Jales (RV) - Por brincadeira que não deixa de ter sentido, os mexicanos costumam
descrever o que seria o seu máximo infortúnio: “estar tão longe de Deus, e tão perto
dos Estados Unidos”. Seria o cúmulo da desgraça!
Os cubanos poderiam fazer uma constatação semelhante. A ilha de Cuba está tão próxima
dos Estados Unidos. Mas entre os dois países se cavou uma fossa tão grande, que agora
dá vertigem só imaginar que é possível transpô-la.
Não se trata de distância física, que de fato poderia ser transposta por barcos muito
mais seguros do que as precárias embarcações que tentam atravessar o Mediterrâneo
rumo à Europa.
Trata-se de outra distância. Aquela criada pela revolução cubana de 1959, sob a liderança
de Fidel Castro, e pela progressiva implantação do regime socialista, apoiado pela
antiga União Soviética, fazendo de Cuba o símbolo do confronto aberto entre duas ideologias,
que tentavam se anular mutuamente, para se imporem como caminho único de regulação
da vida e da sociedade humana.
Em vista deste longo confronto entre duas ideologias, forjado pelo relacionamento
hostil entre Estados Unidos e Cuba, quem mais se sentia vulnerável era Cuba. O povo
cubano precisava, obstinadamente, defender suas posições. Na sua luta para preservar
a identidade cultural e política, era crucial viabilizar sua economia, ainda mais
em decorrência do embargo econômico imposto pelos Estados Unidos. A economia é sempre
o calcanhar de Aquiles de todo regime político livre e autônomo.
O povo cubano foi criando mecanismos de resistência, ante a permanente tentativa dos
Estados Unidos, de inviabilizar o seu caminho, para fazer do fracasso econômico de
Cuba a demonstração cabal da falência da ideologia que pretendia inspirar e concretizar
um caminho alternativo ao liberalismo econômico, professado pelos Estados Unidos
e proposto ao mundo com sendo único e definitivo.
Em princípio, pelo reatamento das relações diplomáticas e pelo término do embargo
econômico, estariam excluídas da agenda as preocupações ideológicas, cessando as hostilidades
que marcaram tão fortemente as relações entre os dois países.
Terminado o clima de hostilidades, se apresentam algumas constatações evidentes, relativas
a conquistas sociais longamente buscadas pelo povo e pelo governo cubano.
Trata-se de indiscutíveis valores, sobretudo ligados à educação, e à saúde. Sem desconhecer
outras conquistas do povo cubano, seu sucesso na educação, e no sistema público de
saúde precisa ser devidamente reconhecido.
Ao mesmo tempo, agora se apresentam, sem dúvida, novos desafios, especialmente de
ordem política e econômica.
A prática da democracia permite soluções bem diferenciadas, dependendo da situação
de cada país. Mas a pluralidade partidária, sem dúvida, é requisito indispensável
para o exercício de uma verdadeira democracia. Todo esforço neste sentido, merece
ser apoiado. Sempre fazem bem os ambientes mais arejados de convivência política na
diversidade de propostas e de planos concretos de operacionalização dos ideais políticos
de uma nação.
Também merecem apoio, certamente, todas as iniciativas de acolher e integrar na prática
econômica, atividades que podem somar, na busca de um verdadeiro desenvolvimento econômico
e social.
Cuba, com o testemunho de seus heróis, e com o apoio da comunidade internacional,
saberá apressar o processo de sua plena reintegração no convívio político e econômico
das nações.
Dom Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP)
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