Papa: mudemos mentalidade, nossas ações atingem quem passa fome


Cidade do Vaticano (RV) - "É hora de mudar de mentalidade e deixar de pensar que nossas ações não têm nenhum impacto sobre quem passa fome". Essa é a mensagem lançada nesta quarta-feira (15) pelo Papa no Twitter. O convite repropõe mais uma vez a reflexão de Francisco sobre a necessidade de mudar o estilo de vida, porque uma maior simplicidade pode contribuir a sanar os desequilíbrios sociais e ter efeitos benéficos sobre a saúde do planeta. Quem comenta o tuíte do Papa é Paolo Beccegato, vice-diretor da Cáritas italiana, em entrevista à Rádio Vaticano.

O convite através do tuíte repropõe mais uma vez a reflexão de Francisco sobre a necessidade de mudar o estilo de vida, porque uma maior simplicidade pode contribuir a sanar os desequilíbrios sociais e ter efeitos benéficos sobre a saúde do planeta. Quem comenta o tuíte do Papa é Paolo Beccegato, vice-diretor da Cáritas italiana, em entrevista à Rádio Vaticano.
 
Paolo Beccegato – “O primeiro ponto é aquele da consciência, do conhecimento, da informação: o fato de saber que compramos um produto de uma certa forma, indiretamente se está promovendo um certo modo de produção daquele mesmo bem ou que se está investindo dinheiro através de certas estruturas econômicas, ou indiretamente que vão se apoiar em governos, empresas ou realidades que podem fazer o bem ou o mal... Em suma, cada comportamento nosso, não somente de caráter econômico, tem esse impacto, e o primeiro ponto é sabê-lo, conhecê-lo, então, num esforço educativo. E, certamente, não se eximir: isso quer dizer que perante o conhecimento e a consciência nasce uma função de responsabilidade.”
 
Rádio Vaticano – A propósito de ações que impactam sobre quem passa fome, Papa Francisco, no seu último discurso na FAO, disse claramente que ‘inquieta’ saber como uma boa quantidade de produtos agrícolas não seja usada para as ‘necessidades imediatas dos famintos’...
 
PB – “Aqui têm várias dinâmicas que vão em direções contrárias. De um lado, certamente, em anos anteriores, tiveram estímulos direcionados, por exemplo, ao emprego de combustíveis também nas produções que antes eram destinadas somente à alimentação. Existem dinâmicas que, no entanto, substancialmente foram instrumentalizadas: pensemos aos dois grandes picos de preços da comida – aquele entre 2007-2008 e aquele entre 2011-2012 – então, dinâmicas rigorosamente especulativas que fazem também da comida um bem qualquer sobre o qual poder fazer especulação econômica, isto é, ganho em curto prazo. Para mim parece que, dentro das palavras do Papa, têm todas essas dinâmicas. Por isso, no final, não se trata de comida como deveria ser, isto é, antes de tudo um bem destinado à alimentação humana. Então, todas essas dinâmicas devem ser melhor administradas para que alguns desastres do passado não se repitam.”
 
RV – Dessa forma, pensamos na ‘classe média’ que se fala nestes dias, isto é, aquela categoria que justamente para ser colocada na faixa onde a pobreza e iniquidade incidem substancialmente menos, corre-se o risco de não ter os estímulos ideais para mudar...
 
PB – “Certamente. Aquilo que estamos vendo um pouco em todo mundo é o risco de uma maior polarização dos países e, dentro dos países, das sociedades. O Papa acenou essa dinâmica muito fortemente também nessa recente viagem à América Latina, tanto que alguns estudos específicos de setor dizem que, no próximo ano, em 2016, 50% da demanda mundial terminaria nas mãos de somente 1% da população. Isso quer dizer, substancialmente, uma redução da classe média, sobretudo verso as classes mais pobres. Então, se a classe média não tem a própria capacidade de conexão também em direção aos mais pobres, as desigualdades não farão outra coisa que aumentar e, infelizmente, com as desigualdades, também os riscos de violências, de tensões e de crises aumentarão. Esse é um perigo que todo devemos afastar.”
 
RV – Papa Francisco, ao falar na FAO, fez uma outra afirmação em relação a esse discurso que se parece quase a um tuíte: “A simplicidade não se opõe ao desenvolvimento, ao contrário, é tão evidente que se transformou numa condição”...
 
PB – “Existem modos de pensar, visões rigorosamente economicistas e tecnicistas, da dimensão econômica, que dizem: o consumo diminuiu, então, teve crise. Dessa forma, para resolver a crise é necessário aumentar o consumo. De qualquer modo, quem vai em direção à simplicidade andaria contra o desenvolvimento econômico. Aqui, mais uma vez, o Papa mete o dedo e corretamente. Não é assim: uma maior simplicidade ou uma melhor distribuição das riquezas, das oportunidades, andaria também na direção de um desenvolvimento integral – come diria o Papa – de uma ecologia integral, isto é, de uma saúde global. O problema é que essa economia deve ser repensada porque, neste momento, ai de mim, a moda vai em direções contrárias.

(AC)








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