A mensagem dos bispos brasileiros ao final da 2ª Sessão Conciliar


Cidade do Vaticano (RV) - No nosso espaço Memória Histórica, 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos tratar, na edição de hoje, da mensagem dos Bispos brasileiros ao final da 2ª Sessão Conciliar.

Os Bispos brasileiros presentes na 2ª Sessão Conciliar estavam apreensivos com a situação de instabilidade e acirramento dos ânimos vivida no Brasil, o que vai transparecer no final da mensagem intitulada "Saudação do Episcopado Brasileiro, após a Segunda Sessão". Esta primeira mensagem coletiva dos bispos, dirigida ao povo brasileiro, é dividida em três blocos: O Concílio, O Diálogo com Deus e o Diálogo com os Homens. O último bloco, consta de dois momentos distintos, um mais doutrinal e outro mais voltado à realidade brasileira.

Na introdução do documento, os bispos expressam alegria em poder anunciar, que após duas sessões conciliares, "já trazemos nas mãos os primeiros frutos concretos dos muitos que o Concílio vai produzir para a Igreja e para o mundo".

Na parte dedicada ao Concílio, os prelados apresentam-se não em nome próprio, mas como "testemunhas da fé de seus rebanhos e lhes interpretaram seus anseios e esperanças", renovando sua "integral adesão ao plano do Concílio, que inspirara o Santo Padre João XXIII e que é retomado com plena decisão pelo seu grande sucessor Paulo VI", para então entrarem no coração de sua mensagem, o empenho pastoral no sentido de promover o diálogo com Deus e com os homens.

No quadro "O Diálogo com Deus", os prelados apresentam a Constituição sobre Sagrada Liturgia, como a linguagem por excelência para se falar com Deus: a oração.

O Concílio é visto "como o ponto culminante de um movimento que vem amadurecendo com a experiência e a reflexão dos últimos anos; e, sob a luz do Espírito Santo, estabelece de forma solene e para o mundo inteiro normas felizes de um culto renovado, enriquecido, libertado de elementos que eventualmente lhes desfiguravam a genuína beleza e eficácia. essa renovação, temos certeza, nos dará um cristianismo marcado cada vez mais pela opção consciente e não pela simples adesão a um rumo histórico e tradicional".

Ao tratar do Diálogo com os homens, anunciam a promulgação pelo Concílio do Decreto sobre os Meios de Comunicação, para então começar a tratar da situação brasileira. A radicalização das posições na sociedade, podia ser observada também no diálogo entre os próprios bispos, cada vez mais difícil.

No documento, os prelados reconhecem o mal-estar provocado pelas desigualdades sociais, reiterando, no entanto, a crença na boa índole do povo brasileiro e na força do Evangelho, "que será capaz de guiar uma sociedade que se preza do nome de cristã na solução segura de seus angustiosos problemas". Os prelados, reafirmam o compromisso com a justiça e a verdade,  o que lhes dará força "para clamar contra o egoísmo dos que não pensam no bem comum", para denunciar que "não serão justos o lucro e o enriquecimento adquiridos com o menosprezo e a diminuição da pessoa humana" e  para saber incentivar o laicato cristão "a quem compete a ação no plano temporal - a trabalhar para o advento de dias melhores e a fazê-lo com retidão, com firmeza, e sobretudo com absoluta fidelidade aos ensinamentos do Evangelho e das encíclicas pontifícias".

Num momento em que - à esquerda e à direita -, se acredita no uso da força para solucionar os problemas do país, os prelados concluem a mensagem com uma advertência:

"A ninguém iluda a sedução das soluções pela violência, pelo terror, pelo aniquilamento da liberdade. O Brasil tem inesgotáveis recursos no quadro de sua vocação cristã e democrática. Ninguém será capaz de apresentar alguma fórmula miraculosa que resolva tudo de um momento para outro. Porém, a solução virá como fruto do trabalho constante, da honestidade, da lealdade, da ação harmoniosa e decidida de irmãos que querem construir juntos uma Pátria feliz".

Sobre o documento, Dom Helder comentou: "Foi lida e aprovada a mensagem ao Brasil. Documento vago e fraco...!".

 

FONTE: Padres Conciliares Brasileiros no Vaticano II: Participação e Prosopografia. 1959-1965.  José Oscar Beozzo








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