"Jovens cubanos, não temam a esperança, não temas o futuro", exorta o Papa


Havana (RV) – Após rezar as Vésperas com sacerdotes, religiosos e seminaristas na Catedral de Havana, o Papa Francisco dirigiu-se ao Centro de Estudos Pe. Félix Varela, localizado no prédio ao lado da catedral, para encontrar os milhares de jovens reunidos na praça frontal. O Santo Padre foi acolhido pelo Reitor que o acompanhou à Capela do Santíssimo e após à Sacristia.

Após ser saudado pelo Reitor P. Yosvany Carvajal e ouvir o testemunho de um jovem, Francisco expressou sua alegria por encontrá-los justamente num local “muito significativo para a história de Cuba”. O Papa agradeceu ao jovem Leonardo por ter preferido falar “das esperanças, dos sonhos e aspirações que estão fortemente impressos no coração dos jovens cubanos, independentemente das suas diferenças de formação, cultura, crença ou ideias. “Obrigado, Leonardo, porque eu também, quando vos vejo, a primeira coisa que me vem à mente e ao coração é a palavra esperança. Não posso imaginar um jovem que não se mova, que esteja bloqueado, que não tenha sonhos nem ideais, que não aspire por algo mais”, disse o Papa.

Francisco observou que a esperança de um jovem cubano neste momento da história é a mesma de “qualquer outro jovem em qualquer parte do mundo”, “porque a esperança fala-nos duma realidade que está enraizada no mais fundo do ser humano, independentemente das circunstâncias concretas e dos condicionamentos históricos em que vive”:

“Fala-nos duma sede, duma aspiração, dum anseio de plenitude, de vida bem-sucedida, de querer agarrar o que é grande, o que enche o coração e eleva o espírito para coisas grandes, como a verdade, a bondade e a beleza, a justiça e o amor. Todavia, isto comporta um risco. Supõe estar dispostos a não se deixar seduzir pelo que é passageiro e caduco, por falsas promessas de felicidade vazia, de prazer imediato e egoísta, duma vida medíocre, centrada em si mesmo e que, no seu rasto, só deixa tristeza e amargura no coração. Não, a esperança é ousada, sabe olhar para além das comodidades pessoais, das pequenas seguranças e compensações que reduzem o horizonte, para se abrir aos grandes ideais que tornam a vida mais bela e digna. Eu perguntaria a cada um de vós: O que é que move a tua vida? O que há no teu coração, onde se fixam as tuas aspirações? Estás sempre disposto a arriscar por algo maior?”

Francisco compreende que seria normal sentir a fragilidade e o peso daquilo que é árduo e difícil, como os grandes ideais e as metas elevadas. Mas adverte para que os jovens não caiam “na tentação da decepção, que paralisa a inteligência e a vontade, nem cedam à resignação, que é um pessimismo radical perante toda a possibilidade de alcançar o sonho. No fim, estas atitudes acabam ou numa fuga da realidade para paraísos artificiais ou fechando-nos no egoísmo pessoal, numa espécie de cinismo, que não quer escutar o grito de justiça, de verdade e de humanidade que se eleva ao nosso redor e dentro de nós”.

Para encontrar caminhos de esperança e fazer com que estes sonhos de plenitude, de vida autêntica, de justiça e verdade sejam uma realidade na nossa vida pessoal, no nosso país e no mundo, o Pontífice sugere três ideias que podem ser úteis para manter viva a esperança: um caminho feito de memória e discernimento, um caminho feito em companhia e  um caminho solidário.

“A esperança – disse Francisco - é a virtude daquele que está a caminho e se dirige para algum lugar”. Assim, “para caminhar na vida, além de saber para onde queremos ir, é importante saber também quem somos e donde viemos”:

“Uma pessoa ou um povo, que não tem memória e cancela o seu passado, corre o risco de perder a sua identidade e arruinar o seu futuro. Por isso, é necessária a memória daquilo que somos, daquilo que constitui o nosso patrimônio espiritual e moral. Creio que esta é a experiência e a lição daquele grande cubano que foi o Padre Félix Varela. E é preciso também o discernimento, porque é essencial abrir-se à realidade e saber lê-la sem medo nem preconceitos. Não servem as leituras parciais ou ideológicas, que deformam a realidade para caber nos nossos pequenos esquemas preconcebidos, provocando sempre desilusão e desespero. Discernimento e memória, porque o discernimento não é cego, mas realiza-se sobre a base de sólidos critérios éticos, morais, que ajudam a discernir o que é bom e justo”.

Para explicar a esperança como um caminho feito em companhia, o Papa cita um provérbio africano que diz: “Se quiseres ir depressa, vai sozinho; se quiseres ir longe, vai acompanhado”, e adverte que o isolamento ou o fechamento em si mesmo nunca gera esperança:

“Sozinhos, não chegamos a lado nenhum. E, com a exclusão, não se constrói um futuro para ninguém, nem sequer para si próprio. Um caminho de esperança exige uma cultura do encontro, do diálogo, que supere os contrastes e o confronto estéril. Para isso, é fundamental considerar as diferenças no modo de pensar, não como um risco, mas como uma riqueza e um fator de crescimento. O mundo precisa desta cultura do encontro, precisa de jovens que queiram conhecer-se, que queiram amar-se, que queiram caminhar juntos e construir um país como o sonhava José Martí: «Com todos e para o bem de todos»”.

A cultura do encontro – reiterou após Francisco – deve levar a uma cultura de solidariedade:

“Com efeito, se não houver solidariedade, não há futuro para nenhum país. Acima de qualquer outra consideração ou interesse, tem de estar a preocupação concreta e real pelo ser humano, que tanto pode ser meu amigo, meu companheiro, como alguém que pensa diferente, que tem as suas ideias, mas que é tão humano e tão cubano como eu mesmo. Não basta a simples tolerância; é preciso ir mais longe passando duma atitude suspeitosa e defensiva para outra feita de acolhimento, colaboração, serviço concreto e ajuda eficaz. Não tenhais medo da solidariedade, do serviço, de dar a mão ao outro, para que ninguém fique fora do caminho”.

“A fé na presença de Jesus – observou o Santo Padre - , no seu amor e amizade acende e ilumina todas as nossas esperanças e sonhos. Com Ele, aprendemos a discernir a realidade, a viver o encontro, a servir os outros e a caminhar na solidariedade”. Jovens cubanos, “não tenhais medo da esperança, não tenhais medo do futuro, porque Deus aposta em vós, crê em vós, espera em vós”. (JE)








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