Card. Koch: Que a nova visão trazida pela Nostra Aetate possa dar frutos cotidianos


Washington (RV) – Concluiu-se esta sexta-feira (22/5) na Catholic University of America, em Washington, um simpósio dedicado à “Nostra Aetate”, por ocasião do 50º aniversário da Declaração conciliar sobre as relações da Igreja com as religiões não-cristãs. Em particular, tratou-se sobre as relações com os judeus e muçulmanos. Do evento participaram, entre outros, o Presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, Cardeal Jean Louis-Tauran, o Arcebispo de Nova York, Timonthy Dolan e o Presidente do Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos, Cardeal Kurt Koch, que falou aos microfones da Rádio Vaticano:

“O tema do simpósio nos fez meditar sobre quais efeitos teve a ‘Nostra Aetate” nos últimos 50 anos. Naturalmente, foi importante recordar qual era o conteúdo desta Declaração, que reconheceu novamente as profundas ligações existentes entre as religiões hebraica e a Igreja Católica, que temos uma herança comum que devemos aprofundar. Obviamente foi reiterada a condenação de toda forma de antissemitismo. Após, eu assumi o compromisso pessoal de demonstrar como todos os Papas que reinaram após o Concílio Vaticano – Paulo VI, João Paulo II, Bento XVI e Francisco – tenham sido absolutamente fundados na “Nostra Aetate” e como tenham aprofundado e apoiado a profunda convicção da estreita ligação entre judaísmo e cristianismo. João Paulo II expressou este conceito com palavras muito bonitas: a relação entre a Igreja Católica e o Judaísmo não é uma relação exterior, mas interior e na realidade faz parte da identidade da Igreja Católica. E é bonito observar como todos os Papas seguiram e aprofundaram esta linha. O grande desafio está no fato de que a “Nostra Aetate” influencia cada vez mais a vida cotidiana da Igreja, e portanto, que esta nova visão da proximidade entre judeus e católicos possa dar frutos na vida cotidiana”.

RV: Foi tratado do diálogo religioso entre cristãos e judeus. Também as questões políticas são estreitamente entrelaçadas. Recentemente, líderes judeus expressaram preocupação pelo reconhecimento vaticano do Estado da Palestina....

“Na Cúria, no entanto, fazemos uma clara diferenciação: a nossa Comissão é competente para as relações religiosas e teológicas com o hebraísmo, enquanto todas as relações diplomáticas e políticas são de competência da Secretaria de Estado. Por isto, me concentrei nos aspectos teológicos. Em relação à sua pergunta, fiquei um pouco surpreso com esta reação. O Papa Francisco, de fato, havia convidado os dois Presidentes, de Israel e da Palestina, para vir a Roma, em Pentecostes do ano passado, para rezar pela paz, portanto, na realidade, um claro reconhecimento daquilo que a Santa Sé sempre buscou, e isto é, que uma solução dos problemas do Oriente Médio pode fundar-se somente na constituição de dois Estados”.

RV: Quais são os seus auspícios, quando olha o futuro deste diálogo? Pensa que seja previsível num futuro próximo um diálogo entre cristãos, muçulmanos e hebreus, as três religiões abraâmicas?

“Até agora sempre tivemos colóquios bilaterais, isto é, entre a Igreja Católica e os judeus, entre a Igreja Católica e os muçulmanos.... Talvez seja ainda cedo para um “triálogo” entre judeus, muçulmanos e cristãos, pois justamente para nós cristãos as diferenças são muito evidentes. O Islã é uma religião nascida após o cristianismo mas que ao mesmo tempo se entende como complemento do cristianismo, enquanto, pelo contrário, o judaísmo é a “mãe”, o fundamento sobre o qual se apoia o cristianismo, sobre o qual nos apoiamos. Por isto, não se podem colocar estes dois diálogos no mesmo plano. É verdade que hoje nos agrada falar de um “ecumenismo abraâmico”, e é também justo, pois todas as três religiões fazem referência a Abraão. Mas, por outro lado, é verdade também que temos uma interpretação diversa – cristã, muçulmana, hebraica – de Abraão, e isto deve entrar no diálogo”. (JE)

 








All the contents on this site are copyrighted ©.