Card. Filoni: para uma “Igreja toda missionária” a estrada ainda é longa


Burgos (RV) – Começou nesta segunda-feira (6) em Burgos, na Espanha, mais uma edição da Semana de Missiologia (de número 68). Na conferência inaugural, o cardeal Fernando Filoni, prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, deu o ponto de partida do evento com uma reflexão seguida de um questionamento:

“A celebração mais bonita e sonhada de um Decreto conciliar, e de todo o Concílio no seu conjunto, é aquela de poder constatar que o citado Decreto se desatualizou como documento escrito, mas ainda está vivo porque foi recebido e concretizado normalmente na experiência eclesial. Podemos aplicar essa apreciação ao Decreto Ad Gentes sobre a atividade missionária da Igreja, por exemplo?” 

A questão a ser examinada vai de encontro ao tema do evento, que este ano é ‘Significado e desafios das missões de hoje. Depois dos 50 anos do Decreto Ad Gentes’.

O Decreto Ad Gentes é sempre novo

Na sua ampla explanação sobre o tema ‘O Decreto Ad Gentes: uma visão teológica e pastoral da missão’, como refere a Agência Fides, o cardeal Filoni evidenciou, sobretudo, que não se trata de celebrar um aniversário de alguma coisa relevante do passado, porque para “o Vaticano II não acontece assim, pois se trata de um acontecimento vivo, que não acabou”. O cardeal sublinhou, inclusive, como atualmente seja “evidente que a definição missionária da Igreja foi assumida em todos os documentos oficiais do magistério”, mesmo assim se questionou: “podemos afirmar que o Povo de Deus seja hoje um povo missionário?”

Para a imagem de uma “Igreja toda missionária” a estrada ainda é longa

O cardeal Filoni ressaltou: “Vocês não tem dúvidas de que a missionariedade ocupou a reflexão pastoral de numerosas conferências episcopais, com resultados diversos... Outros episcopados tentam agora sair de uma longa letargia missionária na qual viveram por séculos. Talvez por esse motivo, Papa Francisco, no Evangelii Gaudium, direciona o seu discurso de conversão à missão dos pastores: se esses não se transformam, será realmente difícil que o Povo de Deus tenha consciência”. Para chegar à imagem de “uma Igreja em estado de missão, de uma Igreja toda missionária” a estrada ainda é longa, mas “não há dúvidas que, na época post-conciliar, se fez pouco para alcançá-la. A Igreja missionária continua a pertencer aos missionários ad gentes ou inter gentes”, ressaltou o prefeito da Congregação.

A missão interna e a missão Ad Gentes conquistaram dimensões globais

Todavia, ao nível de consciência missionária do inteiro Povo de Deus, não faltam também elementos positivos, ressaltou o cardeal, fazendo uma panorâmica dos continentes. Na análise sobre o desenvolvimento da missionariedade, ele lembrou: “Uma prova evidente de uma nova consciência missionária se encontra no campo concreto da atividade missionária, na missionariedade da comunidade cristã. É um agir que não é mais unidirecional, do norte ao sul, dos ricos aos pobres; se trata, de fato, de um agir em comunidade, onde todos têm alguma coisa para dar e para receber, seja ao interno das igrejas, seja na ordem de levar o Evangelho aos não-cristãos. Seja, então, a missão interna, seja a missão ad gentes, conquistaram dimensões globais, de toda a Igreja para todo o mundo”.

A cooperação missionária deve envolver todo o Povo de Deus

Na última parte da sua conferência, o prefeito da Congregação falou da cooperação missionária: “fruto de uma consciência missionária, não se limita a uma participação individual na variedade de ações missionárias; se trata de um envolvimento de todo o Povo; é um operar comum. Se fala sempre do sujeito que coopera doando; é ele o protagonista porque é doador. Do outro lado se encontra aquele que recebe e que não é nunca visto como cooperador. Quem dá coopera, quem recebe é mero sujeito passivo. Todavia, isso não manifesta uma autêntica estrutura em comunhão cristã. Nessa, todos dão e todos recebem; cada um coloca em comunidade aquilo que tem e cada um participa dos dons do irmão, sobre os quais se apoia a alegria de quem recebe”.

O decreto conciliar ainda não foi recebido em plenitude pelo Povo de Deus

Nas conclusões, o cardeal Filoni afirmou ainda que: “Da publicação do Decreto Ad Gentes até a Exortação Evangelii Gaudium se passou meio século, no qual a atividade missionária da Igreja não parou. Na verdade, a Igreja não sabe fazer outra coisa, se não anunciar a Boa Nova. Todavia, a solene proclamação conciliar sobre a Igreja Missionária por natureza ainda não foi acolhida na sua plenitude pela totalidade do Povo de Deus. E, essa, deveria ser a graça maior que esse Povo pode receber e a única ação solicitada para ser fiel à sua identidade”. A Semana de Missiologia, que acontece na Faculdade de Teologia de Burgos, termina na próxima quinta (9).

(AC)








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