Papa Francisco, construtor de “pontes”


Dubai (RV*) - Tendo viajado e trabalhado em diversos países aprendi, embora não o suficiente, ver, pensar e agir cercado de culturas, religiões e etnias que foram e ainda são generosas em acolher-me. Não sei se existe ambiente melhor para entender o que significa viver o mais importante mandamento do Cristianismo, do que morar numa casa com onze pessoas de seis nacionalidades diferentes, ajudar na maior paróquia do mundo, frequentada por pessoas de mais de 35 nacionalidades, celebrando a liturgia em oito línguas diferentes e seis ritos sagrados. No mesmo quarteirão, existem três mesquitas, algumas dezenas de denominações cristãs que se reúnem, nos complexos anglicanos e luteranos. Existem “pontes” já transitáveis entre nós, outras estão em “construção” enquanto algumas são inexistentes, mas nos une o respeito.

Entre outras coisas, estive observando e me perguntando: “Como o Papa Francisco é visto a partir de um país muçulmano?”.

Para tentar responder a essa pergunta, faz algum tempo, venho tendo o cuidado de acompanhar as notícias sobre a ação da Igreja, no mundo sob o Pontificado de Francisco, nos dois principais jornais dos Emirados Árabes Unidos. A percepção que se tem do Papa Francisco é de alguém, pessoa e mensagem, ao mesmo tempo em que se manifesta no ser e no fazer. Impressiona o fato de que Francisco cria “pontes” a partir de pontos que não são tradicionais. Encanta o mundo, na acolhida de uma criança; assinala em oração, apoiado num muro que divide dois povos irmãos, no Estado da Palestina; todos ficam maravilhados com sua diplomacia de pequenos passos que aproxima, definitivamente, uma superpotência americana de uma ilha do Caribe, excluída do “concerto” das nações.

Outra atitude que angariou o respeito ao Papa foi quando classificou de genocídio a ação de extermínio contra o povo armênio, pelo extinto Império Otomano. Diante dos protestos da Turquia, a mensagem foi de poucas palavras: “O caminho da Igreja é o da franqueza. Não podemos silenciar o que vimos e ouvimos.", assinalando que a verdade não se oculta com a hipocrisia diplomática.

Os jornais dos Emirados Árabes Unidos mais uma vez destacaram a determinação do Papa Francisco, de buscar a paz de maneira calma e progressiva, mas eficiente para chegar ao reconhecimento do Estado da Palestina, como estado independente, soberano e democrático, que viva em paz e segurança com Israel e os seus vizinhos. Ressaltaram também, a Santa Sé deseja o envolvimento da comunidade internacional, comprometida com eficácia, na busca da paz.

Finalmente, o principal jornal dos Emirados, foi generoso na sua edição do dia 18 de maio, noticiando a canonização das irmãs religiosas palestinas, Mariam Bawadi e Marie Alphonsine Ghattas. Relata as palavras do Papa: “Que os cristãos, inspirados pelo seu exemplo de misericórdia, caridade e reconciliação, olhem com esperança o futuro dessas terras seguindo o caminho da solidariedade e coexistência fraterna.”.

As terras do Oriente Médio escreveram uma história de ambiguidades.  No fundo, as três religiões que nasceram aqui, judaísmo, cristianismo e islamismo, visam à paz entre as pessoas. No entanto, foram assoladas por guerras e discórdias; hoje, terrorismo e radicalismo protagonizam horrores, especialmente contra os cristãos. Apesar disso, o Papa Francisco é admirado pela confiança e esperança que comunica com suas atitudes, na construção de “pontes” sobre as quais transite a paz entre grupos e países rivais.

*Missionário Pe. Olmes Milani CS

Das Arábias para a Rádio Vaticano








All the contents on this site are copyrighted ©.