As intervenções de Dom Helder no Concílio Vaticano II


Cidade do Vaticano (RV) - No nosso Espaço Memória Histórica, 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a falar, na edição de hoje, da participação de Dom Helder Câmara no evento conciliar.

Como dissemos no programa passado, Dom Helder não se pronunciou uma única vez na Aula conciliar. No entanto, preparou intervenções notáveis, depositadas por escrito na Secretaria Geral, nas quais deixa transparecer claramente sua preocupação com os rumos do Concílio e com seu método de trabalho.

Em 21 de novembro de 1962, final do primeiro período Conciliar em que a Assembleia buscava definir a pauta dos trabalhos e encontrar um eixo orientador para o Concílio, Dom Helder e outros dez bispos da Europa, Oriente Médio, África, Ásia e América Latina solicitam a João XXIII que, imediatamente após a discussão sobre a Igreja, Lumen Gentium, o Concílio se volte para as grandes questões que afligem a humanidade e que poderiam ser agrupadas em quatro vertentes principais:

- Problemas relativos ao exercício da justiça e da caridade fraterna, tanto pessoal quanto social, principalmente em relação aos povos em via de desenvolvimento;

- Problemas relativos à paz e à união de todos os povos que formam a grande família humana, insistindo não só na superação dos conflitos armados, mas também nas exigências positivas da paz.

- Evangelização dos pobres e dos que se encontram longe da Igreja;

- Exigências de renovação evangélica tanto nos pastores como nos fiéis da Igreja, com especial atenção aos conselhos evangélicos e à pobreza que não pode se limitar à palavras e discursos.

Os signatários pedem finalmente para que seja constituída uma Comissão ou Secretariado especial para lidar com estas questões, ainda antes do final da primeira sessão conciliar, como sinal de que a Igreja está firmemente comprometida a enfrentar, de maneira séria e eficaz, os problemas do mundo moderno, empenhando-se na sua superação.

O Secretariado acabou não sendo criado naquele momento, mas logo após o Concílio, Paulo VI instituiu a Pontifícia Comissão Justiça e Paz, voltada a cumprir os objetivos esboçados na proposta de Dom Helder em 1962. Como escreveu o Padre Oscar Beozzo no ensaio "Dom Helder Câmara e o Concílio Vaticano II", trata-se da primeira iniciativa concreta que irá desembocar na elaboração do esquema XVII, convertido em esquema XIII e, por fim, na Constituição Pastoral Gaudium et Spes e no seu posterior complemento, a Encíclica Populorum Progressio de Paulo VI.

Outra intervenção encabeçada por Dom Helder Câmara, redigida em francês e subscrita por representantes de 23 conferências episcopais, pedia ao Papa Paulo VI que, levando em consideração a relevância do esquema sobre a "Igreja no Mundo de hoje" e a dificuldade em aprofundá-lo no decorrer do exíguo tempo que restava da III sessão conciliar, previsse um novo período conciliar para o ano seguinte, em 1965.

Numa intervenção semelhante redigida em inglês e subscrita praticamente pelos mesmos bispos, pede-se ao Concílio que foque sua atenção nos problemas da pobreza no mundo e empenhe-se na formação da consciência dos cristãos nos países mais ricos. Pede-se, além disto, que seja um leigo, perito no tema, a expor aos bispos, da Aula Conciliar, o estado da questão do mundo; que se forme uma comissão de especialistas que delineie o tipo de instituições, as formas de cooperação, de contatos e de políticas que a Igreja pode adotar para assegurar sua plena participação num combate em escala mundial para a erradicação da pobreza.

Fonte: Dom Helder Câmara e o Concílio Vaticano II. Pe. Oscar Beozzo








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