Relatórios dos Círculos Menores sobre a terceira parte do Instrumentum Laboris


Cidade do Vaticano (RV)  - No Sínodo dos Bispos sobre a Família, trabalha-se nesta quarta-feira na preparação do Relatório final que será apresentado e votado na Sala do Sínodo no próximo sábado. Caberá ao Papa, após, decidir torna-lo público ou não. Na tarde de terça-feira (20), por sua vez, os treze Círculos Menores apresentaram seus Relatórios sobre a terceira parte do Instrumentum laboris, dedicada ao tema “A missão da família hoje”.

O Sínodo está ainda a caminho

Existe ainda muita estrada a ser feita e os caminhos a serem percorridos são muitos. Assim, em síntese, se pode resumir o que emerge da terceira rodada de Relatórios dos Círculos Menores. Duas, em particular, as temáticas mais debatidas, em torno das quais existem abordagens diferentes. De um lado, a questão dos divorciados recasados e de seu acesso aos Sacramentos. Por outro lado, a questão das pessoas com tendência homossexual.

Divorciados recasados: acompanhamento, mas segundo abordagens diferentes

No primeiro caso, no geral, há um consenso sobre a necessidade de acompanhar e acolher as famílias feridas, de acordo com uma “pedagogia da misericórdia” que evite atitudes sectárias e conjugue a pastoral com a doutrina, sem “abrandá-la”. Restam porém abertas tantas possibilidades sobre como colocar em prática tal atitude: há quem sugira a análise de cada caso, confiado à responsabilidade do Bispo ou das Conferências Episcopais, na ótica da descentralização e segundo um oportuno discernimento; há quem reitere que a questão é doutrinal, e portanto, de competência de um Concílio e não de um Sínodo; há também quem hipotize um Foro interno específico; há quem olhe aos processos de nulidade matrimonial – tornados mais breves pelo Motu proprio do Papa Francisco “Mites Iudex” – como exemplo de uma eficaz proximidade às pessoas em dificuldade, que permite de não anular a doutrina”.

Auspiciada intervenção do Papa, para dar  “uma solução brilhante” às famílias feridas

Outras propostas para os divorciados recasados apontam para a comunhão espiritual e para a assim chamada “via penitencial”, ainda que alguns prefiram chamá-la de “via da reconciliação” ou também “itinerário de caridade”. Conscientes da complexidade da questão, os Padres Sinodais reiteram a função consultiva e não deliberativa da Assembleia. Disto, o desejo de uma intervenção específica do Papa, também em vista do Jubileu da Misericórdia, para que – sublinhou em particular um dos Círculos - o Pontífice crie uma apropriada Comissão encarregada de aprofundar este tema, dando assim “solução brilhante” às famílias feridas. Os Círculos Menores, outrossim, reiteram que o Sínodo não trata apenas do tema dos divorciados recasados.

As pessoas com tendência homossexual: tema do Sínodo ou não?

Também sobre o tema das pessoas com tendências homossexuais são verificadas abordagens diversas. O que permanece é a necessidade de acolher tais pessoas sem discriminá-las. Alguns sublinharam que tal questão não entra na temática do Sínodo e que portanto seria tratada – sugere um dos Círculos – em um encontro sinodal separado. Em todo o caso, comum é a posição dos Círculos em rejeitar a adoção de crianças por casais homossexuais e a equiparação entre o matrimônio e as uniões gay.

Família, sujeito de evangelização. Maior preparação ao matrimônio

Estas, portanto, as temáticas mais discutidas. Por outro lado, estão aquelas sobre as quais os treze Círculos Menores são concordes: a primeira diz respeito à capacidade da família de ser sujeito e não somente objeto de evangelização, e portanto, a necessidade de que a Igreja relance e apoie mais esta dimensão. Depois, o tema da preparação ao matrimônio: todos os Relatório reiteram a necessidade de percursos formativos cuidadosos, focados na Palavra de Deus e subdivididos em três fases temporais: remoto, próximo e imediatamente perto do casamento.

Igreja renove sua linguagem, sem desnaturar seus ensinamentos

Outro ponto evidenciado pela maior parte dos Relatórios foi o da linguagem: a Igreja deve renová-la – dizem os Círculos – transformá-la de estática em dinâmica, para tornar os seus ensinamentos mais acessíveis a todos, sem desnaturá-los, e abrir assim um novo diálogo com as famílias. Por exemplo: para os divorciados recasados, não se fala mais de “exclusão” do Sacramento Eucarístico, mas sim de “abstenção”. E ainda: os treze Relatórios reiteram a importância em ressaltar a beleza e a alegria da sexualidade e da corporeidade dentro da vida conjugal, assim como recordar os ensinamentos da Encíclica “Humanae Vitae” de Paulo VI, a propósito da generatividade e da castidade. A este propósito, em particular, é sublinhada a necessidade de aprofundar os temas da paternidade responsável e da educação dos filhos.

Matrimônios mistos, uma oportunidade de diálogo inter-religioso

Outro tema muito presente nos diversos Relatórios diz respeito às adoções, com a sugestão de dar maior valorização a elas e de ressaltar a tutela das crianças. E ainda: muitos Círculos menores trataram dos matrimônios mistos, sugerindo que sejam ressaltados seus aspectos positivos, como a abertura ao diálogo inter-religioso, enquanto outros manifestaram a necessidade de uma maior atenção às temáticas familiares ligadas ao drama da doença e da morte. Já em relação aos casais que convivem de fato ou são casados apenas no civil, os Padres sinodais reiteram a irregularidade deles, sugerindo, no entanto, a necessidade de se olhar para os aspectos positivos que podem levá-los ao matrimônio sacramental.

Atenção aos padres separados, frequentemente vítimas da pobreza

Dignas de nota, também, algumas propostas singulares: dar maior atenção aos pais separados ou divorciados, frequentemente novas vítimas da pobreza; enaltecer a coragem das mulheres vítimas de violência que decidem dar à luz a seus filhos, não obstante os preconceitos sociais de que, frequentemente, são vítimas; dar voz a quem é obrigado ao incesto ou cai presa do tráfico de seres humanos; não esquecer as famílias dos refugiados, de migrantes ou de quem vive entre guerras e conflitos.

Instrumentum laboris necessita de uma maior organicidade

Por fim, os Círculos menores definem a terceira parte do Instrumentum laboris como excessivamente não-orgânica, sugerindo, em parte, a sua reorganização e em parte que seja reescrita, em vista do Relatório final a ser entregue ao Papa. (JE)

 








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