Editorial: Sarajevo: tempo de esperança


Cidade do Vaticano (RV) – “Peço desde agora, que rezem para que a minha visita àquelas queridas populações, seja de encorajamento para os fiéis católicos, suscite fermentos de bem e contribua para a consolidação da fraternidade, da paz, do diálogo inter-religioso e da amizade”. Era o dia 1º de fevereiro último quando o Papa Francisco, durante o Angelus na Praça São Pedro, anunciava ao mundo a sua viagem de um dia a Sarajevo. Um anúncio surpresa de uma visita à “cidade mártir”, capital da Bósnia-Herzegóvina, símbolo por muito tempo da difícil convivência entre católicos, ortodoxos e muçulmanos. E o dia tão esperado chegou. Foram quatro meses de preparação, de expectativa, de oração. Agora essa terra manchada pelo sangue de tantos inocentes, vítimas de conflitos devastadores, recebe o Sucessor de Pedro que vai confirmá-los na fé, e lançar sementes de reconciliação e esperança.

São João Paulo II visitou esta cidade em 1997, nos dias 12 e 13 de abril; pouco mais de 24 horas de permanência durante as quais pronunciou 11 discursos. Dirigindo-se aos líderes políticos de então daquela terra disse que aquela região durante séculos foi cenário de conflitos entre o Oriente e o Ocidente. Há muito tempo nesta terra se experimenta a possibilidade de convivência entre culturas diferentes que, cada uma ao seu modo, enriqueceu de valores toda a região.

Na Bósnia-Herzegóvina hoje convivem os povos dos eslavos do sul, unidos na estirpe, mas divididos pela história. Em Sarajevo, por exemplo, se elevam em direção do céu a catedral católica, a catedral ortodoxa, a mesquita muçulmana e a sinagoga hebraica. Uma demonstração que fés diferentes podem conviver e contribuir para a unidade de um país. Já na sua viagem em 1997 João Paulo II se interrogava sobre as tensões que poderiam se criar entre as pessoas de diferentes etnias com heranças de um passado difícil e como consequência da proximidade e da diversidade,… deveriam encontrar nos valores da religião motivos de moderação de freio, de uma visão construtiva de um novo país.

Hoje podemos nos interrogar se isso se verificou nos últimos anos. A viagem de Francisco será ocasião para um exame de consciência que irá certamente interpelar não só a realidade local mas também toda a Europa que deve se perguntar se fez o suficiente por este povo que foi tanto provado pelas guerras internas.

Na última terça-feira Francisco enviou uma videomensagem aos cidadãos da Bósnia-Herzegóvina na qual destacou o motivo da sua viagem: confirmar na fé os fiéis católicos, promover o diálogo ecumênico e inter-religioso e, sobretudo, encorajar a convivência pacífica no país.  O tema da visita “A paz esteja convosco”. Francisco se preparou para visitar o país como um “irmão mensageiro de paz”, que vai para “anunciar a cada pessoa, a cada família, a cada comunidade a misericórdia, a ternura e o amor de Deus”.

O Papa Bergoglio prossegue assim, as suas viagens pela Europa e pelo mundo, a partir de países periféricos onde os católicos são minoria. Em território europeu Francisco já realizou viagens à Albânia e Estrasburgo, quando nesta cidade encontrou as instituições europeias, e de certo modo, todo o continente. Quando explicou porque iniciava suas viagens pela Europa precisamente pela Albânia, acenou mais uma vez ao tema das periferias sublinhando que naquele país os componentes étnicos e religiosos estão presentes nas instituições e trabalham juntos. Já em Estrasburgo falou às instituições refletindo sobre a necessidade de dar novamente solidez à democracia do continente.

Agora convivência e cooperação para o bem comum, mesmo nas profundas diversidades religiosas, étnicas e de história, é o tema candente também na Bósnia-Herzegóvina, onde de 1992 a 1995 se combateu a primeira guerra na Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial, com milhares de mortes e uma série impressionante de crimes de guerra investigados pelos tribunais internacionais.

“A paz esteja convosco”: a expressão usada por Jesus para saudar os discípulos após a Ressurreição é a expressão usada por Francisco nesta viagem, pois os tempos que vivemos são tempos incertos sobre o futuro e por isso todos os habitantes da Bósnia, de modo particular os católicos, têm necessidade de semelhante encorajamento. O Arcebispo de Sarajevo, Cardeal Vinko Puljic, falando com a imprensa resumiu o sentimento de um povo que recebe Francisco: “A minha Sarajevo, esquecida por tanto tempo, verá a esperança renascer. Francisco nos dará coragem”. (Silvonei José)








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