa normalidade e também uma capacidade das famílias e da sociedade de acolhê-las. Algo muito semelhante ocorreu no Congo: neste caso eram meninas retirados da conhecida milícia do "Exército de Resistência do Senhor", que depois de anos foram abandonadas pela própria milícia, porque, provavelmente, não eram mais necessárias ou com a saúde muito precária para serem "úteis" à guerra. E também ali, mesmo com grande dificuldade, se conseguiu inseri-las, até mesmo em suas próprias famílias, nos vilarejos. No início, elas eram absolutamente estigmatizadas: as próprias famílias em relação à sociedade, mas também as famílias tinham grandes problemas e medo do que essas crianças poderiam fazer. Hoje, finalmente, estamos comemorando o sucesso dessas meninas que voltaram para suas comunidades. No entanto, esse infelizmente não é o destino de centenas de milhares de crianças. (SP)








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