Concílio: a proposta de Bispos brasileiros para a falta de padres


Cidade do Vaticano (RV) - No nosso Espaço Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a tratar na edição de hoje, da participação do episcopado brasileiro nas sessões conciliares.

No programa passado, vimos como a questão do subdesenvolvimento, da miséria, da desnutrição e do analfabetismo, junto ao diálogo norte-sul, preocupavam o episcopado brasileiro, estando por isto presente nos debates e reuniões durante o Concílio. Outra área que causava grande preocupação aos prelados, especialmente brasileiros, era a do atendimento pastoral insuficiente ou inexistente em amplas áreas do país, por escassez do clero.

A discussão do esquema Presbyterorum Ordinis, na terceira sessão do Concílio, provocou uma insatisfação geral nos presentes pelo seu tom. Em nome de 112 Bispos brasileiros e de  outras nações, o Arcebispo de Goiânia, Dom Fernando Gomes, assinalou as graves deficiências do esquema:

"O esquema, mesmo em sua nova redação, causou a nós e a muitos outros Padres Conciliares, uma grande desilusão. Julgamos que o texto das proposições constitui uma injúria aos nossos diletíssimos sacerdotes que trabalham conosco na vinha do Senhor. Se o Concílio Vaticano II disse coisas tão belas e sublimes quando tratou dos Bispos e dos Leigos, por que agora, ao tratar dos sacerdotes diz tão pouco e de modo tão imperfeito?”

Ao concluir, Dom Fernando Gomes pediu que o esquema fosse rejeitado e elaborado um novo, a ser discutido e votado na próxima sessão do Concílio.

Neste meio tempo, a discussão a cerca dos ministérios que tocara o tema do restabelecimento do diaconato permanente, evoluiu, na quarta sessão, no sentido de se discutir a possível ordenação de homens casados, por um lado, e o acesso de diáconos casados ao presbiterato, por outro. Ambas as questões tocavam a vinculação entre ministério presbiteral e celibato na tradição latina.

O Bispo de Lins, Dom Pedro Paulo Koop, preparou um texto para sua intervenção onde pedia a ordenação de homens casados, de modo a cumprir o mandato evangélico da evangelização e do pastoreio das comunidades, privadas longamente da presença sacerdotal e da celebração eucarística por escassez de padres. Após preparar seu pronunciamento e entregá-lo, como era de praxe, ao secretariado do Concílio, Dom Pedro distribuiu o documento a muitos outros padres conciliares em busca de apoio ao texto. Foi, no entanto, advertido para que não se pronunciasse oralmente na Sala Conciliar. O texto original em latim, acabou sendo publicado em francês no Jornal Le Mond em 12 de outubro de 1965. A publicação acabou coincidindo com a carta de Paulo VI ao Cardeal Tisserant, retirando a discussão do tema da agenda conciliar, deixando em situação difícil o Bispo de Lins, ainda novo no Episcopado, que foi atacado por alguns colegas e acusado de desonrar o Episcopado brasileiro, colocando-o contra o Santo Padre. Anos mais tarde, sua posição tornou-se majoritária no seio da Conferência Episcopal Brasileira.

Além de Dom Pedro Koop, também o jovem bispo Francisco Austregésilo de Mesquita, da Diocese de Afogados da Ingazeira, em Pernambuco, depositou documento semelhante na Secretaria do Concílio, com data de 10 de outubro de 1965. Enquanto Dom Pedro pedia a ordenação de "viri probati", ele solicitava a de diáconos casados. Seu argumento não partia, inicialmente, da necessidade pastoral das comunidades e fiéis, privados de sacramentos pela falta de padres, mas insistia na distinção entre vocação para o sacerdócio e vocação para o celibato, podendo alguns assumir o carisma do celibato, sem necessariamente se sentirem chamados ao presbiterato. Inversamente, havia zelosos presbíteros que não se sentiam chamados ao celibato. Postulava, portanto, a liberdade de escolha, sem medo de perder ministros por esta razão. Mas num segundo momento, passou a insistir igualmente nas necessidades pastorais de inúmeras regiões do mundo, citando o exemplo da própria Diocese.

 

FONTE: Padres Conciliares Brasileiros no Vaticano II: Participação e Prosopografia. 1959-1965.  José Oscar Beozzo








All the contents on this site are copyrighted ©.