Editorial: Alegria de uma pobreza vencida


Cidade do Vaticano (RV) – É o Jubileu do perdão, da esperança: dessa maneira se expressaram os fiéis e peregrinos provenientes de todo o mundo que chegaram à Praça São Pedro no último dia 8, Solenidade da Imaculada Conceição para a abertura da Porta Santa, no Ano da Misericórdia.

Escancarando a Porta Santa da Basílica de São Pedro, o Papa Francisco não só abriu oficialmente o Jubileu extraordinário da Misericórdia, mas também realizou um gesto mais profundo do que aquele que se possa imaginar: ele nos convida a redescobrir Cristo, ‘porta’ necessária e única, para entrar no Reino de Deus. “Entrar naquela porta, significa também descobrir a profundidade da misericórdia do Pai que a todos acolhe e a cada um vai ao encontro pessoalmente”.

Mas toda essa graça não pode e não deve ser vista como óbvio, pois para obter o perdão gratuito e sem limites de Deus devemos ter a força de nos reconhecermos pecadores – como disse Francisco na Audiência Geral da última quarta-feira -, devemos ter a percepção das nossas misérias, dos nossos limites. No fundo a misericórdia também significa, responsabilidade.

Não devemos esquecer que todos temos necessidade da misericórdia de Deus. A tentação que poderia nos pegar é a de pensar que necessitados da misericórdia de Deus são os outros e não nós. É um pouco a soberba do filho da parábola do ‘filho pródigo’: pensar de estar bem, tudo certo com Deus, de não ter, podemos dizer, problemas e contendas. Devemos combater essa tentação ou presunção, caso contrário, correremos o risco de jogar fora tesouros preciosos.

No Angelus da Solenidade da Imaculada Conceição, o Papa Francisco pediu para imitarmos Maria nos seus “sim” cotidianos. Os “sim” cotidianos são possíveis se dissemos um “sim” grande no início, que você sabe que muda a sua vida, mas não sabe como mudará. Portanto, devemos nos sentir “ventre” de um convite que pede uma entrega, não um controle.

Hoje nós desaprendemos tudo isso: antes de dar um passo queremos ter todas as certezas e seguranças. O sim de Maria é extremamente libertador em relação às certezas que por sua vez não serão jamais suficientes.

Por isso, atravessar hoje a Porta Santa nos compromete a fazer nossa a misericórdia do bom samaritano, como recordou Francisco na Missa da Solenidade da Imaculada Conceição. O biblista Padre Matteo Crimella disse que a parábola do bom samaritano é contada por Jesus, não porque devemos nos identificar com ele que oferece a ajuda, mas ao contrário, com o ferido. Não tanto para fazer a experiência, que cada um faz, mas porque somente entrando na pele de um homem que sofre, que foi surrado, reduzido em fim de vida e que foi salvo, é possível entender o que é a misericórdia.

Se nós colocamos a atenção somente no exemplo do bom samaritano não conseguiremos sair desta situação pois nos apresenta um problema: como posso fazer eu que não tenho a força para agir assim, que não tenho motivações? Uma leitura moralista. Se ao invés lemos através dos olhos de quem sofre, de quem está por terra, do falido, então compreenderemos que estamos vivos somente porque alguém cuidou de nós, e com esse alguém temos uma grande dívida.

Enquanto o mundo fala hoje das tristezas e miséria humanas, das estruturas de pecado, nós hoje, mais do que nunca podemos fazer este grande anúncio: as misérias do homem têm reparação. E nós que somos ricos de misérias podemos fazer a experiência da riqueza da misericórdia de Deus.

E este Jubileu extraordinário, usando uma imagem eficaz de um teólogo, é o Céu que encontra a Terra. E neste abraço há a possibilidade para todos nós de uma vida nova, de uma vida feita de ternura, de compreensão, de gestos concretos. Há alegria quando uma pobreza é vencida, há alegria quando uma tristeza se transforma em esperança de vida. (Silvonei José)

 








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