Card. Turkson: Ouvir os movimentos sociais como protagonistas


Santa Cruz de la Sierra (RV) – “Terra, casa e trabalho. Direitos sagrados. Bens primários. O encontro dos movimentos populares que de 7 a 9 de julho será realizado em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, e será concluído pelo Papa Francisco, colocará no centro esta problemática e será um importante momento da visita papal nesta região da América do Sul”. Para o Cardeal ganense, Peter Turkson, Presidente do Pontifício Conselho para a Justiça e a Paz - que junto à Pontifícia Academia das Ciências Sociais colaboram para a realização deste evento - trata-se de um fato particularmente significativo neste momento para a América Latina.

Segundo encontro segue o realizado no Vaticano

A reunião destas organizações populares formadas por campesinos, papeleiros, trabalhadores informais, migrantes trabalhadores sem-terra, habitantes das periferias urbanas e assentamentos, coordenada pelo advogado argentino Juan Grabois, dá sequência ao primeiro e inédito encontro com os diversos delegados destas realidades marginalizadas, realizado no Vaticano em outubro passado. Um fato notável, “sem precedentes”, que teve comentários positivos vindos de diversos líderes que participaram do encontro no Vaticano e viajam agora à Bolívia. Em Santa Cruz de la Sierra, de fato, a cidade industrial por excelência da Bolívia, estarão reunidos mais de 1.500 delegados, a maioria provenientes do Brasil e da Argentina, mas também do Chile, Costa Rica, Colômbia, Haiti, República Dominicana, México, Equador, El Salvador, Estados Unidos, Índia, Quênia, Itália, entre outros.

Participação do Papa

Os delegados, entre os quais o brasileiro João Pedro Stédile, histórico coordenador do Movimento dos Sem-Terra, havia agradecido ao Papa Francisco pelo seu acompanhamento e proximidade “não somente por quem sofre a injustiça, mas também em relação a todos que se organizam e lutam para superá-la”. “O primeiro encontro foi muito desejado pelo Papa,  pelo seu conhecimento pessoal desta realidade e de alguns de seus líderes na Argentina”, explica o Cardeal Turkson. “E naquela reunião, exprimia com clareza o seu desejo e o seu projeto, já antecipando alguns temas de sua encíclica”.

Francisco traçou um perfil do evento, a sua natureza e os seus objetivos com estas palavras: “Este nosso encontro não responde a uma ideologia. Não se pode enfrentar o escândalo da pobreza promovendo estratégia de contenção que unicamente tranquilizam e transformam os pobres em seres domesticados e inofensivos”. “Este nosso encontro – prosseguiu o Papa na ocasião – responde a um anseio muito concreto, algo que qualquer pai, qualquer mãe, deseja para os próprios filhos; um anseio que deveria estar ao alcance de todos, mas que  hoje vemos com tristeza sempre mais distante da maioria das pessoas: terra, casa e trabalho. É estranho, mas se falo disto para alguns, o Papa é comunista. Não se compreende que o amor pelos pobres está no centro do Evangelho. Terra, casa e trabalho, aquilo pelo qual vocês lutam, são direitos sagrados. Exigir isto não é estranho, mas é a doutrina social da Igreja”.

Compreender a causa da multiplicação dos excluídos

“Queremos que se escute a vossa voz que, no geral, se escuta pouco” – havia dito ainda o Papa Francisco – porque perturba, cansa e porque se tem medo das mudanças que exige. “Para nós – sublinha o Presidente do Pontifício Conselho para a Justiça e a Paz ao Jornal Avvenire – foi muito importante ouvir estes grupos para compreender as causas da multiplicação dos excluídos no mundo e entender as suas perspectivas de solução das diversas situações. Não os convidamos para vir aqui para instruir ou educar ou formularmos soluções para eles. Ouvimos aquilo que têm a dizer e assim se tratou também de reconhecê-los como protagonistas, promovendo a rede dos contatos entre os diversos grupos que nos leva agora a este segundo encontro na Bolívia”.

Neste contexto, o que quer significar?

“No contexto desta viagem serve sobretudo para despertar. Despertar os governos e as consciências. Porque existem tantos cidadãos, que apesar da presença de estruturas e de um governo democrático, se encontram nesta situação de marginalização? Por que se expande este fenômeno da exclusão? E por que,  portanto, existe o espaço para estes movimentos? É necessário perguntar. É necessário questionar isto com clareza”.

A Igreja, o que poderia fazer?

“A Igreja, por primeiro, escuta estas pessoas porque é chamada a estar atenta à realidade das pessoas e por isto acompanha estes grupos que são um sinal de resgate da própria dignidade. O nosso – explica o Cardeal – é um convite a não resignarmo-nos. Se alguém se encontra na situação de estar sem casa, sem terra e sem trabalho não pode resignar-se, não pode dizer que isto é o meu destino, pois este não é o destino de ninguém. Todos fomos criados com a vocação ao desenvolvimento”. (JE)

 

 

 








All the contents on this site are copyrighted ©.