Mensagem do Papa a Tirana: Não devemos nos resignar à guerra!


Cidade do Vaticano (RV) –  “Viver juntos em paz, recordando que a paz e a convivência têm um fundamento religioso. A oração está sempre na raiz da paz”. O Papa Francisco enviou uma mensagem às 400 personalidades do mundo político, cultural e religioso, reunidas desde a tarde deste domingo (6) até  quarta-feira, em Tirana, capital da Albânia, para reafirmar que a paz não somente é possível, mas uma necessidade para superar os problemas existentes em várias partes do mundo. A mensagem do Pontífice foi lida no início do encontro.

Espírito de Assis

O Santo Padre sublinha no início da mensagem que estes encontros “seguem o sulco traçado por João Paulo II com o primeiro histórico encontro em Assis em outubro de 1986”, e a partir do qual se verifica uma verdadeira peregrinação de homens e mulheres de diversas religiões que a cada anos se encontram em cidades diferentes do mundo. Quanto mais mudam os cenários da história e os povos são chamados a enfrentar as transformações profundas, algumas vezes dramáticas, mais existe a necessidade de que “seguidores das diferentes religiões se encontrem, dialoguem, caminhem juntos e colaborem pela paz, naquele “espírito de Assis” que faz referência ao luminoso testemunho de São Francisco”.

A convivência pacífica após a obscuridade do ateísmo de Estado

O Papa chama a atenção para o fato de que neste ano o encontro é realizado justamente em Tirana, capital de um país que “se tornou símbolo da convivência pacífica entre religiões diferentes, após uma longa história de sofrimento”. Francisco fez menção à viagem realizada em setembro de 2014 ao país, o primeiro europeu por ele visitado, e escolhido não ao acaso, mas para “encorajar o caminho de convivência pacífica após as trágicas perseguições sofridas pelos fieis albaneses no século passado. A longa lista de mártires – disse o Pontífice – fala ainda hoje daquele período obscuro, mas fala também da força da fé que não se deixa curvar pela prepotência do mal. Em nenhum outro país do mundo foi tão forte a decisão de excluir Deus da vida de um povo: mesmo um simples sinal religioso era suficiente para serem punidos com a prisão, quando não com a morte. Tal tristíssimo primado marcou profundamente o povo albanês, até o momento de reencontrar a liberdade, quando os membros das diversas comunidades religiosas, provados pelo comum sofrimento a que foram submetidas, se reencontraram para viver em paz”.

Convivência pacífica, valor a ser cultivado

Neste sentido o Santo Padre agradeceu pela escolha de Tirana como sede do encontro, recordando aos presentes o que havia afirmado em seu discurso às autoridades albanesas em setembro de 2014,  de que “a pacífica convivência entre as diferentes comunidades religiosas, é, de fato, um inestimável bem para a paz e para o desenvolvimento harmonioso de um povo. É um valor que deve ser guardado e incrementado a cada dia, com a educação ao respeito pelas diferenças e pelas específicas identidades abertas ao diálogo e à colaboração pelo bem de todos, com o exercício do conhecimento e da estima de uns pelos outros. É um dom que deve sempre ser pedido ao Senhor na oração”.

A paz é possível

O Pontífice reitera a necessidade de se reafirmar que “a paz é sempre possível” (tema do encontro), especialmente quando em algumas partes do mundo parece prevalecer “as violências, as perseguições e os abusos contra a liberdade religiosa, junto à resignação diante dos conflitos que se arrastam”.

É violência barrar aqueles que buscam um lugar de paz

Afirmando com veemência de que “não devemos nunca nos resignar à guerra!”, o Papa adverte de que não podemos permanecer indiferentes diante de quem sofre pela guerra e pela violência, motivo que o levou à escolha do tema próximo Dia Mundial da Paz “Vence a indiferença e conquista a paz”. E o Papa denuncia outra formas de violência:

“Mas é violência também levantar muros e barreiras para bloquear quem busca um lugar de paz. É violência empurrar para trás quem foge das condições desumanas na esperança de um futuro melhor. É violência descartar crianças e idosos da sociedade e da própria vida! É violência alargar o fosso entre quem desperdiça o supérfluo e quem falta o necessário”.

Redescobrir a vocação universal à paz

“É a fé – afirmou o Papa – que nos impele a confiar em Deus e a não nos resignar-nos às obras do mal”. “E como crentes somos chamados a redescobrir a vocação universal à paz depositada no coração de nossas diversas tradições religiosas e propô-las com coragem aos homens e às mulheres de nosso tempo”. E repetindo o que havia falado aos líderes religiosos reunidos em Tirana em 2014, Francisco reiterou que “a religião autêntica é fonte de paz e não de violência. Ninguém pode usar o nome de Deus para cometer violência! Matar em nome de Deus é um grande sacrilégio! Discriminar em nome de Deus é desumano”.

Ao concluir, o Papa se une a todos os participantes, nas variedades das tradições religiosas, no esforço de continuar a viver “na comum paixão pelo crescimento da convivência pacífica entre todos os povos da terra”. (JE)








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