Editorial: Sínodo, espaço para a ação do Espírito Santo


Cidade do Vaticano (RV) – Conclui-se neste sábado a primeira semana de trabalhos da XIV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos dedicado ao tema da família. Uma semana intensa de encontros que se prolongarão ainda por duas semanas, durantes as quais as reflexões dos padres sinodais tocarão as temáticas que envolvem os desafios para a família de hoje. Um diálogo que teve início no ano passado com o Sínodo Extraordinário e que continua nestes dias no Vaticano buscando avaliar e refletir sobre o texto do Instrumento de Trabalho elaborado pela Relatio Synodi e pelas respostas das Conferências Episcopais e dos organismos autorizados.

No início dos trabalhos na manhã da última segunda-feira Francisco, que segue pessoalmente os trabalhos da plenária, falou da importância do Sínodo recordando que o mesmo não é um congresso ou um parlatório, não é um parlamento nem um senado. Mas é um caminhar juntos, com o espírito de colegialidade e de sinodalidade, “adotando corajosamente a parresia, o zelo pastoral e doutrinal, a sabedoria, a franqueza e colocando sempre diante dos olhos o bem da Igreja, das famílias”.

Já na terça-feira, num breve pronunciamento o Santo Padre evidenciou os três documentos oficiais, o Relatório do Sínodo (Relatio Synodi) e os dois discursos pontifícios de abertura e de conclusão dos trabalhos do ano passado como documentos a serem seguidos nas discussões, e fez uma observação: “Não devemos deixar-nos condicionar e reduzir o nosso horizonte neste Sínodo, como se o único problema fosse o da comunhão aos divorciados e recasados ou não”.

O Sínodo não tem a questão da comunhão aos divorciados e recasados como único ponto de referência. É um dos pontos.

Francisco fez ainda uma afirmação importante chamando a atenção para a “coragem apostólica” que não se deixa intimidar nem diante das seduções do mundo, que tendem a apagar do coração dos homens a luz da verdade, substituindo-a com pequenas e temporárias luzes. “A humildade evangélica sabe esvaziar-se das próprias convicções e preconceitos para ouvir o irmão”; a humildade leva a apontar o dedo não contra os outros para julgá-los, mas para estender a mão, para erguê-los sem jamais se sentir superiores a eles.

O Sínodo, portanto, é uma expressão eclesial, isto é, a Igreja que caminha unida para ler a realidade com os olhos da fé e com o coração de Deus. O Sínodo é um espaço protegido onde a Igreja experimenta a ação do Espírito Santo, e só poderá ser um espaço da ação do Espírito Santo se os participantes se revestirem, precisamente, de coragem apostólica, de humildade evangélica e de oração confiante.

O Sínodo para a família tem como metodologia de trabalho o método já muito conhecido do “ver, julgar e agir”. Neste sábado termina a primeira parte dedicada à visão da realidade no que diz respeito à família. Na próxima semana o ‘julgar’ que é um pouco a luz do Evangelho, a luz de Cristo sobre a realidade da família, e na última semana, a terceira parte, que serão as questões mais pastorais, concretas – que correspondem ao ‘agir’.

Nos temas abordados pelos padres sinodais que se pronunciaram nesta semana – representativos de todos os continentes e de todas as línguas – foram tocados os vários âmbitos relacionados aos desafios que a família enfrenta. Por exemplo, a revolução cultural que caracteriza a época em que vivemos, por isso, a Igreja é chamada a acompanhar as famílias e, em geral, todo o povo de Deus, para encontrar respostas e soluções adequadas aos problemas de hoje.

Nas várias colocações desta semana foi também ressaltada a necessidade de ajudar, seja os casais de cônjuges a crescer e a amadurecer na fé e no matrimônio, seja os jovens a redescobrirem a beleza do amor e da profunda inter-relação entre amor e matrimônio. Enfoque sobre os núcleos familiares que vivem situações difíceis, sobre o drama da pobreza na família, sobre violências que atingem a própria família, sobre a chaga do trabalho infantil, sobre o drama dos refugiados e dos migrantes e das perseguições aos cristãos.

Outro assunto sobre o qual se debruçaram os Padres sinodais foi a questão das pessoas com tendências homossexuais: elas fazem parte da Igreja, foi dito, esclarecendo, ao mesmo tempo, que o matrimônio é a união sacramental entre um homem e uma mulher, fundamento da família em sua integridade.

Os trabalhos sinodais reúnem de modo excepcional, a grande diversidade dos participantes, a diversidade dos continentes representados, a diversidade de Igrejas – porque há representantes das Igrejas orientais e das Igrejas latinas –, a diversidade de experiências... Todo esse conjunto e essa diversidade – que poderiam levar a considerar improvável que se chegue a concordar sobre alguma coisa – estão reunidos num espírito de colegialidade em torno do Papa, verdadeiro timoneiro da barca de Pedro.

Durante a audiência geral da última quarta-feira, Francisco na sua saudação aos peregrinos árabes pediu a oração de todos para que os Padres sinodais saibam haurir do tesouro da viva tradição, palavras de consolação e orientações de esperança para as famílias chamadas a construir o futuro da comunidade eclesial. É o que todos nós esperamos. E o convite é o mesmo: vamos rezar pelo bom êxito dos trabalhos sinodais. (Silvonei José)

 








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