Artigo: Custo das campanhas eleitorais


Porto Alegre (RV*) - Debateu-se amplamente o problema do financiamento das campanhas eleitorais, bem como a questão da dívida da União e dos Estados. Na verdade, o problema não é este. É apenas a ponta do Iceberg. Para ser sincero, esta discussão não leva a nada. O problema de fundo são os gastos, tanto das campanhas como das administrações públicas. Comecemos pelos salários, totalmente desproporcionais dos que se locupletam com os cargos públicos. Desçamos, depois, para o inchamento da máquina administrativa, uma chaga que se vem agravando ao longo dos tempos. Quando examinamos o número dos funcionários públicos de nosso país com o de outros países mais evoluídos, ficamos abismados. Vem, depois, a malversação dos fundos, superfaturamentos, propinas, corrupção... É proverbial que uma obra pública custa três vezes mais que uma particular, tanto na construção como no funcionamento. Basta dar o exemplo das escolas, nos três níveis: fundamental, secundário e superior.

O problema a ser enfrentado não é, primeiramente o do financiamento, quer público, quer particular, mas do custo. São verdadeiros absurdos. Ninguém está disposto a colaborar com tal esbanjamento, sem uma boa vantagem “por fora”. Na verdade, não se lança um candidato, mas se pretende fabricar um, de acordo com o gosto ou as exigências do povo, só para aquele momento. Há algo visceralmente errado nas campanhas eleitorais. Além de “pintar” um candidato com as cores mais vistosas, se concerta a campanha na demolição dos adversários. Sem dó nem compaixão. A campanha eleitoral virou uma luta de boxe. Quem derruba mais, quem é mais violento parece tirar vantagem. É a americanização da política. A tática é o combate ferrenho, que chamam eufemisticamente de debate. Depois de dividir a sociedade e de insuflar muito ódio, raiva, inveja, se queixam da violência, da criminalidade reinantes na sociedade. Alguém estará disposto a apoiar financeiramente esta baixaria? Além do mais, para que servem “as bocas de urna”, os bandeiraços, os showmícios? Certamente custam muito caro!

A discussão deve-se deslocar para o campo da política, da promoção do bem comum. Ora o maior valor do bem comum é a fraternidade. Não pode ser destruída no exato momento em que se pretende promover a política! Para uma boa campanha eleitoral basta apresentar os nomes, com seus programas, mais pelo que já fêz do que pelo que pretende fazer. O eleitor deseja ver o testemunho do empenho pelo bem comum. Necessita conhecer o candidato nas suas qualidades e, acima de tudo, no seu elã em prol do bem comum.

Tínhamos esperança de uma seleção mais criteriosa dos candidatos a partir do voto distrital. Ali cada cidadão é conhecido. Não há necessidade de grandes campanhas, caras e supérfluas. Basta divulgar sua candidatura. Não é preciso construir sua imagem. Ela já existe e foi criada por ele mesmo ao longo de uma vida pregressa, de méritos e de solidariedade. Já é conhecido. E se não o for, não é nesta hora que o será. Por isso não se pode votar em desconhecido. Os cidadãos devem envolver-se em atividades públicas para merecerem que seus nomes constem como candidatos, quer para a eleição nos municípios, quer estadual quer federal. Escolhem-se pessoas do lugar, com visões que se alargam para os problemas municipais, estaduais e nacionais, na medida em que se interessam pela política, sem nunca perder sua ligação com a base que as elegeu.

*Dom Dadeus Grings
Arcebispo Emérito de Porto Alegre








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