Perde-se a tradição, mas se ganha em memória


Dubai (RV*) - Amigas e amigos da Rádio Vaticano recebam uma saudação cordial das Arábias.

Contando a história das transformações sociais e econômicas de diversas regiões do mundo, constatam-se tensões entre as tradições vividas por um povo e o poder econômico e consumista que o desestabiliza com oferta de felicidade baseada em satisfazer os sentidos somente.

Os publicitários, em geral bons conhecedores do desejo insaciável do ser humano, em busca de felicidade, estão sempre atentos para oferecer alguma coisa que o satisfaça momentaneamente.  Isto é feito aos pedaços, aos pingos, explorando o lado sensível, visível e material. Enganosamente, dizem que o tal produto lhe dá o máximo de felicidade, mas na verdade, só satisfaz ao paladar ou outro sentido. É fácil entender que os elementos culturais, religiosos e espirituais não são o alvo da economia e do espírito consumista. Por isso, ganha-se em riqueza material e perde-se a riqueza da tradição e dos valores que identificam um povo.

Infelizmente, o ser humano ainda não encontrou o meio para carregar consigo a tradição e transmiti-la como parte de sua vida. Ao invés de viver a tradição, faz-se memória dela. Aí estão os centros de tradições, centros de cultura que não passam de uma recordação daquilo que era normal, no passado.

Principalmente nos grandes centros urbanos onde o consumismo é avassalador, em dias excepcionais, como Festas Juninas, Dia do Padroeiro, Dia do Índio e outros, faz-se memória do que já foi deixado para trás, resgatando danças, canções e encenando como era a vida de outrora.

Na Península da Arábia, onde trabalho atualmente, é nos dias do jejum islâmico, Ramadã, que os habitantes locais percebem terem perdido a tradição e agora fazem memória dela. Embora preservem o lado religioso do jejum, perderam o sentido de comunidade.  As pessoas da mesma família passam pouco tempo juntas; as comunidades também não se reúnem à noite para que as pessoas possam dar tempo umas às outras.  Essa aproximação era o ponto alto do Ramadan. Isto se perdeu.

Ainda são armadas as tendas para acolher amigos e visitantes, mas dentro dos muros das mansões, com as portas fechadas.  Em tempos passados, qualquer pessoa podia entrar na casa e participar da refeição. As portas estavam abertas para todos.  Os visitantes eram considerados uma bênção.

Hoje, as pessoas estão muito atarefadas. Comem e vão embora sem conviver.

A entrada da tecnologia também reduziu as atividades, nas quais os vilarejos se envolviam para fazer os preparativos do esperado tempo de Ramadan.

Embora a pujança do progresso econômico tenha varrido uma grande parte da tradição da qual se faz memória, não conseguiu extinguir o espírito de caridade dos Emirates.

Histórias como essa dos Emirados Árabes Unidos existem, em muitas regiões do planeta. Por falta de sabedoria, o ser humano optou por ser rico, tendo bens materiais, em detrimento do ser rico em valores humanos e espirituais.

Sendo assim, “tem gente que é tão, mas tão pobre que a única coisa que tem é dinheiro”. Pai João Benedito.

*Missionário Olmes Milani CS

Das Arábias para a Rádio Vaticano.








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