Mensagens dos Bispos aos brasileiros durante o Concílio


Cidade do Vaticano (RV) - No nosso espaço Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos tratar, a partir da edição de hoje, das mensagens enviadas ao povo brasileiro pelos bispos presentes no Concílio.

Também neste tema, vamos nos guiar pelo rico trabalho de pesquisa realizado pelo Padre José Oscar Beozzo, compilado na Tese "Padres Conciliares Brasileiros no Vaticano II: Participação e Prosopografia".

Foram três as mensagens coletivas do Episcopado Brasileiro dirigidas ao povo brasileiro, aprovadas ao final da segunda, terceira e quarta sessão. Ao final da primeira sessão, não foi enviada nenhuma mensagem. A CNBB deixou que cada ordinário se dirigisse aos seus diocesanos, relatando-lhes o desenrolar da primeira sessão, cujos trabalhos apresentaram escassos resultados palpáveis. Mesmo não tendo enviado uma mensagem, a CNBB, num balanço interno acerca da 2ª Sessão Conciliar, assim escreveu sobre a 1ª Sessão:

"A 1ª Sessão do Concílio - a não ser no que diz respeito à Liturgia - havia principalmente aberto o caminho, deixando tudo ainda a ser feito para a construção de um novo edifício, em lugar daquele que foi completamente - ou quase completamente - desmoronado. Como lembrou o Santo Padre no seu discurso de abertura, era preciso mostrar a Igreja em si mesma e em face do mundo, pensando, especialmente, nos irmãos separados".

As três mensagens coletivas, no entanto, eram diferentes no tamanho e no estilo, sendo a de 1963 mais breve e a de 1964 mais longa. Nestas duas, a palavra estruturante do texto é "diálogo". Em todas as três, por outro lado, o Papa João XXIII é evocado com muito carinho, ao lado de Paulo VI, que deu continuidade ao Concílio após o falecimento de Roncalli em 3 de junho de 1963.

No período entre a primeira e a segunda Sessão do Concílio, agravou-se a situação política e social no Brasil, com um acirramento no confronto ideológico interno, observado dentro da Igreja - na contraposição entre movimentos como a Ação Católica e MEB por um lado, e as Congregações Marianas e a TFP por outro-, nos órgãos da imprensa, como entre "Brasil Urgente" e "O Catolicismo" e mesmo entre Bispos. Os prelados participantes do Concílio deixam o país com extrema apreensão. A edição do "O Conciliábulo", redigida a bordo do avião da PANAIR que trazia os bispos a Roma, traduz este sentimento em seu editorial:

"Abandonamos nossos rebanhos. Nesta hora grave da nossa Pátria, os Pastores se retiram, não numa atitude de fuga ou covardia. Somente os mais altos interesses da Igreja nos impelem, para irmos buscar junto do Pastor Magnus, as forças e as luzes necessárias. Se deixássemos de ir ao Concílio, passaríamos ao mundo um atestado da 'irrecuperação' do Brasil e nossos rebanhos mais intranquilos. Nossa viagem vale por um ato de fé na Providência".

Dias após a viagem, foi convocada uma reunião geral da CNBB para analisar o agravamento da situação do país, tornada mais crítica pela distância e pelas notícias que chegavam pela imprensa. Pensou-se inclusive, na possibilidade de alguns bispos retornarem ao país para algumas dioceses-chaves. A preocupação com a delicada situação pela qual atravessava o Brasil é visível na última parte da mensagem dos Bispos ao final da segunda Sessão. Nela, após um parágrafo introdutório, a mensagem intitulada 'Saudação do Episcopado Brasileiro, após a Segunda Sessão, desdobra-se em três blocos, abordando, respectivamente, O Concílio, O Diálogo com Deus e o Diálogo com os Homens. O último bloco consta de dois momentos distintos, um mais doutrinal e outro mais voltado à realidade brasileira.

FONTE: Padres Conciliares Brasileiros no Vaticano II: Participação e Prosopografia. 1959-1965.  José Oscar Beozzo








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