Sínodo não é só comunhão de divorciados, indissolubilidade e homossexuais


Cidade do Vaticano (RV) – Ao final da viagem do Papa a Cuba e Estados Unidos, a atenção dos ‘vaticanistas’ novamente vai se voltar para os debates do Sínodo dos Bispos. Neste ano, o Sínodo, intuição do Concílio Vaticano II, completará 50 anos de criação. A assembleia de padres sinodais é, por vocação, um quadro consultivo ao qual o Papa recorre para saber como melhor orientar a Igreja.

Diante dos embates difundidos na imprensa leiga durante a assembleia extraordinária do ano passado, é preciso esclarecer que o Sínodo não é um parlamento, não existem partidos. As decisões não são executivas. O que norteia os debates dos padres sinodais é a colegialidade, afinal, a palavra “sínodo” na sua raiz quer dizer “caminhar juntos”.

É claro que não se pode negar que os pontos de vista dos padres sinodais nem sempre convergem, contudo a ação é guiada pelo Espírito Santo. Na tentativa de  evitar polarizações inócuas, a secretaria do Sínodo informa que será dada prioridade para as discussões dos “círculos menores”. Estas reuniões concentrarão os padres sinodais de acordo com o idioma. Falando a mesma língua, a Santa Sé espera que as “diferenças” sejam colocadas de lado pelo bem maior da Igreja e de seus fiéis.

No próximo mês de outubro dar-se-ão, ao longo de três semanas, as discussões do 14º Sínodo Ordinário cujo tema é: “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”. Francisco voltará, por assim dizer, ainda mais seguro de suas convicções sobre que caminho seguir após participar dos encontros com as famílias latino-americanas, em Cuba, e do mundo inteiro, na Filadélfia.

O Sínodo é livre para decidir se publicará ou não um documento final. Tradicionalmente, as reflexões do Pontífice eram publicadas em uma Exortação pós-sinodal. Contudo, Francisco, ao final da assembleia extraordinária, teceu suas considerações após duas semanas de escuta. O discurso do Papa não foi um documento em nível doutrinal, todavia, serviu de argumento base para grande parte da imprensa.

A maioria dos veículos da mídia leiga deu destaque, de modo particular, para três questões: a indissolubilidade do sacramento do matrimônio; a possibilidade de casais de segunda união participarem da Comunhão eucarística e o acolhimento dos fiéis homossexuais e sua participação plena na vida da comunidade.

Assuntos que convidam ao discernimento não somente dos padres sinodais e do Papa, mas de todo o povo de Deus. O instrumento de trabalho para o próximo Sínodo, que pode ser baixado na íntegra em português, contém as proposições que os padres sinodais recolheram em cada paróquia e sobre as quais refletiram durante muito tempo. Está dividido em três partes: A escuta dos desafios sobre a família; o discernimento da vocação familiar e a missão da família hoje.

Nesta visão macro estão contemplados os pormenores das três questões já acima citadas, ainda que em sua forma não definitiva. O esboço da primeira reitera que Deus consagra o amor dos esposos e, portanto, consagra também a indissolubilidade. Sobre a possibilidade de que os divorciados e recasados acedam aos sacramentos da Penitência e da Eucaristia, as reflexões sugerem uma definição que passa por um caminho penitencial “sob a responsabilidade do bispo diocesano”.

Por fim, os padres sinodais são uníssonos ao recordar que a Igreja ensina que “não existe fundamento algum para equiparar ou estabelecer analogias, mesmo remotas, entre uniões homossexuais e o plano de Deus sobre o matrimônio e família”. Todavia, os mesmos acordaram que independentemente da orientação sexual, a pessoa deve ser respeitada na sua dignidade e recebida com sensibilidade e delicadeza, tanto na sociedade como na Igreja.

Ler e reler, refletir e discernir estes três temas é importante. Mas não é somente isso que está em jogo. O Magistério do Papa Francisco nos indica que aquilo que realmente está em xeque é a capacidade da família – como base da Igreja e do cristianismo – em ser exemplo de amor que vence o individualismo e fonte de esperança para as gerações futuras. (RB)








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