Sínodo: é um novo percurso, não se volta atrás, diz Card. Bassetti


Cidade do Vaticano (RV) - Existem diferentes sensibilidades, porém, há uma grande harmonia nas discussões fundamentais, nos princípios, como estamos verificando nestes últimos dias de trabalho. A meu ver, está emergindo uma riqueza de material que depois será colocada nas mãos do Santo Padre, de modo que possa fazer um discernimento mais amplo.

É o que afirma o arcebispo de Perugia – região italiana da Úmbria –, Cardeal Gualtiero Basseti, comentando o clima do Sínodo ordinário dos bispos sobre a família, estes dias, na reta final.

“É preciso recordar a diferença entre Concílio ecumênico e Sínodo”, explica o purpurado:

“O primeiro tem uma faculdade deliberativa, enquanto o Sínodo é somente propositivo. Daí, também, a grande liberdade que temos em nossas discussões, vez que a decisão final é colocada nas mãos do Papa. Foi ele mesmo quem nos recomendou a ‘parresia’ (franqueza, coragem, destemor, ndr), propriamente porque ela torna mais fácil a tarefa que deverá assumir.”

Meu parecer é de que neste Sínodo há uma comunhão de fundo que é dada justamente pela colegialidade entre os bispos, pela relação dos prelados com os sacerdotes e com os leigos. Porém, ao mesmo tempo, há também essa grande liberdade que, graças a Deus, nos permite discutir”, continua o purpurado.

Mais integração e acompanhamento

“A propósito do tema das chamadas famílias feridas, abordado na terceira parte do Instrumenum laboris, os percursos a serem desenvolvidos para ajudá-las, já acenados no texto, são dois: o acompanhamento e a integração.”

“Porém – explica –, ainda é preciso fazer muito para desenvolvê-los, porque o documento não estabelece o que realizar concretamente para permitir a integração.”

“Há, por exemplo, um alargamento da integração, até então unicamente no nível da caridade, do voluntariado, para o nível litúrgico e catequético.”

“Aí – explica o Cardeal Bassetti –, o campo se alarga, porque também um divorciado recasado, que reconheceu erros, poderia tornar-se um professor de religião ou uma testemunha da fé católica.”

“Também a nível de acompanhamento estamos muito atrasados”, acrescenta. “Hoje preparamos os jovens para a Crisma, e depois os perdemos todos. Somente alguns voltam no âmbito da preparação para o matrimônio e, mesmo assim, muitas vezes procuram não fazê-la totalmente. E depois, nesse caso, se dá um sacramento que implica compromisso tanto quanto o da ordem, porque tem um grande impacto social e de testemunho.”

Jovens: falta educação para a sexualidade

“Aí seria necessário mudar o sistema e acompanhar os jovens não somente antes da Crisma, mas também depois, envolvendo as famílias. Inclusive enfrentando com os jovens todos os problemas da afetividade e da sexualidade, algo que na Itália não se faz”, explica o arcebispo de Perugia.

“Nesse campo estamos no nível do ‘cada qual faça por conta própria’. Muitas vezes a escola não trata desse âmbito, e se trata, do jeito como faz, é melhor que não trate.” Os pais não tratam da questão, a paróquia também não, “e o resultado é que os jovens não são acompanhados”.

“A Igreja – conclui o cardeal – deve acompanhar os jovens até o matrimônio, e, sobretudo, preocupar-se mais em acompanhar os jovens casais de esposos. Porque os fracassos se dão sobretudo nos primeiros anos, é aí que se tem uma abordagem errada”.

O convite de Isaías

Segundo o Cardeal Bassetti, com os dois Sínodos e o Jubileu da Misericórdia que se iniciará em dezembro próximo, o Papa abriu um processo que prosseguirá por muito tempo.

“Não se volta atrás”, comenta o purpurado. “O Sínodo que desemboca no Jubileu é um gesto tal de abertura a todos, que realiza o trecho de Isaías: ‘Ó vós todos que tendes sede, vinde às águas’. A Igreja tem esse belíssimo depósito de graça e o quer verdadeiramente colocar na mão de seus filhos. E mesmo quem não tem nada é acolhido igualmente.” (RL)








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