Editorial: Uma nova esperança


Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco repetiu na última segunda-feira um gesto que já se tornou comum na conclusão de uma sua viagem apostólica internacional: antes de voltar ao Vaticano foi até a Basílica de Santa Maria Maior, no coração de Roma, para agradecer Nossa Senhora pelo êxito de sua missão além muros vaticanos. No início da semana Francisco como bom filho foi até a “Casa da Mãe” para agradecer a ‘Maria salus populi romani’ pela proteção oferecida durante a viagem ao Quênia, Uganda e República Centro-africana. 

Uma viagem cheia de emoção, caracterizada pelas diferentes realidades visitadas, mas unidas pelo mesmo desejo de paz e reconciliação. Uma visita memorável que deu coragem e esperança a todo um continente.

Uma primeira consideração foi a repercussão na mídia internacional que acompanhou de perto os gestos de Francisco. O mundo dirigiu sua atenção para uma periferia esquecida e que luta dia após dia para sair do túnel da miséria, da guerra e da destruição. Francisco foi o mensageiro desta esperança, uma esperança que ganhou vida nestes dias.

Pudemos ver isso no contato de Francisco com o povo, nos seus gestos e discursos improvisados. O “homem que veio do fim do mundo” foi até o mundo dos últimos para resgatá-los na sua dignidade. E fez isso sentindo-se perfeitamente a casa sua.

“Na verdade, - disse ele visitando uma favela em Nairobi – sinto-me em casa ao partilhar este momento com irmãos e irmãs que – não tenho vergonha de dizer – ocupam um lugar especial na minha vida e nas minhas opções. Estou aqui, porque quero que saibam que suas alegrias e esperanças, angústias e sofrimentos não me são indiferentes. Sei das dificuldades que enfrentam, todos os dias!”

Desta forma, o Papa se deteve em um aspecto que os discursos de exclusão não conseguem reconhecer ou parecem ignorar: a sabedoria dos bairros populares. Trata-se de uma sabedoria – disse - que “brota da resistência obstinada do que é autêntico, dos valores evangélicos que a sociedade opulenta, entorpecida pelo consumo desenfreado, parece ter esquecido”. Uma invocação enfim para tecer laços de pertença e de convivência que transformem a existência e sejam abatidos os muros e as barreiras do egoísmo.

No domingo, dia 29 de novembro, antes de chegar à Catedral de Bangui para a abertura da Porta Santa, Francisco fez uma breve parada em um hospital pediátrico da capital centro-africana ao qual doou algumas caixas com medicamentos provenientes do hospital “Bambino Gesù” de Roma. Um gesto de amor profundo do Papa que foi até aquelas crianças deitadas em berços esquecidos pelo mundo de fora. Um lugar que poucos visitam. Mas não para o Sucessor de Pedro. A comoção provocada pela foto na qual ele acaricia uma dessas crianças vítima da Aids contagiou as redes sociais. Não só pela ternura do gesto, mas pela importância que Francisco dá aos extremos da vida, ou seja, as crianças e os idosos, que refletem a verdadeira humanidade de uma sociedade.

Um gesto que demonstra a preocupação com a pessoa, individualmente, porque cada um é único. A visita não estava prevista no programa oficial, mas para Francisco, não existe programa mais importante e oficial do que o encontro com os últimos.

Outro gesto foi a abertura da Porta Santa do Ano da Misericórdia em Bangui, que se tornou a “capital espiritual do mundo”. “O Ano Santo da Misericórdia chega antes a esta terra, uma terra que há muitos anos sofre com a guerra, o ódio, a incompreensão, a falta de paz”, disse o Pontífice antes de abrir a Porta Santa, de madeira e vidro.  

Nesta terra sofredora estão todos os países que viveram a cruz da guerra. “Todos pedimos paz, misericórdia, reconciliação, perdão, amor”, exortou.

Com esta invocação teve início o Ano Santo na África, no mundo. Quando Francisco abriu aquela Porta de madeira simples e vidro, deixou a luz de Cristo entrar e iluminar um mundo escuro e esquecido. É a Porta através da qual o mundo precisa passar. Com os braços abertos Francisco abraçou idealmente naquele momento o mundo. Do coração da África Francisco falou a toda à humanidade.

A viagem do Papa à África dá novas esperanças ao continente. Tinham sido feitas previsões catastróficas, houve só alegria: é o balanço do Arcebispo de Bangui, Dom Dieudonné Nzapalainga, sobre a visita.

Francisco, homem de fé, foi ao encontro de outros homens de fé, assim a alegria do encontro foi recíproca. Um povo abandonado, um povo esquecido que precisava de uma mensagem de esperança, hoje, jubiloso, escreve uma nova página na sua história. E o Santo Padre foi levar essa mensagem de esperança, convidou os africanos à reconciliação, a ter um coração misericordioso, a perdoar, e, sobretudo, a semear para construir um mundo melhor, onde justiça e paz caminhem juntas.

Agora toca a eles e a nós. Há um tempo para a guerra e um tempo para a reconciliação, um tempo de renascimento, um tempo para uma nova esperança. (Silvonei José)








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