Dom Helder e a imprensa durante o Concílio


Cidade do Vaticano (RV) - No nosso espaço Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a tratar no programa de hoje da participação de Dom Helder Câmara no evento conciliar.

Dom Helder Câmara não mediu esforços para atuar nas diversas instâncias do Concílio Vaticano II. Se por um lado tinha um bom conhecimento do mecanismo de funcionamento da “máquina conciliar”, por outro tinha plena consciência de que aquilo que chegava até a opinião pública era a informação filtrada pelos jornalistas e então transmitida ao mundo pela imprensa escrita, falada e televisiva.

Neste sentido, Dom Helder tinha dois campos de atuação. Dentro do Concílio, como articulador da ação dos bispos e peritos, coordenando as conferências episcopais; e externamente  no contato com a imprensa. Mesmo nunca tendo se pronunciado na aula conciliar, era solícito com os jornalistas, concedendo entrevistas, participando de programas televisivos e coletivas de imprensa. Dom Helder via a imprensa, não somente como um instrumento para transmitir, de modo compreensível, o que se passava no Concílio, mas também como um veículo para lançar novas ideias e para influenciar indiretamente, de certa forma, a Assembleia Conciliar, fazendo chegar recados às mais altas esferas da Igreja, interpelando intelectuais e governantes, entusiasmando jovens e formadores de opinião. Preparava com cuidado suas conferências e sermões, submetendo o rascunho de suas ideias e intuições à família Messejense, a peritos do Concílio, a técnicos e economistas amigos e mesmo à Secretaria de Estado e até mesmo ao Papa, quando abordava questões delicadas.

Dom Helder, logo após uma concorrida conferência proferida em Roma sobre "Perspectivas de novas estruturas na Igreja", com o auditório repleto de teólogos e de observadores não católicos, expressou suas dúvidas e certezas a respeito de sua atuação. Num dos trechos destacados pelo Padre Oscar Beozzo no trabalho "Dom Helder Câmara e o Concílio Vaticano II", o então Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro escreve:

"Agi e agirei e agiria:

- por estar convicto de que meu papel no Concílio é o de agir no Ecumênico e de falar extra-Basílica;

- pela necessidade de ajudar o Santo Padre;

- pela necessidade de encorajar os Peritos, os observadores e a imprensa;

- pela necessidade de ajudar toda a geração de amanhã (jovens clérigos e leigos, ansiosos por ver a super-prudência contrabalançada por uma ponta de audácia);

- pela convicação de ter recebido o sopro de Deus através de José ("José" era o nome que Dom Helder dava ao seu anjo da guarda e às vezes a si próprio quando estava inspirado")

Dom Helder tinha um estilo franco e direto, crítico e esperançoso, o que fazia com que gozasse de grande estima por parte dos jornalistas que solicitavam a ele entrevistas.

Se por um lado Dom Helder teve uma forte atuação no Concílio, poderíamos dizer, também nos bastidores, trabalhando nas articulações que envolviam a CNBB, o CELAM, o Ecumênico, o Opus Angeli, a Igreja dos Pobres, além de incontáveis amigos e colaboradores, por outro não poupou esforços no trabalho com a imprensa, onde conquistou também grande notoriedade.

Na retaguarda de todo este trabalho desenvolvido durante o Concílio, estavam longos momentos de oração contemplativa e de um fiel grupo de amigos do Rio de Janeiro, do Recife e de outras partes do mundo, que lhe serviam de alento e apoio.

Fonte: Dom Helder Câmara e o Concílio Vaticano II. Pe. Oscar Beozzo








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