2015-10-22 16:53:00

África e migrantes numa conferência na Rádio Vaticano


A imigração como fenómeno cultural que diz respeito não apenas à África, mas toda a humanidade, independentemente das causas económicas e políticas. Esta uma das chaves do encontro promovido nesta quarta-feira (21/10) pelo "Centro de Reflexão África 2000", formado por alguns jornalistas africanos da Rádio Vaticano, com o objectivo de contar o continente a partir do ponto de vista de quem lá nasceu. Por essa ocasião foi apresentado o livro do colega Filomeno Lopes: "Da mediocridade à excelência. Reflexões filosóficas de um imigrante Africano" e o documentário "Também eu tenho um nome e um apelido”.

Por um lado, o "barulho" dos Países que acolhem, com uma lista incessante do número dos mortos, por outro o "silêncio" dos Países de origem, quase resignados à inevitabilidade das mortes no mar. O risco, quando se fala de imigração da África, é o de esquecer que por trás dos números estão pessoas, com as suas histórias e as suas aspirações. O Professor Roberto Mancini da Universidade de Macerata:

As migrações não são apenas um fenómeno transitório ou ligado a particulares causas económicas, políticas e culturais. O que é realmente contingente e que deveria ser eliminado é o lado da necessidade. Ou seja, as migrações são coercitivas, não são escolhas! O ser humano é um migrante como tal, mas isso faz com que cada pessoa seja uma viagem viva. Sabeis, no Evangelho não existe propriamente o "outro", porque o outro quer dizer alguém menos importante do que eu; e onde existe o outro significa que existe o Eu no primeiro lugar. No Evangelho o outro chama-se o de irmão e a irmã.

O que contribui para a despersonalização não são só as notícias, mas também o facto, por exemplo, que a cada imigrante é atribuído um número nos Centros de acolhimento. Numa cultura como a africana, em que o nome está ligado à própria essência da pessoa, tanto que alguns emigrantes, antes da travessia que poderia custar-lhes a vida, procuram  de todas as maneiras para não serem esquecidos, explica a antropóloga Cinzia D 'Auria:

Muitas vezes, os emigrantes, quando partem, colocam o seu nome e apelido uma garrafa. Uma mensagem encontrada numa garrafa, deixada por um eritreu, conta que ele faz  parte de uma família e que deixa este bilhete na garrafa porque ele tem medo não tanto de morrer, quanto de cair no esquecimento: tem medo de não ser mais recordado e de o seu nome ser completamente anulado.

As necessidades contingentes da emigração podem ser superadas através de um novo modelo cultural, em que os jovens assumem  plena consciência das potencialidades dos seus Países. Dom Gabriel Charles Palmer Buckle, arcebispo de Acra:

Estamos procurando fazer tudo ao nível da educação, formação e educação público. Também estamos tentando criar um corpo político composto por jovens políticos que tenham uma perspectiva diferente sobre o que significa política em África. Costuma-se dizer ‘necessity is the mother of invention’ ("a necessidade é a mãe da invenção), isto é, a necessidade deve levar à criatividade.

O ponto que visam alguns  bispos locais, é de criar um "homem novo africano",  antropologicamente capaz de superar a cultura dominante, explica Mons. Barthelemey Adoukonou, secretário do Conselho Pontifício para a Cultura:

A cultura sem Deus, contra Deus é uma cultura que procura destruir o homem como imagem e semelhança de Deus. Nós que acreditamos dizemos não! Propomos uma outra cultura, um outro projecto de educação, que será promovido por todas as Igrejas, pelos muçulmanos e todos em África. Isso irá garantir que os africanos façam crescer o Continente e poderão, assim, permanecer na sua casa, mantendo-se em abertura com todos os outros. (BS)








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