Beatificação de Dom Romero. Cardeal Amato: homem virtuoso


Cidade do Vaticano (RV) - Dom Oscar Arnulfo Romero y Galdamez, assassinado em 24 de março de 1980, será beatificado, no próximo sábado (23/05), em El Salvador.

A nossa emissora entrevistou o Prefeito da Congregação das Causas dos Santos, Cardeal Angelo Amato, que irá ao país representando o Papa Francisco. Eis o que disse a propósito do martírio de Dom Romero.

Cardeal Amato: “O Papa Francisco resume bem a identidade sacerdotal e pastoral de Romero, quando o chama de ‘bispo e mártir, pastor segundo o coração de Cristo, evangelizador e pai dos pobres, testemunha heroica do Reino de Deus, Reino de justiça, fraternidade e paz’. Romero era um sacerdote bom e um bispo sábio, mas sobretudo era um homem virtuoso. Amava Jesus, o adorava na Eucaristia, amava a Igreja, venerava a Virgem Maria e amava o seu povo. O seu martírio não foi uma improvisação, mas teve uma longa preparação. Jovem seminarista em Roma, pouco antes da ordenação sacerdotal escreveu em suas anotações: ‘Este ano farei a minha grande entrega a Deus! Meu Deus, ajuda-me, prepara-me. Você é tudo, e eu não sou nada, todavia, o seu amor quer que eu seja muito. Coragem! Com o seu tudo e com o meu nada faremos muito.”

Muitas vezes se fala de uma conversão de Romero mais aberto ao aspecto social de seu ministério

Cardeal Amato: “Na realidade, uma reviravolta em sua vida de pastor manso e quase tímido foi a morte, em 12 de março de 1977, de Padre Rutilio Grande, sacerdote jesuíta salvadorenho que deixou o ensino universitário para ser pároco dos campesinos, oprimidos e marginalizados. Foi este o evento que tocou o coração do arcebispo Romero, que chorou pelo sacerdote como uma mãe chora pelo filho. Ele foi a Aguilares para a missa de sufrágio, passando a noite chorando, velando e rezando pelas três vítimas inocentes, Pe. Rutilio e os dois camponeses que o acompanhavam. Os campesinos ficaram órfãos de seu bom pai. Em sua homilia o arcebispo disse: ‘a libertação que o Pe. Rutilio pregava é inspirada pela fé, uma fé que fala de vida eterna, uma fé que agora ele com o seu rosto dirigido ao céu, acompanhado pelos dois camponeses, mostra em sua totalidade, em sua perfeição: a libertação que termina com a felicidade em Deus, a libertação que surge do arrependimento do pecado, a libertação que se fundamenta em Cristo, única força salvadora”.

Parece que a partir daquele momento a sua linguagem se tornou mais explícita na defesa do povo oprimido e dos sacerdotes perseguidos, não obstante as ameaças cotidianas que recebia.

Cardeal Amato: "Na realidade é assim. Ele escreve de fato: ‘Considero um dever colocar-me em defesa da minha Igreja e ao lado do meu povo tão oprimido e perseguido’. As suas palavras não incitavam ao ódio e à vingança, mas era uma exortação de um pai aos seus filhos divididos, que eram convidados ao amor, ao perdão e à concórdia. Contemplando a beleza da natureza e o esplendor da paisagem salvadorenha, o arcebispo dizia que o céu iniciava aqui na terra. Olhava a sua querida pátria atormentada com a esperança no coração. Sonhava que um dia nas ruínas do mal iria brilhar a glória de Deus e o seu amor.”

O que o senhor diz sobre sua proximidade aos camponeses e aos pobres de seu país?

Cardeal Amato: "A sua opção pelos pobres não era ideológica, mas evangélica. A sua caridade se estendia também aos perseguidores para os quais pregava a conversão ao bem e aos quais assegurava o perdão, não obstante tudo. Era acostumado a ser misericordioso. A generosidade em doar a quem pedia era, segundo as testemunhas, munificente, total e abundante.  A quem pedia ele dava. Algumas vezes dizia que se as pessoas lhe restituíssem o dinheiro que distribuiu, ficaria milionário." (MJ)








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